O consumo de algodão no Brasil tende a seguir estagnado em 2014. A indústria nacional deverá absorver entre 800 mil e 900 mil toneladas da pluma para produção de fios e tecidos, volume semelhante ao dos três anos último. O aumento de 36% previsto pelo governo e pelo setor produtivo para a colheita nesta safra 2013/14, portanto, deverá ser mais uma vez absorvido pelas exportações, que poderá aumentar quase 45%, para US$ 1,2 bilhão.
A safra brasileira da pluma acabou de ser plantada – a semeadura da segunda safra em Mato Grosso ainda não foi concluída -, e 47% da produção de 1,6 milhão de toneladas esperada já foi vendida antecipadamente, o equivalente a um volume de 750 mil toneladas, de acordo com estimativas da Associação dos Exportadores de Algodão (Anea).
As exportações deverão absorver em torno de 640 mil toneladas desse total, segundo o presidente da entidade, Marco Antônio Aluísio, o que poderá gerar uma receita próxima de US$ 1,18 bilhão levando-se em conta os preços atualmente praticados na bolsa de Nova York. Se confirmado, o montante será 43% maior que os US$ 820 milhões que deverão ser gerados com os embarques de cerca de 430 mil toneladas da pluma colhida no ciclo 2012/13, cujos embarques ainda estão sendo realizados.
A indústria nacional já chegou a consumir até mais de 1 milhão de toneladas da pluma, nas temporadas 2009/10 e 2010/11. Mas, nas últimas três safras, esse volume caiu e passou a esbarrar no teto de 900 mil toneladas. Embora a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projete uma demanda interna em 2013/14 de 920 mil toneladas de algodão, a indústria de fiação e tecelagem do país não aposta em um volume superior a 900 mil toneladas.
Não que o mercado brasileiro de confecções esteja andando de lado, explica o diretor executivo da associação que representa essa indústria, a Abit, Fernando Pimentel. “Neste ano, o aumento deverá se situar no patamar de 3%”, diz o executivo. A questão central é que, mesmo com o câmbio desfavorável à importação, a entrada de tecidos e roupas de fora do Brasil tende a continuar avançando este ano, entre 5% e 6%. Com isso, a indústria nacional prevê uma perda de 2 pontos percentuais de “market share” no mercado brasileiro.
“A desvalorização cambial, presente no Brasil, também está em curso na Turquia, Índia e Indonésia, principais exportadores de roupas ao Brasil. Somente a China não passa pelo mesmo momento cambial, mas tem uma inflação bem menor que a do Brasil, o que a mantém competitiva”, explica o executivo da Abit.
Atualmente, segundo estimativas da entidade, o produto importado representa 30% das vendas de fios tecidos e malhas no Brasil. Em confecções, essa participação é de 15% – era de 3% há cinco anos. “As grandes varejistas têm de 25% a 30% de sua oferta vinda de itens importados”, afirma Pimentel.
Alguns desses exportadores de têxteis e confecções ao Brasil são também grandes compradores de algodão brasileiro, largamente usado em suas respectivas indústrias. Em 2013, a Coreia do Sul liderou as compras da pluma brasileira, seguida por Indonésia e China. “Em 2014, esses mesmos países vão manter a liderança”, avalia o presidente da Anea.
Mas não são somente as importações diretas de fios e roupas que afetam o mercado interno. O “turismo para compras”, aliado ao que Pimentel considera um “excesso de limite de bagagem” permitido pelas companhias aéreas nos voos internacionais, também afeta a indústria nacional.
Ele menciona que os brasileiros gastaram no exterior US$ 25 bilhões em 2013, dos quais um quarto com vestuário. “Convertido em reais, esse valor chega a R$ 15 bilhões. O montante equivale à soma do faturamento anual das quatro principais redes de varejo de roupas no país”, afirma. Em volume, os turistas brasileiros trouxeram em suas bagagens em 2013 entre 50 mil e 60 mil toneladas de roupas, de 3% a 3,5% do consumo total de vestuário no país.
A Conab projeta que, da produção de 1,6 milhão de toneladas de pluma do Brasil em 2013/14, 550 mil toneladas serão exportadas e 192 mil toneladas vão compor os estoques finais. Para a Anea, o aumento nos estoques de passagem deverá ser de 60 mil toneladas.
Fonte: Valor Econômico