Depois de ver um aumento acima de 30% nas exportações do ano passado, a indústria de arroz avalia que as vendas externas do Brasil recuarão em 2021, mas os preços devem seguir elevados ao longo do ano, mantendo a pressão sobre a inflação do País.
Uma safra nacional estagnada nos últimos anos, uma demanda interna firme e um câmbio favorável a exportações ajudam a explicar o cenário de mercado sustentado.
As exportações de arroz do país estão estimadas neste ano em 1.5 milhão de toneladas (base em casca), uma queda frente ao volume de 1.82 milhão de toneladas embarcado em 2020, que foi o segundo maior da história. Ainda assim, os embarques em 2021 ficarão acima do total de 1.36 milhão de toneladas de 2019, disse à Reuters o Diretor de Assuntos Internacionais da associação do setor Abiarroz, Gustavo Trevisan.
Ele lembrou que no ano passado a chegada da pandemia do Coronavírus gerou temores sobre segurança alimentar no mundo, e importantes fornecedores, como Índia e Tailândia, reduziram os embarques.
Isto causou uma ruptura global na oferta e abriu espaço para que países como o Brasil, que são também importantes importadores, avançassem nas exportações, o que não deve se repetir na mesma intensidade em 2021.
“Constaram que o arroz brasileiro é de muitíssima qualidade, assim como o da América do Sul, e por isso estamos otimistas para as vendas deste ano”, disse o executivo que também faz parte do projeto Brazilian Rice, da Abiarroz em parceria com a Apex-Brasil, focado em impulsionar o produto no mercado externo.
Trevisan ressaltou que, atualmente, o principal comprador do Brasil é o Peru e destacou negócios feitos com os Estados Unidos, Venezuela, México, países da América Central e africanos. “Mas estamos trabalhando em outras frentes para fornecer ao Oriente Médio e Europa”, disse.
Na mesma linha, o analista da consultoria Safras & Mercado Gabriel Viana acredita que, mesmo com a retomada de mais vendas da Índia e Tailândia neste ano, o Brasil ganhou competitividade, apoiado também pelo câmbio.
“Alguns países próximos acabaram comprando da gente e podem continuar nessa temporada”, disse.
Apesar das estimativas otimistas para as vendas, Viana disse que, por enquanto, não há probabilidade de que o Brasil tenha que aumentar o nível de importações no fim do ano para atender a demanda interna, como aconteceu em 2020. Segundo ele, o principal efeito será sentido nos preços.
Em plena colheita no Brasil, que tem cerca de 70% do arroz colhido no Rio Grande do Sul, segundo o Instituto Rio Grandense de Arroz (IRGA), o aumento da oferta não foi suficiente para trazer os preços a níveis próximos dos vistos em anos recentes.
As cotações se afastaram dos picos acima de 100 por saca vistos em 2020, mas seguem em patamares elevados.
O indicador do arroz em casca ESALQ/Senar-RS encerrou a terça-feira cotado a cerca de R$ 87,00 a saca, aumento de 60% no comparativo anual, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).
“O arroz compromete cerca de 0,50% do orçamento familiar… ele já corresponde a 6,60% da inflação acumulada no país em 12 meses, medida pelo índice IPC Brasil”, disse o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), André Braz.
Ele disse que a colheita do cereal gerou reduções de 1% a 2% nos preços internos entre fevereiro e março, quedas muito pequenas quando comparadas ao aumento acumulado em 12 meses, ano passado, parte da pressão altista se deu também por um aumento no consumo interno, especialmente por aqueles que contaram com o auxílio emergencial.
“A queda é bem-vinda, mas não levou o arroz para o patamar de preço negociado no início do ano passado… e não há perspectiva de que o preço continue caindo, ele deve continuar com esse novo patamar de preço, pressionando o custo de vida das famílias.”
Ele ressaltou ainda que uma diminuição na produção contribui para este cenário de ajuste na oferta e custos elevados.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que a colheita da safra 2020/21 deve atingir 11.09 milhões de toneladas, ligeira queda de 0,80%. No Rio Grande do Sul, a queda é estimada em 1,70%, para 7.73 milhões. As duas reduções são puxadas por perda de produtividade, após um longo período de seca no 2º semestre de 2020.
Do lado do consumo interno, a Conab estima uma queda anual de 200.000 toneladas, para 10.8 milhões de toneladas, enquanto as importações também terão recuo semelhante, para 1.1 milhão de toneladas.
Fonte: Reuters
Equipe SNA