Fusão de gigantes quer inovar no agro e atender mercados complexos

A Bunge Limited anunciou uma fusão com a Viterra Limited e outras afiliadas da Glencore PLC, Canada Pension Plan Investment Board e British Columbia Investment Management Corporation. A fusão resultará na formação de uma empresa global de agronegócio inovadora, capaz de atender às necessidades dos mercados complexos e oferecer suporte aos agricultores e clientes finais de forma mais eficiente.

Rede global

A nova empresa se beneficiará de uma rede global mais robusta, maior diversificação geográfica e sazonal, bem como de recursos e talentos combinados para impulsionar a inovação e atender às demandas dos clientes. O objetivo é gerar valor para todas as partes envolvidas nessa transação.

Segundo os termos, os acionistas da Viterra receberão cerca de 65,6 milhões de ações da Bunge, no valor de aproximadamente US$6,2 bilhões, e US$2,0 bilhões em dinheiro. A Bunge também assumirá a dívida da Viterra, no valor de US$9,8 bilhões, associada a estoques líquidos de aproximadamente US$9,0 bilhões.

Compra de ações

Além disso, a Bunge planeja recomprar US$2,0 bilhões em suas próprias ações para aumentar o Lucro por Ação ajustado. Os acionistas da Viterra terão uma participação de 30% na empresa combinada, que aumentará para cerca de 33% após a conclusão do Plano de Recompra.

“A combinação da Bunge e da Viterra acelera, significativamente, a estratégia da Bunge com base em nosso propósito fundamental de conectar agricultores a consumidores para fornecer alimentos, ingredientes para nutrição animal e combustível, essenciais para o mundo. Nossos ativos altamente complementares criarão uma rede que conecta as maiores regiões de produção do mundo a áreas de consumo de crescimento mais rápido, aprimorando o equilíbrio geográfico e a adaptabilidade de nossas cadeias de valor globais e beneficiando agricultores e clientes finais”, disse Greg Heckman, CEO da Bunge.

Impacto

A fusão de US$ 34 bilhões anunciada pela Bunge e pela Viterra ampliará o domínio no mercado do maior exportador de grãos e processador de trigo do Brasil, aumentando a vantagem sobre os agricultores em algumas regiões, segundo especialistas.

Já considerada a maior exportadora de milho e soja do Brasil, a Bunge agregará as operações da Viterra, que ficou em terceiro lugar em milho e em sétimo em soja no ano passado, segundo dados da transportadora Cargonave.

A operação combinada poderia originar até o dobro do volume da segunda no ranking, a Cargill, e provavelmente responder por menos de 12% da originação da produção brasileira, disse um executivo de uma grande trading no Brasil.

O impacto pode ser mais sentido na fronteira agrícola do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde a rápida expansão resultou em menos comerciantes em algumas áreas.

Capacidade de armazenamento

A falta de capacidade de armazenamento em partes do estado de Mato Grosso também pode deixar alguns agricultores com menos vantagem em um mercado mais concentrado nas compras de grãos.

A associação de produtores Aprosoja não respondeu aos pedidos de comentários da NovaCana.

Indústria de moagem

O escrutínio antitruste pode ser mais provável na indústria brasileira de moagem de trigo, onde a Bunge e a Viterra juntas detêm cerca de 30% do mercado de farinha, disse uma fonte do setor.

Bunge e M Dias Branco são os principais produtores de farinha de trigo do Brasil, seguidos por J. Macedo e Viterra, disse a fonte.

Parece haver pouca sobreposição na indústria brasileira de esmagamento de oleaginosas, de acordo com dados da associação da indústria Abiove, que lista apenas uma planta de esmagamento de soja pertencente a uma empresa de propriedade da Viterra, no estado de Mato Grosso do Sul.

Lucro de US$4 bilhões

A Bunge disse que ganhos anuais sustentados de US$ 4 bilhões são “uma meta muito razoável” para a empresa após a fusão com a Viterra.

O presidente-executivo Greg Heckman e o diretor financeiro John Neppl, em entrevista à Reuters, disseram que as duas companhias têm negócios “altamente complementares”.

Ainda segundo eles, a fusão tornaria as cadeias globais de suprimentos de alimentos, rações e biocombustíveis mais resilientes a interrupções causadas por mudanças climáticas e guerras.

A expectativa é que a fusão gere, dentro de três anos, cerca de US$ 250 milhões anuais com sinergias operacionais brutas pré-impostos.

Reações

A Fitch Ratings disse que sua classificação BBB para a Bunge pode ser elevada para BBB+ se o negócio for fechado conforme previsto.

“Os ativos da Bunge e da Viterra são complementares, aumentando a escala e a diversificação entre geografias e commodities com um mix de negócios mais equilibrado entre originação e processamento”, disse o diretor da agência, John Chu.

Por sua vez, a Consumer Federation of America disse que o acordo reduziria a concorrência pelas safras dos agricultores e consolidaria o processamento de oleaginosas usadas para fazer alimentos à base de produtos agrícolas, bem como biocombustíveis, em um momento em que o governo Biden está tentando promover a concorrência na economia.

“A maior concentração parece prejudicar os consumidores e as empresas, como fabricantes de alimentos à base de plantas, que dependem dessas commodities”, disse o diretor de política alimentar da federação, Thomas Gremillion.

O Departamento de Justiça dos EUA e os reguladores antitruste no Canadá, Argentina e Brasil não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

O maior produtor mundial de óleos vegetais também firmou parcerias com a petroleira Chevron e a gigante de sementes e produtos químicos Bayer para perseguir a crescente demanda por matérias-primas de combustíveis renováveis.

Na Ucrânia, maior produtor mundial de girassol e maior fornecedor de óleo de girassol, uma combinação Bunge-Viterra teria três fábricas de processamento de oleaginosas no sul e no leste do país, em Kharkiv, Dnipro e Mykolaiv.

Fontes: Agrolink e NovaCana

 

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