Exportação de manga é resposta para a seca no norte de Minas Gerais

O sol é de rachar. A falta de chuvas, um problema histórico, se intensificou mais ainda nos últimos cinco anos na região. Mas esses fatores não enfraquecem a produção de manga no norte de Minas, onde o cultivo irrigado da fruta virou uma alternativa para a superação da seca.

Uma das vantagens da manga é que ela exige uma quantidade de água relativamente baixa, se adaptando muito bem ao clima semiárido. Nessas condições, a fruta, que antes era apenas meio de subsistência, com o “costume” das famílias da zona rural de terem um pé de manga no quintal de casa, agora virou sinônimo de lucros para os agricultores, que, além do mercado nacional, estão exportando para a Europa, Oriente Médio e Canadá.

Atualmente, o norte do estado tem cerca de seis mil hectares de manga plantados, com uma produção anual de cerca de 20 mil toneladas. Mas a perspectiva é de chegar a sete mil hectares cultivados até o início de 2018.

“Existe uma tendência de crescimento do plantio na região, por causa da economia obtida com o uso eficiente da água. Para se ter uma ideia dessa economia, a quantidade de água gasta na irrigação da manga equivale a 40% do consumo de água nas lavouras de banana, a cultura tradicional da região”, disse Moacir Brito, consultor de mangicultura e coordenador da câmara setorial da manga da Associação dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte).

Ele salienta que, com o uso eficiente do recurso hídrico, o agricultor pode manter a cultura com água retirada do poço tubular. Pode também fazer a irrigação complementar das plantas somente nos períodos que a chuva faltar. “Mas o produtor precisa ter em mente que, mesmo exigindo pouca água, a planta sempre precisa ser molhada” disse Brito, salientando que a mangueira precisa ser irrigada na fase de desenvolvimento dos frutos.

Os pomares avançam em vários municípios norte-mineiros. A maior concentração está nos perímetros irrigados do Jaíba (abastecido com água do Rio São Francisco), projeto sediado no município homônimo e que também alcança a cidade de Matias Cardoso e do Gorutuba (abastecido pela Barragem do Bico da Pedra, entre os municípios de Janaúba e Nova Porteirinha). Nos dois projetos de irrigação, os agricultores enfrentam a restrição hídrica por causa da seca. Somente o Projeto Jaíba tem uma área plantada de 1.780 hectares de manga em produção, segundo a Abanorte.

A variedade mais cultivada nos plantios irrigados do sertão norte-mineiro é a Palmer (95%). Também estão começando a ser plantadas na região as variedades Kent e Keit. “São variedades voltadas exclusivamente para o mercado europeu”, explica Moacir Brito. Com 75 mil hectares plantados, o Brasil é o sétimo maior produtor mundial de manga. O maior produtor mundial é a Tailândia (340 mil hectares).

Segundo o consultor, atualmente, 20% da manga norte-mineira é destinada para exportação, com o produto chegando a países europeus como Portugal (um dos maiores compradores), Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Bélgica e Holanda, além do Canadá (América do Norte) e do Oriente Médio. Como a fruta é perecível, o transporte é feito de avião, com a saída pelos aeroportos de Cumbica (Guarulhos/SP) e Viracopos (Campinas/SP).

Oferta

O norte de Minas é a região com maior regularidade na oferta de manga no Brasil em comparação com outros polos produtores do país. É o que apontou pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba.

“Isso é resultado do trabalho de indução floral, feito graças ao excelente planejamento e escalonamento por parte de técnicos, pesquisadores e produtores da região”, disse Brito, citando a eficiência da gestão da atividade pela Abanorte e o trabalho de pesquisa desenvolvido por professores e acadêmicos do curso de Agronomia do Campus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em Janaúba.

Com a técnica de indução floral, a espécie produz praticamente o ano inteiro. Com emprego de novas tecnologias, os produtores conseguiram também antecipar o início da produção da manga. Outro ponto observado foi o aumento do adensamento dos pomares, com maior número de plantas por hectare. Antes eram 250, em média; agora, são plantados 1.200 pés de manga por hectare.

Hoje, os pomares irrigados do norte de Minas já começam a produzir com apenas 20 meses depois de plantados. A produtividade também aumentou e, hoje, oscila entre 25 e 30 toneladas por hectare em pomares com quatro ou cinco anos. “As boas técnicas, associadas à boa receptividade das tecnologias pelos produtores, têm permitido a boa qualidade e o avanços da cultura da manga no sertão norte mineiro”, disse Moacir Brito.

 

Fonte: Estado de Minas

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