Falta de chuva trava queda do preço do feijão

O preço do feijão ao consumidor subiu 5,27% desde abril do ano passado, segundo o IPCA/IBGE, o que coloca o grão ao lado de arroz e carnes como um dos itens alimentícios que mais têm pesado no orçamento das famílias nos últimos 12 meses. Com a finalização da colheita da segunda e maior safra (o feijão tem três), havia expectativa de que os preços começassem a recuar, mas, até o momento, o movimento não se confirmou.

O motivo é a falta de chuvas. No Sudeste do País, a seca, que já dura dois meses, deve derrubar os resultados da colheita, com produção de 30% a 40% menor que o estimado inicialmente. Com isso, a saca de feijão carioca, que hoje custa entre R$ 280,00 e R$ 300,00, deve cair para no máximo, preços entre R$ 250,00 e R$ 260,00.

Para o consumidor final, a projeção de momento é de preços estáveis, entre R$ 4,00 e R$ 8,00 o quilo, a depender da região, e não de declínio, como se esperava para o atual estágio da temporada. As notícias sobre as lavouras são preocupantes.

No Paraná, o principal estado produtor no período, “mais da metade delas está em situação média ou ruim”, disse Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe).

Segundo o último boletim do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado, até o dia 10 de maio, 28% das lavouras de feijão estavam em condições ruins e 44% em condições médias, o que já indica uma quebra de 33% na safra. A colheita no estado, estimada inicialmente em 394.000 toneladas, deve ficar em cerca de 260.000 toneladas.

O quadro é igualmente preocupante em Minas Gerais, segundo maior produtor de feijão na segunda safra. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita será de 148.800 toneladas, um volume 15% menor do que o da temporada passada. “A nossa última boa segunda safra de feijão foi em 2018/19, com 360.000 toneladas. De lá para cá, tivemos ou seca ou excesso de chuvas no período inadequado”, disse Lüders.

Em seu oitavo levantamento da temporada atual, a Conab estimou que a produção total de feijão cores (onde está inserido o carioca) será de 534.000 toneladas, 6,20% menos que em 2019/20. A soma das três safras do carioca em 2020/21 está estimada em 1.9 milhão de toneladas, 7,10% menos que no ciclo anterior.

O presidente do Ibrafe afirmou ainda que o feijão concorre com o milho por área de produção. Com os preços do milho hoje próximos de suas máximas históricas, o plantio da leguminosa fica menos atraente.

“O produtor faz uma conta simples e bem conhecida. Para compensar o plantio de feijão, a saca tem de estar 2,43 vezes mais cara que a de soja ou quatro vezes mais que a de milho”, disse o dirigente. “Para o plantio valer a pena para o produtor, a saca deveria custar hoje mais de R$ 365,00”.

As importações não são uma alternativa para reduzir o preço do feijão carioca ao consumidor final, já que só o Brasil consome a variedade, e, assim, não há fornecedor externo.

A única opção viável para a indústria nacional é importar o feijão preto da Argentina, onde está em fase de colheita, mas ele também enfrenta problemas com a falta de chuvas. A saca de feijão só deve sair do patamar atual em agosto ou setembro, quando começar a colheita de terceira safra, estimou Lüders.

Em anos como 2021, sob influência do fenômeno climático La Niña, a solução é a irrigação, informou o meteorologista Luiz Renato Lazinski, em nota divulgada pelo Ibrafe. “Sabemos que nem todos têm essa possibilidade, mas a produtividade seria muito maior”. Entre os efeitos do La Niña estão secas no oeste dos Estados Unidos e em partes da América do Sul e excesso de chuvas em outros pontos do planeta.

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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