Frigoríficos buscam saídas para reduzir alavancagem

Nos maiores frigoríficos do país, a ordem é desalavancar. A safra de balanços concluída na última semana mostrou que JBS, BRF, Marfrig e Minerva, todas listadas na B3, apresentaram índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda nos últimos doze meses) superior a quatro vezes, nível elevado para um negócio de commodities. Para levar o endividamento a patamares mais confortáveis, os frigoríficos terão, com exceção da Minerva, de recorrer a vendas de ativos ou de participações em controladas.

Historicamente reconhecida pela disciplina financeira, a BRF é o caso mais emblemático. Desde que foi criada em 2009, a partir da incorporação da Sadia pela Perdigão, a empresa nunca esteve tão alavancada. Em 31 de junho, a dívida líquida da BRF era 4,9 vezes maior que o Ebitda, o que levantou dúvidas sobre a manutenção do grau de investimento conferido à empresa pelas agências Standard & Poor’s (S&P) e Fitch.

Em razão do desempenho aquém do esperado no segundo trimestre, a S&P colocou o rating da BRF em observação para possível rebaixamento. O alento, disse uma fonte próxima à companhia, é que a agência sinalizou que reduzirá a nota de crédito em apenas um nível, de “BBB” para “BBB -“, o que ainda manteria o grau de investimento.

Para começar a reverter a trajetória de deterioração do índice de alavancagem, a BRF alienou, na semana passada, grande parte das ações próprias que detinha em tesouraria, obtendo cerca de R$ 500 milhões. Na prática, a companhia se desfez dos papéis a preços mais baixos do que comprou.

Na sexta-feira, as ações da BRF fecharam a R$ 40,94, ao que passo que as ações foram compradas acima de R$ 50,00. Para tentar contornar a perda, a BRF fez derivativos dos próprios papéis e ganhará com a valorização deles.

Mas essa não é a única medida. A BRF também avalia a venda de ativos “não estratégicos”. Em teleconferência, o presidente Pedro Faria citou a possível venda de ativos florestais e imóveis. Ele não revelou o valor potencial, mesmo porque, argumentou, a venda dos ativos é apenas um “componente adicional” para reforçar o compromisso da companhia de reduzir seu índice de alavancagem a 2,5 vezes até o fim de 2018.

Em meio às turbulências após a delação de seus controladores, a JBS deflagrou o plano mais agressivo do setor para reduzir o endividamento. Em julho, a empresa embolsou cerca de R$ 1 bilhão pela venda dos ativos no Mercosul para a Minerva.

Além disso, a JBS pretende obter R$ 6 bilhões com a venda de ativos. Aos poucos, o plano está evoluindo, e a companhia já acertou a venda de sua participação na Vigor, por R$ 780 milhões, à mexicana Lala. A expectativa é que a venda da Moy Park, que pode render um bilhão de libras (o equivalente a R$ 4 bilhões), tenha um desfecho até o fim de setembro, apurou o Valor.

A JBS também é beneficiada pelo momento favorável dos negócios nos EUA, que devem reportar margem recorde no terceiro trimestre, contribuindo para a geração de caixa e a redução do endividamento. Também por isso, a empresa espera reduzir a alavancagem para 3,5 vezes já neste ano, e não só em 2018, como foi acordado com os bancos.

Afora isso, a JBS também conta com a melhora da Seara, que sofreu com a disparada do milho em 2016, o que teve reflexo sobre o Ebitda e, consequentemente, sobre a alavancagem. Líder em carne de frango, a BRF também deverá se beneficiar com a queda dos preços do cereal no país.

Na Marfrig, segunda maior empresa de carne bovina no Brasil, a redução da alavancagem deve vir com os recursos do IPO da subsidiária americana Keystone nos EUA. A intenção da Marfrig, que quer atingir uma alavancagem de 2,5 vezes até o fim de 2018, é fazer o IPO ainda neste ano, ressaltou Eduardo Miron, vice-presidente de finanças e relações com investidores da empresa. Para o BTG Pactual, o IPO da Keystone é “mandatório” para a redução da alavancagem da Marfrig.

Entre os frigoríficos, a Minerva é a única que não está vendendo ativos ou participações. A empresa aposta na força dos ativos para gerar caixa, e nas sinergias que serão obtidas nos frigoríficos comprados da JBS. Ao Valor, o diretor de finanças da Minerva, Edison Ticle, afirmou que as estimativas iniciais de sinergias feitas pela empresa foram “bem conservadoras”. Ele não estipula metas, mas analistas apontam que a Minerva pode atingir uma alavancagem de três vezes ao longo do próximo ano.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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