Fertilizantes: no Brasil, preço dos adubos tendem a continuar elevados com o dólar valorizado

Os preços pagos pelos fertilizantes no Brasil tendem a continuar elevados em 2022, segundo analistas de mercado ouvidos pelo Broadcast Agro. Uma eventual queda nas cotações internacionais, prevista para o segundo semestre do ano, poderá ser anulada pela valorização do dólar, o que encarece os insumos importados.

“No Brasil, os preços devem continuar elevados por conta do dólar. O cenário para este ano, com eleições, traz bastante incerteza ao mercado de câmbio e as estimativas apontam que o dólar não deve ceder da casa dos R$ 5,60, o que traz impacto às cotações locais”, disse o analista de Insumos do Rabobank, Bruno Fonseca.

Para ele, uma retração dos preços interno do insumo importado não pode ser descartada, a depender dos fundamentos de mercado ao longo deste primeiro semestre. Contudo, se ocorrer, será menor do que a queda prevista para as cotações internacionais.

Volatilidade

A mesma leitura é feita pelo gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti. “Saímos de 2021 com real desvalorizado e será um ano de muita volatilidade cambial. Caso o período de aquisição de insumos coincida com o dólar mais forte em relação ao real, esse movimento pode amortecer uma possível queda dos preços lá fora.”

Bellotti pondera, entretanto, que a alta das cotações encontra um teto na demanda, que não absorve integralmente o aumento contínuo dos preços. “As relações de troca, quantidade de determinado grão necessária para compra de uma tonelada de adubo, estão nos piores patamares dos últimos anos, o que limita a alta.”

Custo de importação

Em 2021, os principais nutrientes importados registraram alta expressiva nos preços indicados nos portos brasileiros.

Dados do Rabobank apontam que o custo de importação da ureia, referência para preço de nitrogenados, colocada em porto brasileiro, aumentou mais de 195% no ano (janeiro a dezembro), encerrando o ano em aproximadamente US$ 820,00 por tonelada.

O fosfato monoamônico (MAP) aumentou cerca de 109% no acumulado do ano, para US$ 860,00 a tonelada. O cloreto de potássio (KCl) subiu 22% na mesma base comparativa, alcançando US$ 790,00 a tonelada em dezembro.

Ricardo Tortorella, diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), entidade que representa a indústria brasileira de fertilizantes, avalia que os preços elevados são uma consequência do aumento global da demanda, que não foi acompanhado pelo aumento da oferta na mesma proporção.

Câmbio favorável

No entanto, o diretor da Anda destaca que o dólar estará favorável às exportações das commodities agrícolas, mantendo a rentabilidade dos agricultores. “Sabemos que o câmbio deve ficar instável até a eleição, o que influencia tanto no nosso negócio, quanto nos preços mais rentáveis na venda dos grãos para o agricultor”, disse.

O produtor vai fazer as contas para importar adubo e vender commodity em dólar. Para exportação, câmbio forte é bom sinal de rentabilidade, mas traz entendimento ao mercado de que preços dos adubos devam permanecer altos por mais um período”, afirmou Tortorella.

O Brasil importa aproximadamente 85% do volume de adubos consumido anualmente nas lavouras (cerca de 40 milhões de toneladas) e, por isso, as cotações locais estão sujeitas às oscilações internacionais e ao câmbio.

Oferta

A avaliação dos analistas é de que o consumo global de adubos deva se desacelerar. Já a conjuntura apertada de oferta permanece no radar do mercado internacional.

Os principais drivers de oferta no primeiro semestre deste ano, segundo os analistas, serão a implantação da cota russa para exportação de nitrogenados, a permanência das restrições chinesas nas vendas externas de adubos, e as sanções norte-americanas e europeias à Bielorrússia.

Perspectiva

No mercado internacional, a perspectiva é de manutenção das cotações elevadas no primeiro trimestre deste ano, com acomodação dos preços no segundo trimestre e tendência de arrefecimento nos preços do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio – principais macronutrientes) a partir do segundo semestre.

“Esse primeiro período do ano, até a metade do primeiro semestre, será um período de maior restrição na oferta e maior demanda, com as compras dos produtores do Hemisfério Norte. Na segunda metade do ano, prevemos alívio nos fatores de abastecimento que limitam a retração, o que forneceria condição para a queda dos preços”, disse Fonseca.

Entre os fatores que podem melhorar a partir do segundo semestre e contribuir para aumento da oferta, ele citou o fim da cota russa para exportações de nitrogenados e um retorno da produção industrial da China após a crise energética.

“A oferta não retomará ainda ao patamar pré-Covid, mas indica um cenário de maior alívio, ainda dependendo destes fatores que irão se desenrolar.”

EUA

Fonseca acrescentou que os fortes preços internacionais esperados para o primeiro semestre deste ano devem ser sentidos inicialmente pelos produtores norte-americanos, que plantam a safra de grãos 2022/23 à frente dos brasileiros e estão na janela de compra de adubos.

Dessa forma, os Estados Unidos devem ser afetados em maior grau pela manutenção de preços na primeira metade do ano.

“Uma eventual diminuição na compra norte-americana provavelmente poderia ser mais um fator de pressão no mercado, mas os principais fatores que direcionarão os preços para as aquisições brasileiras no segundo semestre são os relacionados à produção”, avaliou Fonseca.

Equilíbrio

Bellotti, do BBA, indica que o espaço para a queda dos preços internacionais é “pequeno”. “Esperamos que a oferta fique menos pressionada com a normalização do uso de energia para a produção dos adubos e uma alta não tão considerável da demanda”, disse.

“Devemos ter um balanço entre oferta e demanda um pouco mais equilibrado a partir de fevereiro, mas o custo de produção dos fertilizantes ainda estará muito elevado, o que contribui para manter os preços.”

Sustentação da demanda

Outro ponto que pode frear essa queda das cotações é o fato de que o fim da janela de compras do Hemisfério Norte seja prosseguido pelo período de aquisição da América do Sul, sustentando a demanda.

“A tendência é de termos uma redução na preocupação com disponibilidade, mas não significa queda tão grande de preços”, indicou Belloti, ponderando que o recrudescimento da pandemia da Covid-19, embora possa não afetar novamente a oferta de adubos, traz um alerta a possíveis atrasos globais na logística de entrega dos insumos.

Variação de preços

Já na avaliação do diretor de Fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello, a perspectiva é de acomodação e arrefecimento nos preços dos nitrogenados e fosfatados. Contudo, para os potássicos, o cenário ainda é de manutenção dos preços elevados após o endurecimento das sanções norte-americanas e europeias a fornecedores de KCl bielorrussos.

“Acreditamos que, em meados de abril e maio deste ano, possamos ter recuos importantes nos preços de nitrogênio e fósforo”, disse Mello.

“Para o potássio, a projeção era de queda mais branda, porém, com os embargos mais recentes, não há chance de queda, desde que as sanções americanas realmente interrompam o fluxo significativo de exportações bielorrussas”, indicou o diretor, mencionando que a Bielorrússia responde por 20% do mercado global do macronutriente.

Sanções

No início de dezembro, algumas sanções entraram em vigor, incluindo a proibição de negócios entre empresas dos Estados Unidos e a estatal bielorrussa Belaruskali, produtora de potássio.

Outras, contudo, passam a ser válidas a partir de 1º de abril, incluindo embargos à estatal Belarusian Potash Company (BPC), comercializadora do insumo e responsável pela maior parte das exportações de Kcl do país.

“É uma situação séria. Há risco concreto de desabastecimento, se a sanção realmente interromper o fluxo bielorrusso de exportação, porque o volume é muito grande”, disse Mello.

 

 

Fonte: Broadcast Agro

Equipe SNA

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