Frete pode tirar US$ 1.75 bilhões das exportações de milho

Ao encarecer os fretes rodoviários, o tabelamento adotado pelo governo federal pode fazer o Brasil perder até US$ 1.75 bilhão de receita com exportações de milho neste ano. Esse cálculo, feito a partir do preço médio do milho exportado no mês passado, considera uma redução expressiva do volume das exportações do cereal.

Segundo analistas e executivos do setor, o aumento dos fretes pode inviabilizar parte das exportações do cereal do Centro-Oeste, principal região produtora do país.

Na avaliação do diretor-executivo de oleaginosas da Louis Dreyfus Company (LDC), Luis Barbieri, as exportações de milho podem ficar em 20 milhões de toneladas este ano, bem abaixo das 31 milhões de toneladas vendidas ao exterior em 2017 e inferior às 30 milhões de toneladas estimadas inicialmente para este ano.

“O transporte do milho de Mato Grosso já fica mais caro que o próprio milho em muitos momentos do ano”, disse Ana Luiza Lodi, analista de mercado da FCStone.

Segundo boletim divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a movimentação das cargas em direção aos portos ficou aquém do que se imaginava em julho. Os “line ups” (filas de espera de navios) para julho indicavam um volume de mais de dois milhões de toneladas e, no entanto, o realizado foi de 1.1 milhão de toneladas.

O aumento do frete está diretamente relacionado ao estabelecimento da tabela de fretes mínimos. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), a tabela gerou aumento próximo a US$ 2.4 bilhões nos custos logísticos para exportação de grãos.

No relatório, a Conab apontou que a alta do custo com frete tem afetado a dinâmica das tradings e tem parado as negociações em Mato Grosso. Diante disso, a estatal estimou que as exportações podem ser reduzidas de 30 milhões de toneladas para 27 milhões de toneladas neste ano.

Segundo Lodi, a tabela de fretes rodoviários encareceu o transporte de milho do Mato Grosso até os portos, tornando mais viável a exportação do cereal produzido ao Sul do país. “O problema é que não há disponibilidade do cereal da região. O milho de rotas mais curtas fica mais atrativo, mas há pouco excedente para exportação nessas localidades”, disse a analista da FCStone.

Cálculos do Grupo de Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log) mostram que a média do frete para o transporte de grãos entre Sorriso (MT) e Santos (SP), praticado em julho, ficou em R$ 325,41, apenas 5% maior que o de maio, antes da tabela, mas 20,5% superior ao do mesmo mês do ano passado.

“O preço praticado no último mês ficou 14,1% abaixo do valor mínimo estabelecido na tabela do frete. Há negócios saindo da tabela, mas há o risco de multas. Para soja, até arrisca-se mais, mas para o milho não está saindo quase nada”, afirmou Lodi.

A lei que impôs o tabelamento dos fretes teve a sanção presidencial publicada ontem no Diário Oficial. Em reação, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ingressou com um novo pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender o tabelamento.

A demanda da CNA é que a tabela seja suspensa antes mesmo da audiência pública marcada para o dia 27 de agosto no STF, quando será discutido se é legal ou não o governo determinar o preço do frete.

 

Fonte: Valor Econômico

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