Foco dos chineses em SC é no setor de logística

Empresas chinesas vêm fazendo investimentos elevados em diversos Estados brasileiros, mas em Santa Catarina os grandes negócios em infraestrutura de companhias do gigante asiático estão ainda em projeto ou em fase de definição. Contudo, os chineses já investiram em diversos setores e continuam fortes no uso de logística. É da China o topo do ranking de importações via portos catarinenses, enquanto as maiores cifras de exportações são obtidas nos Estados Unidos. Mas há sinais de que a timidez dos investimentos chineses em SC pode mudar este ano.

O primeiro grande empreendimento com capital do gigante asiático pode ter início ainda no primeiro semestre deste ano. É o Terminal Graneleiro Babitonga (TGB), um moderno e sustentável porto de granel em São Francisco do Sul, projeto liderado pelo empresário Alexandre Fernandes orçado em R$ 1 bilhão. Desse montante, 20% ou seja, R$ 200 milhões serão investidos pela estatal chinesa Cofco, gigante de grãos que já atua no Brasil. A outra parte do capital do TGB pertence ao fundo Anessa, que tem Fernandes e outros catarinenses como sócios e busca parceiros internacionais.

Quando o presidente Michel Temer esteve em Pequin, em setembro do ano passado, a gigante chinesa China Communications Construction Company (CCCC), maior empresa de infraestrutura do país, assinou um memorando de intenções para investir no TGB. Mas como não há ainda uma definição dessa participação, outros investidores da China ou de outros países podem participar.

Ferrovias também fazem parte de negociações

Conforme o CEO do TGB, Eduardo Pereira, no final do ano passado foi iniciado um amplo processo de cotações, que deverá durar os próximos meses, para definir a empresa que será a responsável pela construção do terminal e que, eventualmente, também pode se tornar acionista do empreendimento. O TGB terá capacidade de armazenamento de 463 mil toneladas, vai gerar mil empregos diretos na construção e 300 na operação. O projeto já tem licença ambiental prévia (LAP) e aguarda a finalização da licença ambiental de instalação (LAI) pela Fatma para iniciar a construção.

– O Brasil é o único país que tem condições de ampliar o agronegócio de forma sustentável, sem expandir o desmatamento. O grande gargalo para que isso aconteça e aumente a participação brasileira no fornecimento mundial de grãos é a infraestrutura logística, especialmente a portuária. Neste contexto, o projeto do TGB é estratégico para a economia nacional e tem despertado interesse de investidores – disse Pereira.

Outro projeto que também mira capital do país asiático para investimento é o Porto Brasil Sul, lançado no primeiro semestre de 2017 e também em processo de licenciamento em São Francisco do Sul.

O plano da WorldPort é um terminal de US$ 1 bilhão (R$ 3.22 bilhões) na entrada da baía da Babitonga, entre as praias do Forte e Capri. Há informações de que a CCCC pode ser um dos seis ou sete grupos investidores, mas até agora nada foi oficializado.

Os chineses podem ter presença em SC também pelas ferrovias. Segundo a mídia nacional, a CCCC estaria negociando a compra de parte da Rumo ALL, concessionária da malha ferroviária Sul que opera em parte de SP e no Sul, incluindo SC, com acesso ao Porto de São Francisco. O negócio continua sob sigilo, mas caso se concretize pode somar R$ 2 bilhões no Brasil.

Um dos empresários que mais entendem de negócios com a China é Henry Uliano Quaresma, de Florianópolis, CEO da Brasil Business Partners, sócio-diretor da TSL Energy e autor de dois livros sobre o país: O Fator China e O Fator China e o Novo Normal. Segundo ele, os chineses estão interessados em investir no Estado em energia, portos, agroindústria e tecnologia. Quaresma, que é ex-diretor da Fiesc, também vê muitas oportunidades para exportar aos chineses.

Quando as empresas de Santa Catarina passaram a incluir mais a China nos seus
negócios?

Em 2004 e 2005, as indústrias do Santa Catarina começaram a se interessar mais em fazer importações da China e a fazer missões ao país. Mas antes, por volta de  1995, as empresas têxteis começaram a importar fios do país porque foram canceladas quotas de Taiwan. Em 2009 e 2010 ocorreu uma consolidação maior do uso de matérias-primas chinesas em produtos industriais. Depois, teve um ápice em 2012 e, a partir de 2013, eu comecei a detectar o processo de exportação de produtos finais para a China por parte de empresas do Estado. Hoje, há mais conhecimento sobre o mercado chinês e há muitas exportações de produtos finais ao país. Apesar disso, há ainda potencial muito grande para ser conquistado.

O que o Estado poderia exportar mais para a China?

Hoje, qualquer produto do Estado poderia ser exportado para a China porque os critérios de preço não são os únicos. Há a qualidade, o design e a utilidade. Temos uma empresa daqui que exporta peças de usinas, por exemplo. Outra vende couros acabados para a produção de bolsas. São Paulo está exportando calçados. As exportações de alimentos estão evoluindo rapidamente. Um setor que avança é o de carnes. Estamos começando a exportar alimentos industrializados. Isso está crescendo. A soja, nem se fala! Há uma exportação expressiva e crescente para a China.

Atualmente, o que vem atraindo mais o interesse de investidores chineses no Estado?

Os chineses iniciaram uma fase de aquisições fortes no mundo. O Brasil é um dos mercados que mais atraem o interesse deles, principalmente em infraestrutura. Eles priorizam o que envolve a cadeia de alimentos, logística e energia. Não há um foco específico em Santa Catarina, mas há interesse em terminais portuários, energia e está sendo prospectada alguma coisa de agroindústria.

E o setor de tecnologia está no foco deles? 

Empresários chineses mais jovens que tiveram faturamento alto no setor de tecnologia na China, principalmente da cidade de Shenzhen, estão procurando investir em ativos de tecnologia no Brasil. Começaram em São Paulo e na região de Campinas, onde há muitas empresas de tecnologia de informação e comércio eletrônico. Esses empresários chineses também estão de olho no setor de TI de Santa Catarina. Não houve um negócio efetivo ainda, mas há prospecções bem fortes na área.

O senhor tem uma consultoria internacional que trabalha na prospecção de negócios com chineses. O que registra maior procura?

São duas empresas. Tenho a Brasil Business Partners e também sou sócio da TSM, ambas de Florianópolis. Temos mais demandas por parcerias para viabilizar fusões e aquisições. Além disso, fazemos pesquisa de mercado para exportação para a China e outros países da Ásia e Golfo Arábico. Também colaboramos na prospecção de negócios na área de tecnologia.

 

Fonte: Diário Catarinense

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