A SNA dá continuidade à parceria com a Embrapa Soja e seus pesquisadores na divulgação de trabalhos em andamento, ou já concluídos, de cunho acadêmico, informações com profundidade técnica para estudantes, professores e interessados em se aperfeiçoar no agronegócio. Verifique a seguir…..
A Expedição Safra Goiás percorreu cerca de 8 mil km pelo estado, passando por mais de 80 municípios em cinco regiões para realizar um diagnóstico das perdas e verificar as condições em que as plantas de soja eram cultivadas nos diversos sistemas de produção. Estima-se que a produtividade será reduzida de 65 sc/ha (media da produtividade em Goiás na safra 2022/2023) para 45 a 55 sc/ha, na safra 2023/2024.
A produtividade da soja tem crescido em Goiás desde a safra 2014/2015, passando de 43 sc/ha para 65 sc/ha, em 2022/2023. Muito se deve ao ambiente produtivo, que conta, na maioria das regiões, com solos profundos, cobertura do solo e clima favorável ao desenvolvimento das plantas. Entretanto, devido às variações das condições climáticas, relacionadas principalmente ao El Niño em 2023/2024, a produtividade pode ter sofrido uma significativa redução. Para verificar essa situação “in loco”, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) coordenou a Expedição Safra Goiás.
Objetivo da Expedição
Verificar as situações das lavouras, fazendo um diagnóstico das perdas e verificar as condições em que as plantas de soja eram cultivadas nos diversos sistemas de produção. Para isso, foram envolvidos vários técnicos de diversas instituições, os quais trabalharam em conjunto para o levantamento de dados e informações que pudessem ser relacionados aos impactos da seca e alta temperatura, que predominaram no estado durante os meses de novembro e dezembro. A população de plantas, altura, número de nós, conteúdo de clorofila de folhas, número de vagens (quando possível) e sanidade geral das plantas foram avaliados.
De modo geral, houve perdas de produtividade em todas as regiões de Goiás. Estima-se que a produtividade será reduzida de 65 sc/ha (media da produtividade em Goiás na safra 2022/2023) para 45 a 55 sc/ha na safra 2023/2024. Essas perdas estão relacionadas principalmente a ocorrência de estresses abióticos como seca aliada a alta temperatura.
A combinação é particularmente prejudicial para as plantas, pois a alta energia incidente sobre as folhas não é adequadamente dissipada pela transpiração, já que a falta de água no solo induz a um fechamento dos estômatos da planta. Com isso, ocorre a formação intensa de compostos (chamados de espécies reativas de oxigênio) que causam alterações em várias moléculas da folha, diminuindo a fotossíntese e, consequentemente, a produtividade.
Figura 1. Roteiros das equipes técnicas da rota 1 (em amarelo) e da rota 2 (em verde) durante o percurso da Expedição Safra Goiás.
Devido a uma grande desuniformidade nas chuvas, algumas regiões foram menos impactadas que outras. Assim, em locais mais elevados e com manejo que estimula a retenção de água pelo solo e o crescimento da raiz (por exemplo: formação de palhada na superfície, formação de um perfil de fertilidade no solo, utilização de microrganismos que estimulavam o crescimento radicular, entre outros), foram percebidas as menores perdas. Com uma mesma cultivar e plantio em épocas semelhantes, observamos produtividades de 103 sc/ha e outras de 50 sc/ha em áreas de pivô (em Água Fria e Edeia, respectivamente) e de 55 sc/ha e de 15 sc/ha em áreas de sequeiro (em Mineiros e Edeia, respectivamente).
Clima e tecnologia
Os produtores também relataram dificuldades no plantio. Pela falta de chuva, muitos tiveram de estender a janela de plantio, fazendo semeaduras até em 10 de janeiro. Houve produtor que levou 65 dias para efetivar completamente o plantio. Esse atraso no plantio pode ter influência negativa na produtividade da safrinha de milho, já que essa foi “deslocada” para frente devido ao plantio tardio da soja. Além disso, também foram verificados muitos replantios (em praticamente todo o estado) e, em algumas áreas, foram relatados até três replantios.
Mesmo áreas com pivô ficaram sujeitas a perdas, pois a água do reservatório também foi comprometida pela seca, como foi o caso de São Miguel do Araguaia. Foram notadas também redução da inoculação na maioria dos locais visitados, especialmente em áreas sem cobertura do solo e com textura mais arenosa. Um produtor em Vicentinópolis relatou temperatura de até 72ºC na superfície do solo, utilizando um termômetro infravermelho.
Como citado anteriormente, alguns produtores de Goiás também têm buscado e adotado tecnologias para reduzir o impacto da seca aliada a alta temperatura, na produtividade das plantas. Técnicas já conhecidas pelo produtor, como o plantio direto, integração lavoura pecuária, correção da fertilidade no perfil do solo, entre outras, têm desempenhado um papel fundamental na manutenção da produtividade frente às mudanças climáticas. Contudo, não foram raras as áreas de soja sem adoção dessas tecnologias.
Outras linhas de pesquisa também têm buscado soluções para redução os efeitos da seca e alta temperatura nas lavouras. Aplicações de protetor solar de plantas e de biofilmes apresentam um bom potencial de utilização na redução da temperatura da folha, diminuindo a transpiração e mantendo a fotossíntese em níveis adequados para a planta.
A utilização de microrganismos benéficos também mostra possibilidade de ganhos na promoção do crescimento radicular e alteração do metabolismo da planta, reduzindo o efeito dos estresses. No entanto, muitas dessas tecnologias ainda encontram-se em desenvolvimento e validação.
A pesquisa, em parceria com os produtores, tem buscado cada vez mais inovar e desenvolver técnicas que promovam o crescimento radicular, a infiltração/retenção de água no solo, e a proteção do solo e da planta contra a perda excessiva de água. Assim, apesar das perdas já constatadas em Goiás, esperamos que em um futuro próximo possamos reduzir a intensidade dos efeitos adversos dos estresses de seca e alta temperatura na produção vegetal.