Geopolítica e o agronegócio

Imagem de pch.vector no Freepik

 

Uma preocupação antiga

 A SNA tem publicado, nos últimos meses, matérias e entrevistas que atestam a necessidade de o pragmatismo guiar a atuação de gestores, públicos e privados, no tocante às parcerias comerciais brasileiras. Isso porque, em anos recentes, chefes de poderes, parlamentares e até diplomatas pecaram por arriscar bons acordos em nome de decisões ou falas ideológicas que pouco acrescentaram ao país, além de causar incômodo a aliados estratégicos que compram boa parte da produção agropecuária nacional.

A situação do Oriente Médio é particularmente ilustrativa, pois a região concentra nações com alto grau de divergências geopolíticas entre si, mas têm em comum uma consolidada parceria com o Brasil, consumindo muitas toneladas dos gêneros alimentícios, os mais diversos. Esses países também são especialmente exigentes nos protocolos sanitários, pois suas religiões determinam que os animais sejam abatidos e preparados para o transporte preconizando metodologia bastante específica.

Em décadas recentes, isso se mostrou rentável para o mercado brasileiro, que passou a planejar plantas inteiras para melhor atender aos clientes muçulmanos, grandes consumidores das carnes nacionais. Em 2019, um anúncio de que a embaixada mudaria de Tel Aviv para Jerusalém causou forte abalo nessa boa relação, uma vez que a cidade tem seu status contestado por adversários políticos de Israel. A solução foi voltar atrás para não prorrogar o mal-estar.

Em 2023, com a Guerra da Ucrânia em curso, o governo federal, já com novos titulares, deu declarações não adequadas sobre o conflito, que ocorre numa região de onde vêm muitos dos fertilizantes que o Brasil importa. Isso também exigiu uma retratação formal, ainda que tardia.

A complexidade de novos e bons acordos

Esses episódios mostram que os bons acordos são difíceis de serem obtidos, e geralmente se dão através de negociações que passam longe do calor da arena política. Há pouco tempo, o Brasil finalmente se tornou o primeiro país a ter o direito de exportar carne de frango para Israel. Na esteira da autorização, o estado do Paraná se apresenta como protagonista na produção e na exportação da nova parceria.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (MAPA), a abertura do mercado israelense ao frango brasileiro é anunciada como um atestado do nível de credibilidade e confiança do sistema agropecuário brasileiro. Israel é um dos maiores consumidores mundiais per capita de carne de frango e tem uma grande demanda por cortes como peito e shawarma (fatias finas para consumo assado).

Como os israelenses impõem condições rígidas na observância sanitária de produção e preparação do produto, além de protocolos de natureza religiosa, o Brasil expande, mais uma vez, os limites geográficos de suas exportações, o que valida, perante os atuais e futuros parceiros, o grau de confiabilidade dos gêneros alimentícios nacionais.

Isso inclui a vigilância sobre a gripe aviária que, apesar der ter tido focos de ocorrência no território recentemente, está sob controle e mantém o país como baliza em termos de garantia de procedência diante de mais de 150 compradores mundo afora. Sendo a carne de frango a proteína animal mais consumida em Israel, com perspectiva de crescimento, o horizonte é bastante promissor.

Tensões e impactos

Desde o último dia 7 de outubro, quando o grupo terrorista Hamas atacou Israel, que entrou em estado de guerra,  até o momento, nada indica que o conflito comprometerá as parcerias brasileiras, especialmente ligadas ao agronegócio, com os países da região, muitos dos quais, apesar de rivais, atuam nos bastidores de forma pragmática a até tentam mediar um possível acordo, como o Catar.

A lição que fica é de preservar a tradição diplomática brasileira, que historicamente se opõe a ações de violência em nome de pretextos étnicos, políticos e religiosos. Especialmente num momento de expansão do diálogo com novos parceiros, os gestores precisam saber a quem ouvir, no sentido de preservar os interesses nacionais em crises como essa, num contexto que desafia estadistas há décadas. Que prevaleça a moderação das figuras públicas e o bom senso dos nossos representantes no exterior.

 

Por, Marcelo Sá, jornalista/Editor
Equipe SNA

 

 

 

 

 

 

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp