A falta de demanda por parte de indústrias e varejistas por soja certificada tem sido o gargalo para a expansão do setor, segundo a Mesa Redonda para a Soja Sustentável (RTRS). Criada em 2006, a associação tem hoje mundialmente 192 representantes da indústria, do comércio e das finanças e produtores rurais.
“O gargalo está no comprometimento da compra da soja sustentável”, disse o argentino Marcelo Visconti, diretor-executivo da RTRS, de passagem por São Paulo. “Os produtores poderiam crescer muito mais rápido do que crescem atualmente se a demanda fosse maior”.
O custo maior do grão, devido à certificação e ao prêmio pago ao produtor, mantém a produção mundial da soja certificada oscilando entre 2 milhões a 3 milhões de toneladas. A título de comparação, só no Brasil a produção de soja deverá ultrapassar nesta safra os 110 milhões de toneladas.
A associação pretende anunciar até o fim do ano novos modelos de negócio a fim de tornar o selo mais acessível, sem reduzir exigências para a certificação, a partir de observações feitas pelos próprios membros da RTRS.
Outra ação é estreitar as parcerias com governos locais, como forma de ganhar capilaridade e chegar a mais públicos.
Segundo Marina Engels, presidente da RTRS, apesar do cenário “desafiador”, as sinalizações de que os chineses começam a se interessar por certificação apontam para dias melhores. Segundo ela, a aquisição do grão sustentável se tornou mais viável depois de Pequim assinar o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas (enquanto os EUA deixavam o tratado global).
Para cumprir o acordo climático, o país asiático terá de adotar novas orientações que inclui a compra de matéria-prima.
Ainda que em um movimento tímido, algumas tradings já começam a comprar a soja RTRS, utilizada como base para ração de animais cuja carne é depois exportada à União Europeia, diz a presidente da entidade. “Quem está puxando esse movimento, neste momento, são os europeus. Mas logo veremos uma demanda de dentro da China também”.
A RTRS tenta promover um sistema de produção responsável na cadeia da soja: por um lado, certifica produtores interessados em acessar mercados que pagam mais pela garantia de que o grão não vem atrelado a complicações; por outro, conecta esses produtores a empresas com compromissos ambientais, como garantia de origem e rastreabilidade da matéria-prima.
A soja certificada é produzida no Brasil (153 produtores), na Argentina (53 produtores), no Paraguai (4 produtores) e na Índia (32.000 produtores pequenos).
Por terem propriedades rurais maiores, os brasileiros representam pouco mais de metade do volume total ofertado ao mercado, ou 2 milhões de toneladas das 3 milhões de toneladas em 2016. Conforme a associação, a adoção de práticas de sustentabilidade vai além do impacto direto no meio ambiente, a gestão melhor das fazendas reduz os acidentes trabalhistas, os custos com seguro e financiamento.
Fonte: Valor