As geadas mais fortes, registradas entre os dias 10 e 13 de junho, atingiram com maior abrangência o Estado do Paraná, causando perdas principalmente nas lavouras de milho segunda safra (a safrinha), além de algumas regiões de Mato Grosso do Sul. O fenômeno também prejudicou lavouras de café e hortaliças.
Segundo o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Hélio Sirimarco, ainda é difícil estimar os prejuízos causados pelas geadas. “Ainda assim, segundo previsões de analistas, estas perdas deverão ser pequenas, entre 10% e 20% das áreas de milho que foram atingidas”, observa ele, acrescentando que as perdas mais severas ocorreram com o clima mais seco.
“Há especulações de quebra na produção acima das 500 mil toneladas de milho. A qualidade do cereal também poderá ser afetada com as chuvas, principalmente a do grão cultivado tardiamente”, alerta.
O vice-presidente da SNA acredita que a entrada da safrinha acomodará as cotações em níveis mais baixos, o que deve ocasionar uma boa oportunidade de compra. “Mas esta janela poderá ser pequena, porque grande parte dos produtores deverá colher e armazenar o produto. Com isto, teremos uma ‘queda de braço’, pois os agricultores irão vender o milho pontualmente; já os compradores terão de tentar estimular as vendas com preços mais altos.”
MATO GROSSO
Pesquisador da área de Fitotecnia de Milho da Fundação MS, André Luís Faleiros Lourenção afirma que as regiões do Cone-Sul e Sul do Mato Grosso do Sul foram as mais atingidas pelas geadas no Estado. Segundo ele, em Maracaju, por exemplo, ocorreram problemas pontuais em áreas de baixada; já nos municípios de Antônio João, Aral Moreira, Dourados, Ponta Porã e Rio Brilhante, as geadas foram mais severas.
“Não temos ainda como avaliar os estragos. É preciso mais alguns dias para que a situação seja analisada nos locais onde a geada foi mais forte”, pondera o pesquisador. “É preciso levar em consideração que, neste ano, houve atraso do plantio, por conta do excesso de chuvas e, por isto, há muitas lavouras na fase de enchimento de grão. Neste estágio, a geada pode causar perdas na produtividade.”
No último dia 13 de junho, a estações agrometeorológicas de Dourados e Rio Brilhante, que fazem parte da Embrapa Agropecuária Oeste (MS), registraram ocorrência de geada de média intensidade, no primeiro município sul-mato-grossense, e de forte intensidade, no segundo.
Na avaliação do pesquisador da unidade Carlos Ricardo Fietz, as lavouras de milho, cujos grãos ainda não estão totalmente formados, são as mais suscetíveis à geada. “O agricultor que semeou o milho tardiamente, devido às chuvas, poderão ter suas plantações comprometidas”, alerta.
Fietz acredita, no entanto, que o frio intenso já está acabando: “A massa de ar polar deve dissipar-se gradativamente, ao longo dos próximos dias, com previsão de temperaturas mínimas de 15ºC, a partir do final de semana”.
PARANÁ
De acordo com Francisco Carlos Simioni, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) do Estado do Paraná, as geadas registradas entre os dias 10 e 13 de junho, no Estado, assustaram os produtores de milho, café e hortaliças.
As geadas foram de intensidade fraca a forte em diferentes regiões do Estado. “No Centro-Sul, foram de média a forte intensidade e as perdas contabilizadas se restringem mais às hortaliças, principalmente as folhosas”, relata Simioni.
Na região metropolitana de Curitiba, onde são cultivados 37 mil hectares de hortaliças, folhosas e legumes, o tempo mais frio prejudicou as lavouras de abobrinha, alface, brócolis, chuchu, couve-flor, morango, entre outras. Um levantamento feito com base em informações da Central de Abastecimento do Paraná (Ceasa) indica que, na capital do Estado, dez produtos tiveram aumento expressivo de preços no fim de semana, com alta de até 33%, por causa das geadas.
“Como a produção de hortaliças é de ciclo curto, o restabelecimento do fornecimento ocorre entre 70 e 90 dias de forma plena, caso não tenhamos novos eventos climáticos que interfiram na produtividade e na produção”, comenta o chefe do Deral/Seab.
Segundo ele, outro fator que deve ser considerado é que as hortaliças, plantadas em grande parte das regiões paranaenses, são cultivadas pelo sistema de plasticultura e já são protegidas contra o frio intenso, inibindo os efeitos das geadas, como as que ocorreram nos últimos dias.
PROBLEMA COM O MILHO
Simioni estima que, entre os grãos, o milho segunda safra terá maiores perdas de qualidade e de produtividade no Paraná. Ele explica que, em razão do fenômeno El Niño, o verão foi muito chuvoso e impediu que o plantio de soja, principalmente, fosse feito de maneira escalonada, de forma a evitar concentração de plantio e depois na colheita.
Esta situação ocorreu com mais intensidade nas regiões Norte e Noroeste do Estado e o resultado foi a concentração da colheita da soja no final de fevereiro, devido às chuvas intensas. “Como consequência, foi registrado um atraso no plantio do milho segunda safra, nestas mesmas regiões”, informa.
Já no Sudoeste do Estado, o milho segunda safra foi atingido com maior intensidade por geadas fortes e intensas, mas nesta região estão apenas 4% da área plantada com esta cultura. A grande área de milho safrinha está concentrada nas regiões Oeste (Campos Mourão, Cascavel e Toledo), com 52% da área total, estimada em 2,2 milhões por hectare; e Norte, com 36%. Ao Norte do Paraná, “as geadas também foram de intensidade moderada a forte”, destaca Simioni.
CAFÉ
O chefe do Deral/Seab relata que o café também sofreu com o tempo mais frio, mas segundo levantamentos iniciais, as geadas foram de fraca intensidade e atingiram mais os ponteiros das plantas. “Isto não é bom, mas os prejuízos não são de grande monta, como os ocorridos em 2013”, pondera.
No início desta semana, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar) voltaram a alertar para previsão de geadas no Estado. Com o objetivo de minimizar o problema, o Iapar fez algumas recomendações: para os cafeeiros recém-plantados no campo, com até seis meses de idade, o ideal é manter as mudas enterradas e proteger os viveiros com camadas de cobertura plástica e/ou aquecimento, retirando a proteção logo que a massa de ar frio se afastar e cessar o risco de geada. Para os cafeeiros com idade entre seis meses e dois anos, o Instituto indicou o “chegamento de terra” no tronco até o primeiro par de folhas, proteção que deve ser mantida até início de setembro. Depois, a terra deve ser retirada com as mãos.
Simioni observa que as geadas vieram de forma mais agressiva neste ano, “assustou e acendeu a luz de alerta para a necessidade de prevenções, que os produtores devem tomar, para mitigar riscos e perdas”. Neste sentido, ele recomenda: seguir rigorosamente o calendário/zoneamento agrícola; evitar a concentração do plantio em apenas uma época, sempre que possível; fazer seguro da produção por meio do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e/ou seguro rural; observar as recomendações da pesquisa e da assistência técnica; e incluir no planejamento da propriedade uma meta de rotação de culturas.
Por equipe SNA/SP
