O analista sênior da consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, questiona iniciativas como as do Banco do Brasil, que anunciou na semana passada mais R$ 750 milhões para financiar a estocagem da safra de trigo. “Se a expectativa é guardar estoques esperando alguma alta futura nos preços, esqueçam”, disse.
“Não entendo como podem pensar isto. Financiar estoques excessivos significa guardar, manter, conservar em alta a disponibilidade do produto (muito além da própria necessidade, sem ter perspectiva de escoamento, como a exportação, por exemplo). Isso é sempre péssimo para os preços. Certamente os técnicos do governo (que sabem disto) são votos vencidos e tem algum político (…) dando as ordens por lá”, declarou.
De acordo com o especialista, o efeito de guardar estoques é justamente o contrário: “É exatamente o que está acontecendo hoje no mercado internacional: estoques excessivos e que tem como consequência um retrocesso de dez anos nos níveis mundiais dos preços. Mas, mesmo que o preço internacional aumente daqui para frente (já que está excessivamente baixo, como dizem os analistas de Chicago), o preço doméstico permanecerá baixo, porque não haverá disputa por matéria prima. Tudo estará apenas e tão somente à inteira disposição dos moinhos e nada da exportação, por exemplo”.
Segundo Pacheco, a única alternativa possível como forma de ajudar os triticultores é diminuir os estoques, e não mantê-los. “Se o governo quer ajudar os triticultores do Rio Grande do Sul (…) então que pegue este dinheiro todo e pague o diferencial para a exportação diretamente (e num programa de pelo menos cinco anos, mas o ideal seria de dez anos, com o propósito de inserir o país definitivamente no mercado internacional, como fizeram os russos), mesmo que isto signifique comprar briga com a OMC ou com quem quer que seja. Vai gastar muito menos e ser muito mais eficiente”, sustenta.
“O efeito (de um incentivo à exportação) será altamente positivo, porque começará a quebrar a atual estrutura monolítica de dependência exclusiva dos preços dos moinhos, criando mais uma alternativa de comercialização, com benefício inclusive para os próprios moinhos, porque a qualidade do trigo se tornará melhor com o passar do tempo e eles terão preços iguais e mais previsíveis aos do mercado internacional, não superiores, como hoje, disse o analista da T&F.
Pacheco vai além, e defende que, com essa medida, rapidamente o Brasil se tornaria autossuficiente na produção de trigo e até geraria excedentes exportáveis, exatamente como aconteceu com a soja e o milho. Segundo ele, isso ainda não é feito porque “os responsáveis estão mais perdidos que os produtores. Debatem demais e fazem de menos. Precisam tomar umas aulas com o Trump e com o Putin, ou com alguns dirigentes agropecuários do Paraná que tiveram coragem e implantaram um sistema que tornou o estado um ótimo produtor e comercializador de trigo”.
Fonte: Agrolink