Geração de energia no campo

Por Marcelo Sá
Equipe SNA

A SNA conversou com João Pínola, engenheiro mecânico formado pela FEI, e pós graduado pela USP e FGV em gestão de negócios. Com atuação em grandes empresas multinacionais no mercado de petróleo e gás, atualmente comanda duas unidades de negócio da Engie Soluções.

Em sua carreira, com mais de 17 anos de experiência, trabalhou em toda a cadeia do negócio para soluções de energia, desde a área comercial até a operacional, realizando estudos de viabilidade, assinatura de contratos e gestão nos acordos de longo prazo para operação e manutenção de grandes plantas.

Pínola explicou os objetivos para desenvolver projetos de soluções energéticas para a indústria e comércio, assim como também para o meio rural.  Todos estão alinhados com as metas globais de descarbonização e sustentabilidade do negócio. Confira a seguir:

 

SNA: Quais tipos de geração de energias sustentáveis podem ser implantadas no campo?

Atualmente temos visto a necessidade crescente de energias sustentáveis para todos os setores da economia em especial Indústrias e Comércio, mas a Agricultura também tem buscado a maior eficiência dos processos e melhor relação de custo, aliado sempre com a sustentabilidade. Os principais meios de geração que podemos salientar para estarmos alinhados com os pontos explanados acima são principalmente a biomassa, biogás e solar. No caso da biomassa, temos a utilização histórica do bagaço da cana nas usinas para a produção de álcool, açúcar e geração de energia. Já a solar e o biogás têm ganhado cada vez mais espaço. Para o biogás podemos exemplificar as comunidades de suinoculturas que utilizam dos dejetos dos suínos para produção do gás e consequentemente a geração de energia através de motogeradores.

SNA: Energia própria no meio rural tem retorno de investimento em quanto tempo?

Essa questão depende muito do tipo de solução e quais são os benefícios obtidos em termos gerais do processo. Um exemplo é a utilização dos biocombustíveis, já que o agricultor pode mitigar o custo de descarte através da utilização do substrato para geração de energia. Quando colocamos o custo de descarte na conta podemos otimizar e reduzir o retorno do investimento para uma solução de energia. De maneira geral estamos falando em um retorno de investimento de 4 a 6 anos, o que é um ótimo número já que os projetos possuem ciclo de vida superior a 20 anos.

SNA: Produtores rurais que geram a própria energia reduzem custos e ainda contribuem com a sustentabilidade do setor e do país. No entanto, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), os agricultores representam apenas 13,7% de toda a potência instalada com a fonte alternativa. Como melhorar esse percentual?

Acredito que essa tendência tem mudado nos últimos anos, já que o apelo sustentável está agregando cada vez mais valor na produção e na otimização dos processos no agronegócio. Com isso, com certeza teremos uma maior busca por soluções de energia de forma eficiente e sustentável. Antigamente também havia uma certa dificuldade para obtenção do capital e conhecimento para desenvolvimento de projetos de energia. Nesse sentido, a Engie pode ajudar os grandes consumidores de energia no agronegócio, através da atuação completa na cadeia do projeto de energia. Atuamos no estudo da melhor solução, desenvolvimento e investimento no projeto, além da gestão dos ativos em contratos de longo prazo (15 a 20 anos). Ou seja, o agricultor pode focar na atividade principal, enquanto a Engie desenvolve e investe em toda solução de energia para o cliente, garantindo performance e sustentabilidade energética.

SNA: Uma preocupação pertinente dos produtores rurais é o espaço necessário para uma instalação fotovoltaica. Isso não vai reduzir o solo para uso produtivo?

De fato, a solução solar necessita de área para instalação das placas, normalmente considera-se 2 hectares para produção de 1 MWp, sendo que o investimento necessário para implantação é de R$ 3.5 – 4.0 MM/MWp. O que temos estudado nesses últimos anos são soluções que utilizam as áreas obsoletas ou improdutivas, tais como telhados de galpões ou coberturas nos estacionamentos. Outra solução interessante, é o desenvolvimento de usinas solares flutuantes. Nesse tipo de solução utilizamos a superfície de lagos e lagoas para instalação de módulos solares nas bases flutuantes. Além de ser uma área improdutiva para a agricultura, reduzimos a evaporação da água, já que os módulos representam uma barreira física para os raios solares.

SNA: Na atualidade, dezenas de opções de alta tecnologia estão disponíveis para o uso de sistemas fotovoltaicos na agricultura, todos com excelente eficiência. Mas uma dúvida bastante comum entre produtores rurais é: a energia solar que eu produzirei na minha fazenda deverá estar ligada à rede de distribuição?

A usina não precisará necessariamente estar conectada na rede. Temos algumas soluções “off grid”, ou seja, sem conexão. Nesse caso, o fornecimento da energia fotovoltaica ocorre durante o dia e pode ser armazenada em baterias. Caso isso não ocorra, permanece a necessidade da utilização de geradores. Porém cabe salientar que com a utilização do sistema fotovoltaico haverá uma grande redução do consumo de combustível, auxiliando, assim, na descarbonização dos processos. Em nossa engenharia temos alguns estudos híbridos, considerando a geração de energia através de biogás e usina solar. Essa solução é bastante interessante e flexível, já que otimizamos o perfil de geração de acordo com necessidade e demanda do cliente.

SNA: Com o sistema instalado, a distribuidora de energia irá reembolsar pela geração excedente?

Sim. Caso o sistema esteja conectado na rede existente há a possibilidade de realização da exportação e venda da energia excedente. Obviamente, é necessário o estudo em conjunto com a concessionária local para avaliação das condições físicas do sistema elétrico da região. Em alguns casos existe a necessidade da realização do reforço da linha e adequações no sistema das subestações para exportação de energia.

SNA: O painel solar é um produto de alta qualidade desenvolvido para durar por muitos anos. Exposto a várias intempéries variadas, como sol, chuva, granizo ou neve, se destaca pela sua robustez e resistência a ciclos adversos da temperatura. Qual o tempo de manutenção depois de instalada e o custo? Tem garantias do fabricante?

Realmente tivemos grandes avanços na qualidade dos sistemas fotovoltaicos. O mercado possui grande variedade, com preços cada vez mais competitivos. Referente às manutenções temos rotinas diárias, semanais e mensais; elas vão desde verificações simples no sistema de comando de níveis de tensão, corrente e capacidade de produção, até as manutenções mais complexas que devem ser realizadas por especialistas (termografia, preventiva elétrica em painéis). Todas as manutenções são realizadas de acordo com os manuais dos fabricantes, e as garantias para quem segue os conceitos dos manuais são de 5 a 10 anos. O custo da manutenção varia de acordo com as características de cada região (considerando sujidade, poeira, chuva, vento), mas podemos dizer que fica entre 1,5% e 3% aa do Capex (“capital expenditure”).

SNA: Energia eólica ou solar, qual a melhor opção no campo?

A definição da melhor solução também depende muito dos aspectos locais, é necessário avaliar a intensidade dos ventos e a irradiação solar. Mas também relevo, clima, temperatura, facilidade de acesso entre outras. No Brasil, podemos realizar ambas as soluções, possuímos regiões com boa intensidade/constância de ventos, assim como regiões com excelente irradiação. Cabe ao agricultor procurar por empresas que possuam o conhecimento e capacidade de realização de estudo para definição da melhor solução.

 

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