Em vista das mais de 9,5 milhões de toneladas em resíduos de laranja, especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) avançaram nas pesquisas de etanol a partir do bagaço da fruta e buscam investimentos da indústria para que o biocombustível possa ser comercializado em meados de 2016.
A entidade já mantém parceria com a Citrosuco, uma das principais processadoras de suco de laranja do País, para expansão de uma usina da companhia localizada na região de Matão, em São Paulo. A ideia é melhorar a relação custo-benefício na produção do biocombustível para que ele seja competitivo no mercado.
“Começamos no desenvolvimento desta tecnologia em meados de 2009. Nos últimos três anos mantivemos a parceria com a Citrosuco, que já produz um etanol de primeira geração a partir do licor da laranja. Estamos propondo um mecanismo de fermentação por hidrólise, através de enzimas que ajam direto no bagaço e cheguem ao biocombustível de segunda geração”, explica a pesquisadora da Unicamp, Ljubica Tasic.
De acordo com a professora, como esta indústria já tem uma usina, o projeto de expansão custaria pouco mais de R$ 300 mil. Esta medida daria aos pesquisadores um espaço para finalização dos testes a ponto de baratear os custos de produção.
“Atualmente, o processo de fermentação fica entre dois ou três dias. Com melhores instalações, poderíamos mobilizar as enzimas e fermentar em menos tempo”, diz Tasic.
Questionada sobre o assunto, a companhia não disponibilizou porta-vozes para um posicionamento oficial.
Entretanto, o presidente do Sindicato Rural de Tabatinga e Ibitinga, Frauzo Ruiz Sanchez, confirmou que os processos envolvendo a produção de etanol a partir da laranja ainda estão em caráter experimental, mas a Citrosuco é a indústria mais engajada com o tema.
Na mesma linha, o presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, disse ao DCI que a companhia, de fato, trabalha com a fabricação do biocombustível, mas sua comercialização ainda era economicamente inviável.
De acordo com o website do Departamento de Agricultura e Serviços ao Consumidor do estado da Flórida (Doacs), a subsidiária da brasileira Cutrale nos Estados Unidos mantinha projetos para fabricação de etanol a partir dos resíduos da laranja em meados de 2008. Procurada pela reportagem, a companhia também não deu um posicionamento sobre a fabricação do biocombustível no Brasil.
Em relação aos impactos econômicos desses processos na cadeia produtiva do segmento, o presidente da Câmara Setorial da Laranja, Marco Antônio dos Santos, acredita que a geração deste subproduto não seria significativa a ponto de ajudar financeiramente os produtores.
MERCADO
A citricultura tem apresentado dificuldades para escoamento da produção nesta safra, tanto que já foram realizados dois leilões de Prêmio Equalizador de Preço Pago ao Produtor (Pepro), uma medida do governo federal para que o produto não seja comercializado abaixo do preço mínimo.
Para tanto, foram disponibilizados R$ 50 milhões. Porém, independente da quantidade de leilões, cada citricultor só pode vender até dez mil caixas da fruta.
Santos conta que, do montante total, apenas R$ 15 milhões foram utilizados no Pepro.
“Como ainda existe um valor significante disponível para leilões e dez mil caixas é muito pouco para ajudar o produtor, vamos ver se conseguimos aumentar para 30 ou 40 mil caixas por citricultor”, afirma o presidente.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vai sediar, hoje (21), uma reunião extraordinária da câmara setorial da citricultura em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para definir esta possível modificação na quantidade das laranjas para comercialização no próximo leilão Pepro que acontece no dia 29 deste mês.
“Esta é a principal pauta da reunião, mas também vamos aproveitar para discutir o endividamento do setor e o andamento da safra atual”, diz Santos.
Para ele, a única medida emergencial que auxiliaria na recuperação da citricultura seria a desoneração de PIS e Cofins sobre o suco de laranja.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), as vendas de laranja no mercado de mesa ainda seguem desaquecidas. O comentário de agentes consultados pelo instituto é que, além da oferta elevada, a demanda ainda não reagiu, ao contrário do esperado pelo setor para o início do mês.
Fonte: DCI