Ferrovia Norte – Sul fica pronta após 36 anos

Foto: Divulgação

Após décadas de mudanças de rota, problemas técnicos e inaugurações parciais, o traçado entrou totalmente em operação e representa uma alternativa para o transporte de cargas no país, em especial de gêneros alimentícios destinados aos grandes centros urbanos de consumo no Brasil e no exterior. Com quase 2.300 quilômetros de extensão, foi dividida em duas partes. A primeira, pronta desde 2010, vai de Palmas, no Tocantins, a Açailândia, no Maranhão, com um custo de R$ 2,6 bilhões. Já o trecho de Estrela do Oeste, em São Paulo, ao Tocantins consumiu cerca de R$ 11 bilhões.

A ferrovia foi finalizada este ano, depois que a concessionária Rumo venceu o leilão e assumiu o lote em 2019. Com ela, é possível realizar a primeira viagem interligada de trem entre quatro das cinco regiões brasileiras. No caminho, há entrepostos que passaram por adaptações para acomodar terminais, como o Porto Seco de Anápolis, em Goiás. Locais assim ajudam no embarque e desembarque de contêineres.

Uma composição com 80 vagões equivale a 170 carretas, por exemplo. Isso deixa claro que, como já apontado por especialistas há bastante tempo, o caminho para o país crescer ainda mais é dispor de uma malha ferroviária que conecte os principais polos produtores aos portos, que ficam, em alguns casos, a milhares de quilômetros. As saturadas rodovias causam desperdício, alto custo de manutenção e atrasos, reduzindo a competitividade brasileira num cenário em que nossos principais concorrentes já buscaram compensar esses flancos.

Com dimensões continentais e biomas diversos que representam um desafio para a homogeneidade da infraestrutura, o Brasil ainda tem outro ponto fraco: não possui saída para o Oceano Pacífico, o que facilitaria atender aos compradores asiáticos, entre eles a China, que é nosso principal parceiro comercial. Em entrevista à SNA, o ex-ministro Roberto Rodrigues explicou que, mediante acordo com países vizinhos, um trecho de administração conjunta proporcionaria maior rapidez na entrega das cargas que hoje levam mais tempo dando a volta ao mundo para chegar aos seus destinos.

A demora em concluir obras como essa faz com que muitos elementos da estrutura já nasçam defasados em face das demandas atuais para encurtar as distâncias, fator decisivo na competitividade do mercado global. A também ex-ministra e hoje senadora Tereza Cristina, em conversa recente com a SNA, disse que colegas estrangeiros se mostram perplexos ao saberem que o Brasil não faz melhor uso de seus rios, por exemplo. Portos fluviais são comuns nos EUA, grande rival brasileiro na proeminência mundial do agronegócio.

Que a inauguração da nova ferrovia possa alavancar o esforço nacional para dar alternativas a produtores e todos aqueles envolvidos na cadeia agrícola, no sentido de otimizar o transporte e cumprimento de diretrizes cada vez mais rígidas em termos de compatibilidade sanitária, práticas sustentáveis e busca por fontes renováveis de energia. Os trens carregam mais, poluem menos, exigem intervenções pouco invasivas nas paisagens e percorrem longas distâncias, conciliando as metas de crescimento e preservação.

Marcelo Sá, jornalista/Editor
Equipe SNA
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