As alterações feitas pelo governo no direcionamento das fontes do crédito rural na safra 2023/24 surtiram efeito no desempenho dos bancos privados neste ano. Nos cinco primeiros meses da temporada, essas instituições desembolsaram R$ 64.2 bilhões em financiamentos ao campo, aumento de 77% em relação aos R$ 36.2 bilhões liberados no mesmo período do ciclo passado.
Os desembolsos em geral são liderados pelos bancos públicos (R$ 115.5 bilhões), puxados pelo Banco do Brasil. As Cooperativas de crédito emprestaram R$ 38.6 bilhões até novembro.
O aumento dos bancos privados foi motivado pelo aumento na exigibilidade de aplicação das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que passou de 35% para 50% nesta safra, e no aumento no volume de recursos dessa fonte que precisam ser liberados em operações de crédito rural tradicional com juros livres, de 30% para 50%. A elevação de 25% para 30% do direcionamento dos depósitos à vista também ajudou.
Antes, as instituições podiam aplicar até 70% dos recursos oriundos das LCAs em financiamentos via Cédula de Produto Rural (CPR), procedimento menos burocrático e isento de tributos. A mudança forçou a ampliação das ofertas pelo crédito rural, com resultado visível no Plano Safra, e contribuiu para gerar arrecadação, já que sobre as operações incide 0,38% de IOF.
O sistema financeiro precisou se adaptar para não ter que reduzir o estoque de LCAs, já que o direcionamento é calculado em cima dos valores aplicados pelas instituições. Executivos da área dizem que houve um freio no crescimento das emissões dos títulos, mas que a situação se normalizou após ajustes, como a redução de spread.
Com isso, o estoque de LCAs passou R$ 421.2 bilhões em julho para R$ 435.7 bilhões ontem, segundo a B3. Sem as alterações no direcionamento, a expectativa era que o volume chegasse a R$ 500 bilhões no fim do ano, disse uma fonte. No início da safra, alguns bancos cogitaram deixar vencer alguns títulos para diminuir o bolo.
Os títulos são a principal fonte de recursos liberados em todo o Plano Safra 2023/24, com mais de R$ 85.5 bilhões, cerca de 98% a mais que o registrado nos cinco primeiros meses da temporada passada. O número representa quase 40% dos R$ 220 bilhões desembolsados entre julho e novembro, segundo dados do Banco Central compilados pelo Valor em 8 de dezembro.
“Isso mostra que a nossa decisão de aumentar as exigibilidades foi acertada. Com isso, os recursos das LCAs vão para grandes produtores e as fontes controladas dão suporte para pequenos e médios e nos investimentos”, disse o Secretário-Adjunto substituto de Política Agrícola do Ministério, Wilson Vaz de Araújo. Segundo ele, há bancos emprestando a taxas próximas de 12% para não ficar sub aplicado.
Os financiamentos de custeio, em R$ 127.6 bilhões, puxam a alta do desempenho do Plano Safra. Já o crédito para investimentos segue baixo, com R$ 45.8 bilhões contratados até agora. Operações para industrialização e comercialização dobraram, para R$ 26.2 bilhões e R$ 20.4 bilhões, respectivamente.
Sobre a queda nos investimentos, Vaz ressaltou que os principais programas, como Moderfrota, PCA e Moderagro, estão em alta. A exceção é o Inovagro. “O produtor está cauteloso, monitorando o clima.”