Pequenos agricultores do setor de orgânicos dizem crescer até 10% ao ano ou dobrar o faturamento com a venda de temperos. As variedades incluem pimenta, geleias, catchup, vinagre e condimentos à base de ervas.
O nicho ainda é pouco explorado, com apenas algumas dezenas de empresas, segundo especialistas do setor.
Esses temperos são produzidos como manda o protocolo dos orgânicos: sem agrotóxicos, insumos químicos ou outras técnicas agrícolas que prejudiquem o ambiente.
A fabricação desses itens se caracteriza pela produção artesanal e familiar.
Uma referência nesse segmento é a Jatobá Orgânicos, empresa de Inconfidentes (MG). No sítio de 35 hectares, são produzidos mais de 150 itens, entre antepastos e ervas mediterrâneas.
Todas as etapas da produção são feitas por Luciano Gambarini, 52, sua mulher e três filhos, que também moram no local; além de 15 funcionários diretos.
O trabalho inclui a colheita, o processamento de alimentos, a embalagem e as vendas, o que exige uma jornada de até 12 horas diárias. “Fazemos orgânicos também por ideologia. Por isso, faço questão de conversar com cada cliente, explicar a maneira como produzimos.”
O maior aliado do negócio foi o boca-a-boca feito entre os clientes, afirma. “É um público muito fiel.”
Ainda segundo Gambarini, a Jatobá cresce 10% ao ano e tem como carro-chefe os molhos de tomate -ao ano, são processadas 300 toneladas da fruta orgânica.
Outra marca que se consolida no mercado é a Blessing Orgânicos, de Joanópolis (a 112 km de São Paulo).
Com 16 funcionários, a empresa produz extratos de tomate tradicional e com manjericão, além de um molho de cogumelos.
A partir de 2017, o catálogo de produtos deve aumentar. “O consumidor de orgânico passou a querer o máximo de produtos do gênero. Não só a base do prato, mas os temperos também”, diz a diretora, Lú Fernandes.
Quem também tem experimentado um bom momento é a São Francisco, produtora de vinagres orgânicos em Caxias do Sul, na serra gaúcha.
Neste ano, o negócio prevê fechar com o dobro de faturamento (R$ 960 mil) em relação a 2015, diz Renato Formolo, contador da fábrica -de gestão familiar.
“Temos clientes que só receberão o produto em janeiro e mesmo assim já pagaram adiantado para garantir.”
Para vender seu peixe, as pequenas empresas do setor se valem de redes sociais e de estratégias corpo a corpo.
A Blessing, por exemplo, participa de feiras do segmento e promove degustação em supermercados parceiros.
“Quando os clientes experimentam o produto, sentem a diferença na hora. Quer melhor propaganda que essa?”, afirma Fernandes.
Já a chef Ana Lembruger, da Ganesha Orgânico, de Teresópolis (RJ), promove os itens da marca, como geleia de capim-limão e flocos de palmito, por meio de vídeos com receitas no YouTube.
CUSTO-BENEFÍCIO
Para o consumidor desses alimentos, as vantagens são alimentos mais saborosos e mais saudáveis. Por outro lado, arca com um custo superior a 40% em relação às marcas convencionais, segundo estimativas do setor.
“É um mercado que atinge majoritariamente as classes A e B”, afirma Karyna Dantas, consultora do Sebrae-SP.
A produção manual, de pequena escala, a falta de tecnologias e o número ainda baixo de insumos autorizados ao plantio de orgânicos são fatores que elevam o custo da produção, segundo Sylvia Waschsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos. “É um investimento com retorno de médio a longo prazos”, diz.
Para vender orgânicos, é necessário ter uma certificação, que leva em conta a descontaminação do solo e da água, entre outros fatores
Segundo Waschsner, as adaptações levam de 12 a 18 meses. “Por outro lado, um solo melhor terá uma produtividade maior do que outro convencional, mais sujeito à erosão”, afirma.
O setor de orgânicos deve crescer 30% neste ano em relação a 2015, estima o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica Sustentável, embora não haja dados específicos sobre condimentos.
Fonte: Folha de S.Paulo