Fluxo cambial acelera no mês e deve manter fôlego em janeiro

Os mais de US$ 7 bilhões que ingressaram no Brasil apenas na semana passada chamou atenção do mercado financeiro e pode ser visto apenas como uma parte das entradas esperadas para o mês de janeiro, quando devem ser liquidadas ainda outras operações de ingresso de capital.

Entre os dias 19 e 23 o Brasil recebeu, em termos líquidos, US$ 7.030 bilhões. A Conta Comercial registrou um entrada líquida de US$ 6.339 bilhões, a maior desde a semana finda em 17 de maio de 2013. A entrada de recursos foi tamanha que fez com que o saldo no ano ficasse positivo em US$ 1.825 bilhão, contra um déficit de US$ 5.205 bilhões até o último dia 16 de dezembro.

Profissionais consultados citaram a probabilidade de esse montante ser resultado de internalização de recursos pela Petrobras via conta de Pagamento Antecipado (PA). Essa modalidade da Conta Comercial consiste em o importador financiar a produção de bens e mercadorias a serem vendidos para ele posteriormente, realizando um depósito antecipado de recursos para a empresa exportadora. No mercado, considera-se uma espécie de padrão a Petrobras trazer recursos de fora via “PA”.

Os dados do fluxo cambial divulgados pelo Banco Central mostram, apenas no dia 22 de dezembro, entrada de US$ 6.135 bilhões via PA. Mas alguns profissionais também citaram como justificativa para o robusto fluxo comercial o pagamento da operação de compra do controle da CPFL Energia pela estatal chinesa State Grid, negócio que pode ultrapassar R$ 25 bilhões.

Segundo um profissional da área de câmbio, não há impeditivo para que operações como a compra de empresas sejam registradas via Pagamento Antecipado. Além disso, ele disse que operações com esse volume tendem a ser realizadas com vários bancos, que geralmente oferecem operações estruturadas que, por vezes, são registradas fora da conta financeira do fluxo cambial.

O impacto desse fluxo sobre a taxa de câmbio foi moderado porque tesourarias já haviam começado a vender dólar via derivativos semanas antes, na medida em que tomavam conhecimento das negociações.

Nesta semana, operadores têm citado fluxo negativo, embora escasso devido à fraqueza das operações por causa da aproximação do fim do ano. Para janeiro, porém, esperam-se novos ingressos. Há expectativa de entrada de pelo menos parte dos US$ 2.2 bilhões referentes ao acordo de colaboração entre a Petrobras e francesa Total, relacionado a uma parceria firmada em outubro entre as companhias. O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou na semana passada em entrevista coletiva que os US$ 2.2 bilhões entram no caixa da estatal.

A possibilidade de mais ingressos de recursos em janeiro já levanta dúvidas sobre se o BC anunciará leilões de rolagem de US$ 6.431 bilhões de swaps cambiais tradicionais que vencem no começo de fevereiro. O BC postergou integralmente o vencimento de contratos de swap inicialmente programados para dezembro de 2016 e janeiro de 2017. No total, o BC manteve no mercado de câmbio cerca de US$ 11.5 bilhão nesses ativos.

O que mantém no radar a chance de novas rolagens mesmo com o fluxo positivo é o risco vindo da postura de Donald Trump ao assumir a Presidência dos EUA, o que vai ocorrer em 20 de janeiro. Isso porque se Trump fortalecer o discurso de mais gasto fiscal, pode haver nova rodada de aumento dos juros americanos de mercado. Isso apertaria as condições financeiras globais, reduzindo liquidez e ampliando o risco de pressão exacerbada no mercado de câmbio doméstico.

Nos quatro dias que seguiram à eleição de Trump, o real sofreu um tombo de 8,69%, tendo um desempenho pior do que alguns de seus pares emergentes.
Fonte: Valor

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