As exportações do agronegócio brasileiro para países árabes recuaram 8% em valor e 3% em volume de janeiro a maio, pressionadas pela queda no comércio de carnes, segundo dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira obtidos pela Reuters. Enquanto isso, a China surge como opção mais competitiva aos frigoríficos de bovinos.
Ao mesmo tempo, os prejuízos econômicos deixados pela pandemia do novo Coronavírus começam a limitar o poder de compra no mundo árabe e avança a aposta na produção local.
O Brasil exportou 5.48 milhões de toneladas em produtos agropecuários para os árabes nos cinco primeiros meses do ano, contra 5.65 milhões de toneladas exportadas no mesmo período de 2019.
Somente em carne bovina o recuo foi de 30% no período, para 108.000 toneladas, segundo os dados da Câmara, enquanto no segmento “aves” as vendas de carne e miúdos caíram 2,6% de janeiro a maio, para 616.000 toneladas, diminuindo 11,50% em valor, para US$ 904 milhões. A exportação de gado vivo também recuou, para 42%.
Os embarques de açúcar e soja cresceram 20,80% e 71,40%, respectivamente, mas não foram suficientes para compensar as perdas deixadas pelo setor de proteína animal.
“O Brasil está exportando cada dia mais carne bovina para a China por causa dos preços que estão sendo praticados lá. Isso mexe (com a oferta) para o mundo árabe, não tem jeito”, disse à Reuters o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour.
Para justificar os preços mais elevados pagos pelos chineses, Mansour acredita que “sem dúvida” a China está comprando mais para formar estoques. Segundo ele, somente na área de bovinos há esta competição direta, considerando a cesta de produtos que o agronegócio brasileiro comercializa para o mundo árabe, em linha com os preceitos halal.
O consultor em Gerenciamento de Riscos da INTL FCStone sobre o mercado do boi gordo, Caio Toledo, concorda que os chineses vinham pagando “muito mais” pela proteína bovina ainda na esteira dos efeitos da Peste Suína Africana (PSA), e com os valores mais competitivos causados pela alta do câmbio no Brasil.
“Só não podemos precisar a dimensão deste valor em relação ao preço médio porque é muito variável. Depende do tipo de corte, de onde está localizado o frigorífico e qual é a companhia importadora”, disse.
Em um surto que já se estende desde 2018, a PSA deve desencadear uma queda de mais 15% a 20% na produção de suínos na China em 2020, conforme estimativa do Rabobank divulgada nesta segunda-feira, motivando importações desta e de outras carnes.
Dados do Ministério da Agricultura indicam que, nos cinco primeiros meses do ano, as exportações de carne bovina do Brasil para a China aumentaram 128%, de 126.000 para 287.400 toneladas.
Efeito Covid-19
Na avaliação por país, o levantamento da Câmara Árabe indica que os mercados que mais baixaram suas compras de carne bovina do Brasil foram Egito (-35,40%) e Emirados Árabes (-58,20%).
Segundo Mansour, no caso dos Emirados Árabes, a queda nas importações está atrelada à desaceleração econômica que, por sua vez, se deve aos efeitos do novo Coronavírus.
“Os Emirados funcionam como um hub de comércio internacional. Eles importam do Brasil para exportar a outros países da Ásia”, afirmou o secretário. Desta forma, a redução nas compras significa que também houve limitação nas vendas para a região.
No caso da carne de frango, o diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, avalia que a queda vista naquele mercado também se deve à pandemia.
“Os Emirados Árabes têm muito turismo, que caiu muito por conta das medidas de isolamento contra a disseminação da Covid-19”, disse Santin, considerando que houve redução no poder de compra na região.
Perspectivas
O aumento de 71,40% nas exportações de soja para o mundo árabe de janeiro a maio, para 716.000 toneladas, ocorreu por causa do aumento na demanda para processamento e fabricação de farelo para alimentação animal, além da produção de óleo de soja, afirmou Mansour.
“Creio que o setor de carnes também está aquecido nos países árabes, por incrível que pareça, e elevaram a demanda por grãos para processamento, o que é positivo para o comércio da oleaginosa do Brasil”.
Apesar do recuo nas exportações do agronegócio do Brasil para os árabes, o secretário acredita em uma recuperação motivada pelo aumento de vendas de aves para o Egito.
“Ainda podemos fechar o semestre empatando com o ano passado ou com leve queda de 1%. Também vemos uma demanda por produtos agropecuários brasileiros surgindo em países que não são compradores tradicionais, como o Barein”.
Para 2020, Mansour evitou fazer projeções devido ao grau de incertezas relacionado ao Coronavírus.
Reuters
