A comercialização mais lenta de grãos nesta safra 2016/17 deve gerar uma concentração na demanda por frete no terceiro trimestre em níveis não registrados desde 2015. Além do maior volume de cargas que vai sair do país no período, haverá maior quantidade de fertilizantes chegando para ser entregue. A razão para esse quadro é que o produtor retardou as vendas de soja e, mais uma vez, também deixou de fazer compras antecipadas de insumos para o próximo ciclo (2017/18), o que deve concentrar as entregas de fertilizantes entre julho e setembro.
“Não houve antecipação de compra de fertilizantes, o que tem sido normal nos últimos anos”, disse o consultor especializado em fertilizantes da INTL FCStone, Marcelo Mello. A situação deve provocar algum gargalo logístico, mas “isso não é tão problemático”, disse. Um dos efeitos negativos esperados é que haja aumento nos fretes para a entrega dos adubos.
Nesse contexto, as empresas de fertilizantes tendem a registrar redução do volume entregue neste segundo trimestre. Segundo Dalton Carlos Heringer, presidente da Heringer, uma das principais empresas do segmento no país, os produtores de fato estão segurando as compras do insumo. Ele concorda que a comercialização mais lenta de grãos, derivada da queda dos preços desde o fim do ano passado, deixou o produtor com menos recursos em caixa para antecipar as compras de insumos para a temporada 2017/18.
O consultor da FCStone lembra, que além disso, as relações de troca entre grãos e fertilizantes estavam desfavoráveis aos agricultores. “Em fevereiro e março a relação começou a ficar ruim”, disse. A relação de troca, observa, chegou, no começo de abril, perto das 19 sacas de soja para a compra de 1 tonelada de MAP (matéria-prima de fosfatado) em Paranaguá.
“O insumo subiu muito no fim de dezembro e em janeiro”, diz Mello. Ao mesmo tempo, o preço da soja em Chicago se retraía. A relação de troca passou de 15 sacas, em fevereiro, para o pico de 18,4 sacas em abril. Nos últimos dias de maio, a relação começou a melhorar e caiu para 17,4 sacas de soja para uma tonelada de MAP. Mas, de acordo com cálculos do Rabobank, mesmo com a relação de troca menos favorável, o custo da adubação, em sacas por hectare, da safra 2017/18 ainda ficaria 15% menor que a média de 2010 a 2016.
Para Victor Ikeda, analista do Rabobank, dificilmente o preço do fertilizante no mercado interno cairá nos próximos meses. No exterior, com o fim da demanda por adubos no Hemisfério Norte, os preços tendem a recuar em dólar. “O problema é que essa redução dificilmente será repassada no mercado doméstico”. A concentração de transporte e descarregamentos nos portos devem levar a aumento de custos logísticos.
Pelos cálculos da FCStone, considerando uma necessidade de importação 20% maior de adubo no ciclo 2017/18 na comparação com safra 2016/17, faltariam, até o momento, 10.3 milhões de toneladas para entrar no país até setembro. Esse volume já considera que em abril, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), foram importadas 1.7 milhão de toneladas de fertilizantes.
“O porto de Paranaguá tem uma capacidade de importação de fertilizantes de três milhões de toneladas por mês”, disse Mello. “Posso te dizer com tranquilidade que não teremos problemas para importar”. Como a área de soja na próxima safra não deve sofrer grandes alterações, o produtor terá de manter as compras de fertilizantes, disse.
A primeira previsão do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) para a safra 2017/18 de soja no estado corrobora a avaliação de Mello. A projeção é que a área plantada avance 0,22%, chegando a 9.417 milhões de hectares, com uma queda de 2,3% na produtividade.
Fonte: Valor Econômico