Frete para grãos deve subir com demanda represada, há necessidade de liberar silos

Os custos para o escoamento da segunda safra de milho do Brasil, em fase inicial de colheita, tendem a subir no momento em que agricultores e tradings ficarem mais ativos nas contratações, uma vez que a demanda por transporte represada deve superar a oferta de caminhões, disseram especialistas à Reuters nesta quinta-feira, 14/6.

Neste momento, as vendas de produtos agrícolas como soja e milho estão praticamente paralisadas, no aguardo de uma solução para o impasse decorrente do tabelamento do frete, que enfrenta resistência no agronegócio e outros setores da indústria.

Mas especialistas avaliam que em algum momento o transporte de grãos precisará ser retomado, com tabela ou não, caso contrário não haverá espaço nos silos para guardar a produção de milho.

A expectativa é de que o Brasil produza cerca de 58 milhões de toneladas de milho na atual safrinha, queda de 13,6% na comparação anual. Mas o menor volume não deve se refletir em fretes mais baixos, uma vez que ainda há soja da safra recorde para ser enviada aos portos e indústrias processadoras.

Tanto a comercialização quanto o escoamento rodoviário da safra estão praticamente travados há quase um mês em razão dos protestos de caminhoneiros e, agora, das indefinições quanto à tabela de fretes.

“Com a proximidade da safrinha, estamos chegando a um período em que não tem para onde escapar. Vai ter procura maior por transporte…”, disse o pesquisador da Esalq-Log, da Universidade de São Paulo (USP), Samuel da Silva Neto.

Segundo ele, com uma maior concentração do escoamento do milho, a tendência é de que os caminhões também tenham que esperar mais para descarregar nos portos, gerando custo de estadia e impactando no valor do frete rodoviário.

“Mesmo desconsiderando-se a tabela de preços mínimos, já prevíamos uma mudança no patamar de fretes até o final do ano”, disse.

Pelos dados mais recentes da Esalq-Log, o frete médio para transportar milho da região de Primavera do Leste (MT) ao Porto de Santos já estava em maio, quando ocorreram os protestos, 17,4% maior na comparação com igual mês de 2017, em torno de R$ 247,00 por tonelada. A instituição ainda não tem os números fechados de junho.

Armazenagem

Na avaliação do diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, o setor aguenta no máximo mais um mês o “ritmo quase parando” de comercialização e escoamento de grãos, o Brasil é o maior exportador global de soja e um dos principais fornecedores de milho.

“Se não escoar, vem a safrinha e os problemas vão se avolumando”, disse Ferraz, lembrando que a soja armazenada precisa dar lugar ao milho, evitando-se um problema maior de estocagem e eventuais perdas de produção.

Nos portos do país, o total de navios aguardando para carregar produtos do complexo soja está 60% maior neste ano frente igual momento de 2017 justamente por causa dos reflexos dos protestos.

Pela Ferraz, “não há soluções de curtíssimo prazo” que não a negociação dos termos da tabela de fretes, dado que o transporte da safra agrícola brasileira se dá, basicamente, por modal rodoviário.

Associações do setor têm afirmado que consideram a tabela inconstitucional e que não estão negociando os termos. As entidades têm ingressado na Justiça contra o chamado frete mínimo, argumentando que isso fere o livre mercado.

O fato é que eventuais fretes mais altos devem encarecer os custos para compradores e consumidores, na avaliação de outra consultoria.

“Vai ter custo maior, repasse para o consumidor final. De uma forma ou de outra, vai continuar escoando, embora possa ser afetado negativamente o volume, porque essa situação prejudica a competitividade e a logística (do país)”, disse a analista de mercado da INTL FCStone, Ana Luiza Lodi.

Consultorias e entidades projetam que o Brasil embarques neste ano mais de 30 milhões de toneladas de milho e mais de 70 milhões de soja.

 

Fonte: Reuters

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