Pouca ou nenhuma chuva no centro-sul do Brasil na primeira quinzena de setembro praticamente impossibilitou o plantio de soja na região no período. Os poucos agricultores que optaram por iniciar o plantio desta safra 2019/20 no Paraná, primeiro estado a plantar no País, o fizeram em áreas mínimas, só para testar as condições do solo.
“Até choveu no fim de semana dos dias 21 e 22 de setembro, mas em volume insuficiente e em regiões isoladas. Será preciso mais água para zerar o déficit hídrico do solo”, disse Marcelo Garrido, economista do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Paraná.
Segundo o órgão, apenas 3% da área que será destinada à oleaginosa no estado (5.47 milhões de hectares) foi semeada até o dia 23, contra 18% no ano passado e também abaixo da média de 11% da dos últimos três ciclos.
Ainda não é possível falar em quebra da produção de soja no Paraná por causa desse atraso, mas certamente o plantio da safrinha de milho de inverno, depois de colhida a soja, ficará mais exposta a geadas, o que vai diminuir seu potencial.
“O produtor sempre quer plantar mais rápido para ter folga para semear o milho e reduzir o risco de geada. Mas esta safra tende a ser ‘normal’ e não repetir o desempenho de 2018/19”, afirmou Garrido. Na safra anterior, o plantio de soja foi um dos mais acelerados da história, não só no Paraná, mas em todo o País, o que possibilitou a aceleração do desenvolvimento do grão e antecipou a colheita para o fim de dezembro.
No Paraná, porém, a exposição da soja ao calor excessivo acabou quebrando a safra em 17%. A expectativa inicial era de 19.6 milhões de toneladas, mas ficou em 16.2 milhões de toneladas. Para esta safra, a estimativa, até agora, é de 19.8 milhões de toneladas.
“Não há previsão de chuvas para os próximos dez dias na minha fazenda, mas tenho esperança de conseguir semear alguma coisa em pelo menos 15 dias. Caso contrário, tenho medo do que pode acontecer com a safra de milho”, disse Cléber Veroneze Filho, produtor de Maringá, que pretende destinar toda sua área de 430.000 hectares para a soja no verão. No ano passado, afirma, no fim de setembro, o plantio da temporada 2018/19 já estava concluído.
O boletim agro meteorológico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informa que não há previsões de El Niño ou La Niña e o ciclo deve ficar no chamado “normal climatológico”, o que, em contrapartida, tende a favorecer o desenvolvimento das lavouras de soja.
Em Mato Grosso, principal estado produtor do País, o plantio também começou em ritmo muito lento. Segundo levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), apenas 1,70% da área estimada em 9.7 milhões de hectares foi cultivada, contra 4,20% no ano passado. O estado deverá produzir 32.8 milhões de toneladas de soja em 2019/20, com aumento de 1% em relação ao ciclo anterior.
“As áreas de pivô e irrigadas não tiveram movimento na última semana”, afirmou Cleiton Gauer, do Imea. Segundo ele, nas próximas duas semanas a expectativa é de chuvas.
“Mas não estamos muito otimistas com as previsões para a segunda quinzena do mês, que é o principal período de plantio no estado”, disse. “Se até o fim de outubro, que é o período recomendado, os produtores não plantarem toda a soja, não terão janela de plantio do algodão e do milho na segunda safra”.
No Rio Grande do Sul, que disputa com o Paraná a segunda posição na produção de soja, o plantio começará em outubro e ganhará força em novembro. E a perspectiva é que o clima colabore. Segundo a Rural Clima, a expectativa é que as chuvas ocorram somente a partir da semana que vem. O estado deverá produzir 19.5 milhões de toneladas em 5,9 milhões de hectares – 100.000 toneladas a mais do que em 2018/19.
Valor Econômico