Pecuaristas da cadeia leiteira, que investem em animais geneticamente superiores, têm conseguido elevar a produção e a qualidade do leite sem a necessidade de aumentar as áreas de pastagens, nem os gastos com sanidade animal. Os ganhos observados pela Embrapa Gado de Leite (MG), nos últimos 13 anos, comprovam: quem investiu em melhoramento genético de vacas da raça Girolando, quase dobrou a produtividade do gado (45,9%).
Em 2000, a produção era de 3,7 quilos em até 305 dias no ano. Mais de uma década depois o número saltou para quase 5,4 mil quilos no mesmo período, considerando as três primeiras lactações. Outros avanços de desempenho foram registrados no aumento dos dias do período de lactação: de 240 dias em 1989, para 283 em 2013, de acordo com a Embrapa Gado de Leite. A estatal tem realizado este trabalho de melhoramento genético em parceira com a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando.
De acordo com o órgão, como reflexo desta evolução genética, as vendas de sêmen de touros da raça subiram mais de 150%, entre 2009 e 2013. Hoje, a Girolando é a que mais cresce na produção de sêmen no País, chegando a ultrapassar a marca das 774 mil doses produzidas, somente em 2014.
Responsável por quase 80% do leite produzido no Brasil é natural que exista afinidade do Girolando com o agronegócio do leite, desde o produtor rural, passando pela indústria, até chegar ao mercado consumidor. Uma das principais características destes animais é sua grande capacidade de adaptação a diferentes tipos de manejo e clima. Em todo o território nacional, destaca-se a raça, de Norte a Sul. A região Sudeste, especialmente Minas Gerais, que possui a maior produção nacional de leite.
GENÉTICA
Todas as avaliações genéticas dos touros e vacas, que participam do Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG), são processadas pela Embrapa Gado de Leite, que vem desenvolvendo o sequenciamento do genoma deste animal para implantação da seleção genômica.
“O conhecimento das informações sobre o genótipo de animais tem grande importância estratégica e elevado valor econômico, pois permite identificar os animais de maior potencial de produção de leite, gordura e de proteína, além de possibilitar a identificação de portadores de alelos para doenças hereditárias”, explica Marcos Vinícius Gualberto Barbosa da Silva, pesquisador da estatal e coordenador geral do PMGG.
“De posse destas informações, o produtor pode orientar os acasalamentos, a escolha de sêmen e, assim, aplicar a seleção assistida por marcadores moleculares para o melhoramento genético da raça”, relata Silva, que coordena as pesquisas sobre seleção genômica de diversas raças leiteiras do Brasil e sobre o sequenciamento do genoma de raças zebuínas e de Girolando.
VERSATILIDADE
Dentre as diversas características de funcionalidade desta raça bovina, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando destaca que as melhores são a produtividade, rusticidade, precocidade, longevidade e fertilidade, além da alta capacidade de adaptação a diferentes tipos de manejo e clima.
Produtoras de leite por excelência, as fêmeas carregam características fisiológicas e morfológicas perfeitas para a produção nos trópicos, como a capacidade e suporte de úbere, tamanho de tetas, fatores intrínsecos à lactação, pigmentação, capacidade termorreguladora, aprumos e pés fortes, conversão alimentar, eficiência reprodutiva, entre outras. “Elas têm um desempenho muito satisfatório economicamente”, garante a Associação.
Por sua adaptabilidade e capacidade de aproveitamento de pastagens grosseiras, resistência a doenças e parasitas, velocidade de ganho de peso, entre outras características, os machos de girolando conseguem também um desempenho comparável com qualquer cruzamento industrial específico para carne, quando colocados em situações idênticas de criação.
Uma significativa parte destes machos, por outro lado, é destinada à reprodução devido ao alto índice de seleção dos rebanhos e valor genético, fruto do trabalho realizado pelo Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando.
FERTILIDADE
Um dos pontos fortes deste bovino é exatamente sua eficiência reprodutiva, pois se adapta muito rápido às condições adversas. A conformação anatômica do aparelho reprodutivo das matrizes é apontada, pela associação de criadores, “como perfeita, corrigindo até os problemas que são notados nas raças puras”. “Tanto novilhas como vacas possuem baixos índices de problemas de parto e retenção de placenta.”
Os programas de inseminação artificial — Fertilização In Vitro (FIV ) e Transferência de Embriões (TE) — têm alcançado pleno sucesso. A entidade ainda explica que, nos machos da raça girolando, a temperatura do corpo está intimamente ligada à regulação da temperatura da bolsa escrotal (descida e subida) proporcionando, assim, maior produção de espermatozoides viáveis.
SEQUENCIAMENTO DO GENOMA
Em 2015, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fiocruz-Minas conseguiram concluir o sequenciamento do genoma da raça bovina Gir Leiteiro. O resultado científico tem importância histórica por ser o primeiro sequenciamento do genoma de um mamífero feito por uma equipe 100% brasileira.
De acordo com a estatal, este avanço também traz perspectivas muito otimistas para o setor produtivo, pois completa a outra metade do “quebra-cabeça” que forma a genética da Girolando. Este híbrido das raças Gir e Holandesa é responsável por mais de 80% do leite produzido no Brasil.
A cadeia leiteira detém o maior faturamento do agronegócio nacional e, por isto, é a que mais gera emprego, principalmente nos municípios do interior do País, pois apenas 50 deles não produzem leite em território nacional.
Agora, com as informações sobre o DN A da raça Gir organizadas, o trabalho de sequenciamento do genoma do Girolando será simplificado.
COOPERAÇÃO TÉCNICA
Para incrementar o setor de melhoramento genético e registro genealógico no País e ainda trocar experiências, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando vem firmando parcerias com outras nações. A mais recente foi fechada com a Guatemala, o segundo país da América Latina. A Bolívia, por meio da Associação dos Criadores de Zebu (Asocebu Bolívia), foi o primeiro a selar o mesmo acordo, que ainda deve se estender a outras localidades fora do Brasil.
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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 714/2016