Fazendas verticais e hortas urbanas impulsionam produção sustentável nos grandes centros

Folhosa recém-colhida e produzida em fazenda vertical. Foto: Italo Guedes / Pink Farms

A agricultura urbana e periurbana no Brasil é caracterizada pela produção em pequena e média escalas, voltada para o autoconsumo e a comercialização em diversos mercados, sobretudo os locais. Somente na região metropolitana de São Paulo, a atividade é capaz de abastecer com verduras e legumes cerca de 20 milhões de pessoas a cada ano, além de gerar 180 mil empregos, segundo estudo publicado em 2020 pelo Instituto Escolhas.

Nesse cenário, as fazendas verticais e as hortas urbanas se destacam como dois modelos de negócios que aproximam o consumidor final do produtor, combatendo o desperdício de alimentos e garantindo uma produção sustentável.

“São modelos diferentes. As fazendas verticais urbanas demandam investimentos muito altos devido à sua infraestrutura. Outro modelo é defendido por pequenos produtores, que são aqueles que têm uma pequena horta em casa, onde a escala é quase impossível. É uma agricultura de subsistência, onde a produção é feita de maneira orgânica, agroecológica e sustentável para alimentar as famílias”, explicou a diretora da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Sylvia Wachsner, ao participar de um podcast na plataforma Minestrone.

Crescimento

“Ter hortas urbanas não significa necessariamente que seus produtos serão comercializados”, completou Sylvia, que reconheceu o crescimento dessa atividade em casas, varandas e pequenas praças e cidades do País. “Por outro lado, a agricultura urbana no Rio já fornece produtos para o circuito carioca de feiras. Além disso, restaurantes compram diretamente de fornecedores de alimentos mais saudáveis como os orgânicos, por exemplo. Essa relação do agricultor com a gastronomia cria muito valor”, destacou a diretora da SNA.

Na ocasião, ela também mencionou projetos como o da Prefeitura do Rio de Janeiro, voltado para a implementação de hortas urbanas em escolas. A iniciativa, recentemente premiada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), permite que os alunos aprendam sobre a origem dos alimentos e as fases de produção. “É um projeto que, por ter sido lançado há algum tempo, já começa a ter escala”, ressaltou Sylvia.

Otimização

“Quando falamos em segurança alimentar e produção urbana, temos exemplos de hortas comunitárias como a ocupação Nove de Julho em São Paulo e o Quilombo da Gamboa no Rio. As pessoas estão buscando otimizar seus espaços, seus terrenos para a produção de alimentos, que tanto pode ser complementar ao que se compra nos mercados, quanto para a subsistência, podendo ser distribuída para a população em situação de vulnerabilidade”, afirmou o jornalista Matheus Zanon, editor da Alter Conteúdo.

Entraves

No entanto, disse ele, alguns entraves na agricultura urbana precisam ser superados, como o acesso ao solo. “Nas cidades, a terra disponível geralmente não é de qualidade, e esse material é quase sempre destinado à construção de casas e de prédios. Há um déficit a ser resolvido na preparação do alimento”.

Para a diretora da SNA, na agricultura urbana “o primeiro entrave são as autoridades, ou seja, no caso do Rio de Janeiro e também de outras cidades, é a falta de reconhecimento pela Prefeitura das áreas de produção no município e da existência de produtores interessados em trabalhar em pequenas áreas e comercializar seus produtos, e que talvez não queiram pagar IPTUs altos”.

Outra questão, acrescentou Sylvia, “é saber para onde as cidades estão se expandindo, porque, dependendo da direção a ser tomada, as hortas poderão ser substituídas por prédios”.

Aspecto social

A exemplo das hortas escolares, a agricultura urbana reflete o aspecto social, observou a especialista. “São pessoas que não podem pagar milhões para investir numa atividade, mas podem plantar para seu próprio consumo e cultivar plantas medicinais e plantas alimentícias (PANCs). Devido a dificuldades de logística de transporte para os grandes centros, por exemplo, essas famílias também têm a opção de vender seus produtos nas feiras municipais”.

Desperdício zero

Essa aproximação do consumidor final com o produtor também está presente no contexto das fazendas verticais urbanas. “A ideia é que o consumidor obtenha um alimento extremamente fresco, preservado e com zero desperdício”, afirmou Raphael Pugliese, diretor de marketing da Pink Farms.

“Um dos grandes diferenciais desse modelo de negócio é a possibilidade de diminuir o déficit entre o que é produzido e o que é colocado nas gôndolas”.

Produtividade

Segundo o diretor, as fazendas verticais desmitificam a questão da luta pela terra. “Hoje há esse contraste entre o agro e o meio ambiente, que na verdade não deveria existir, pois temos a uma agricultura voltada para a regeneração dos solos, ao passo que a agricultura urbana e vertical pode manter a natureza que restou intocada, ocupar galpões nas cidades e conseguir uma produtividade absurda”.

Só para se ter uma ideia, continuou Pugliese, “a cada metro quadrado de solo que temos na cidade de São Paulo, produzimos até 170 vezes mais que um metro quadrado no campo, e ocupando um espaço bem menor. Empilhando essa produção com o devido controle de todo o ambiente e suas variáveis, eu consigo escalar essa produtividade e ter de dois a três ciclos a mais de colheita ao ano daquela planta, desde a semente até a entrega, e sem agrotóxicos”.

Além disso, o diretor também reconhece que sua atividade exige um bom investimento inicial. “Você começa a encarar a agricultura do ponto de vista industrial, mas quando se tem esse investimento e você consegue escalar a produção, quanto mais andares tiver a fazenda, quanto mais você otimizar a produção e o seu conhecimento sobre ela, maior será a sua produtividade”, disse.

“A tendência é que a margem de lucro do produto cresça para que ele fique mais acessível em comparação ao produto tradicional. Quanto mais se investe na atividade, maior a margem do produto, porque você vai escalando a produtividade por metro quadrado”.

Valorização

No entanto, ponderou Pugliese, “não é porque eu tenho uma fábrica de alimentos que eu vou deixar de valorizar o pequeno produtor que está vendendo seu alimento superfresco e que o consumidor conhece sua procedência. São duas coisas que podem coexistir, mas para mim ainda falta um regulamento melhor para esse setor”.

Fontes: Minestrone / Alter Conteúdo
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