Etanol de milho poderá ser alternativa energética para centro-norte do Brasil

Helio Sirimarco: ‘O etanol da cana ainda não foi capaz de se tornar uma alternativa viável para todo o território nacional’

 

A produção de milho no Brasil tem apresentado alta taxa de crescimento. Nos últimos 37 anos, passou de 19 milhões de toneladas, em 1976, para 79 milhões de toneladas na atual safra. Nos últimos 10 anos, o ritmo desse crescimento se tornou mais forte, especialmente em função do aumento da produção da chamada “safrinha” (safra de inverno), que desde 2004 dobrou de tamanho, ultrapassando, inclusive, a safra principal (safra de verão).

O Brasil está exportando até para os Estados Unidos, e a maior parte sai de Mato Grosso – o estado que mais produz milho no país e que deve enviar para o exterior, em 2013, quase 13 milhões de toneladas do grão.

A partir desse quadro favorável, cresce a cada ano o interesse por parte de empresas nacionais do agro em melhor utilizar e valorizar a produção interna, com investimentos no etanol de milho.

A Fiagril, uma esmagadora de soja de capital nacional, baseada em Lucas do Rio Verde (MT), prevê investir US$ 100 milhões (R$ 230 milhões) para produzir etanol de milho a partir de 2015. A companhia planeja construir uma usina com capacidade para esmagar 500 mil toneladas do grão por ano – volume suficiente para produzir até 200 milhões de litros do biocombustível. Se concretizada, será a primeira usina de etanol do país concebida para esmagar exclusivamente milho. Atualmente, duas usinas de cana-de-açúcar no estado – Usimat e Libra Etanol – estão adaptadas para processar o grão. Outras estudam fazer a conversão.

Expansão

O diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, Helio Sirimarco, defende essa expansão. “O etanol da cana ainda não foi capaz de se tornar uma alternativa viável para todo o território nacional. Altos custos de logística e estagnação no crescimento da produção têm impedido que o etanol seja competitivo nas regiões mais distantes dos centros de produção. Já a produção de etanol de milho poderá incentivar o crescimento do cultivo do milho em áreas hoje pouco utilizadas na safra de inverno”, explicou.

Apesar de o etanol extraído da cana exigir um custo de 30% a 40% menor que o produzido a partir do milho, como é o caso dos EUA, o diretor da SNA garante que o problema hoje não é o custo de produção e, sim, o preço de venda.

“Por exemplo, o Mato Grosso produz pouco menos de um bilhão de litros de etanol de cana. Segundo mostram alguns estudos, o biocombustível de milho é competitivo com o da cana. Com o preço do milho a R$ 13 por saca, que é o preço mínimo de garantia no estado, existe uma margem de até 20% em relação ao etanol de cana vendido em Mato Grosso. Em Sorriso, a cotação do milho caiu abaixo de R$ 8 na semana passada, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA)”, observou Sirimarco.

Contudo, a venda da safra de milho do Mato Grosso está atrasada em relação ao mesmo período do ano-safra anterior. Um levantamento do IMEA indica que 44, 1% das cerca das 21,9 milhões de toneladas colhidas ainda não foram comercializadas.

Caso a estratégia do etanol seja bem-sucedida, poderá significar uma alternativa energética para o centro-norte do Brasil. “Nessa região, os preços dos combustíveis líquidos são os mais altos de todo o país, e o etanol será uma forma de viabilizar ao menos parte do ainda gigantesco potencial de produção de milho em Mato Grosso. Além disso, outros estados grandes produtores de milho, como Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul também poderão se beneficiar”, afirmou o diretor da SNA, acrescentando que, “a princípio, o etanol de milho seria competitivo em mercados como os dos estados de Mato Grosso, Pará, Acre e Amazonas”.

Recentemente, o senador Blairo Maggi (PR), reforçou junto ao governo a sua intenção de prosseguir com as discussões sobre a possibilidade de investimentos e incentivos do governo do federal para produção de etanol a partir do excesso de milho, principalmente em Mato Grosso.

No caso do sul do país, Sirimarco afirma que não há interesse na produção de etanol, já que a demanda por derivados do milho é grande. “Para se ter uma ideia, segundo dados do MAPA, uma tonelada de milho produz entre 380 e 400 litros de etanol. Da mesma forma, uma tonelada de milho produz cerca de 200 kg de farelo para produção de ração e 20 litros de óleo”.

Impacto ambiental

As boas perspectivas deixam também transparecer uma certa polêmica quanto ao impacto ambiental da atividade. “Há preocupações com relação à sustentabilidade da produção do etanol, principalmente no que se refere à eventual necessidade de novos desmatamentos para ampliar as áreas de plantio, visando o atendimento da demanda mundial crescente ou à degradação ambiental causada pelo uso de fertilizantes e pesticidas na lavoura do milho. Pelo menos a curto prazo, não há temor evidente de um aumento desenfreado do consumo de etanol que venha a mexer significativamente com o mercado do produto”, declarou Sirimarco.

No entanto, a grande questão para o diretor da SNA está relacionada às perspectivas de um futuro mercado internacional de etanol, no qual o Brasil já se candidata como grande provedor do combustível alternativo. “Qual será o custo desse processo de transformação em termos ambientais, sociais, políticos e econômicos, e quem estará disposto a arcar com eles? A resposta só deve vir com o tempo.”

Por Equipe SNA/RJ

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