Futuro da cadeia leiteira no Brasil é incerto, aponta diretor da SNA

“Diante da crise econômica, que inibe o consumo por parte das famílias, a atividade leiteira se encontra em uma encruzilhada, de futuro incerto", alerta o diretor da SNA Alberto Figueiredo. Foto: Divulgação
“Diante da crise econômica, que inibe o consumo por parte das famílias, a atividade leiteira se encontra em uma encruzilhada, de futuro incerto”, alerta o diretor da SNA Alberto Figueiredo. Foto: Divulgação

O avanço tecnológico proporcionou à atividade leiteira grandes avanços, de acordo com estudo da Embrapa Gado de Leite, que aponta crescimento de 185% nos últimos 40 anos. Apesar do cenário positivo, este desenvolvimento não veio acompanhado por um avanço nas práticas de gestão da propriedade, indica a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura e representante da SNA na Câmara Setorial do Leite e Derivados, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Alberto Figueiredo concorda e aponta os custos com a produção no campo como o maior vilão para o pecuarista de leite no Brasil.

“Desde julho de 2015, conforme o boletim ‘Conjuntura do Setor Lácteo’, publicado pela Embrapa (CNPGL – Intelactus), os custos de dois dos principais insumos utilizados na alimentação das vacas leiteiras – o milho e a soja – experimentaram aumentos significativamente superiores ao do valor de venda do leite pelos produtores”, destaca.

Para Figueiredo, “tal situação, que perdura até o momento, tem provocado não só redução das margens de lucro dos produtores quanto, em muitos casos, prejuízos reais”. Ele ainda cita outros dados publicados no mesmo boletim da Embrapa: o volume de leite produzido, que vinha passando por uma escala crescente nas últimas décadas, desacelerou a partir do final de 2014, recuando em 2,5% no período.

 

RECUPERAÇÃO EM 5 ANOS

“Diante da crise econômica, que inibe o consumo por parte das famílias, a atividade leiteira se encontra em uma encruzilhada, de futuro incerto. Muitos rebanhos leiteiros, às vezes formados durante décadas, estão sendo encaminhados total ou parcialmente para os matadouros, provocando uma lacuna de produção que, para se recuperar, demorará no mínimo cinco anos, a partir de um horizonte mais promissor.”

Diante desta realidade, o diretor da SNA acredita que devem permanecer na atividade os pequenos produtores, que utilizam a mão de obra da própria família no processo de produção; aqueles que têm o leite como subproduto de atividade mista, com reduzida utilização de insumos; e eventualmente aqueles que, utilizando padrões tecnológicos adequados, conseguem, por meio da produtividade, reduzir custos de produção.

“A mensuração desta produtividade, no entanto, depende de sistemas integrados –

zootécnicos e financeiros –, que possam permitir o gerenciamento diário da atividade, chegando ao requinte da individualização das matrizes produtivas, de modo a identificar as eventuais responsáveis pela deterioração desses índices”, diz Figueiredo.

Segundo ele, como “são raríssimas as propriedades que dispõem de sistemas gerenciais adequados, muitas só se dão conta dos prejuízos após experimentarem perdas patrimoniais irreparáveis”. “Conclui-se, assim, que se já é difícil administrar um negócio que se conhece, na treva provocada pela ausência de controles e interpretações dos dados zootécnicos e financeiros, só milagres podem permitir a salvação.”

 

PREÇOS

O preço do litro de leite ao produtor subiu 19% entre fevereiro de 2015 e o mês passado. Levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que, para março, a expectativa é de que os valores continuem em alta, ainda apoiados na oferta relativamente pequena. De acordo com o Cepea, a menor oferta ainda pode ser agravada pelo início da entressafra que, tradicionalmente, começa no final do primeiro trimestre.

Analisando o momento, Figueiredo comenta que, embora o índice de preço recebido pelo leite tenha obtido um incremento de aproximadamente 30%, entre janeiro de 2012 e janeiro de 2016, o índice do custo de produção subiu, no mesmo período, 55%, fazendo com que o índice de relação de troca recuasse 18%.

“A redução de oferta, que normalmente provoca recuperação do valor pago pelo leite, encontrará na economia com índice crescente de desempregados e pessoas com expressivas reduções de renda, um limitador para a sustentabilidade de aumentos reais de remuneração, pela dificuldade de repasse.”

Para o diretor da SNA, a combinação destes fatores adversos tende a piorar diante de  uma cadeia produtiva desorganizada, que vai desde os produtores até as padarias, com quase todos os segmentos (a exceção do sistema varejista) sem capacidade de negociação de margens.

“Se isto não mudar, logo estaremos convivendo com um cenário de aposentadoria compulsória de muitos produtores, de diminuição drástica do número de empresas responsáveis pelo transporte, beneficiamento e industrialização do leite e, por consequência, a diminuição significativa de mais vagas de trabalho para cidadãos brasileiros.”

 

PROPOSTA DA SNA

Diante deste quadro grave, Figueiredo, como representante da SNA na Câmara Setorial do Leite e Derivados/Mapa apresentará na próxima reunião de grupo, no dia 3 de maio deste ano, uma proposta de ação conjunta de instituições públicas e privadas, visando ao aprofundamento dos estudos sobre custos de produção de leite, nos diversos sistemas de produção adotados. “Pretendemos produzir orientações às entidades públicas e privadas, encarregadas de assessoramento aos produtores, de forma a reduzir os riscos entre os assistidos.”

 

CURSOS DE EXTENSÃO

Para quem desejar aprimorar os conhecimentos sobre a pecuária leiteira, a Sociedade Nacional de Agricultura oferece cursos de extensão (livres) ministrados na Escola Wencesláo Bello, no bairro da Penha, Rio de Janeiro. São eles: Bovinocultura de Leite, Manejo Reprodutivo de Bovinos e Nutrição de Bovinos. Para mais informações, acesse www.sna.agr.br/extensao.

 

Por equipe SNA/RJ

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