Etanol com pegada negativa de carbono com potencial para obter sobre preço nos mercados internacionais
O evento Carbonless Summit 2024 realizado nos dias 4 e 5 de novembro no CREA/SP organizado pela Hidroplan e pela CCS Brasil, reuniu técnicos, legisladores, tomadores de decisão e indústrias para discutir temas relacionados à captura e armazenamento de carbono: Uso de tecnologias para armazenar carbono no solo, Etanol com pegada de carbono negativa, Investimentos e mercados de carbono, Aspectos legais e casos práticos.
O etanol proveniente de um processo de fabricação, que ao final captura e armazena no solo o carbono emitido na fase de fermentação se configura, na prática, em um biocombustível avançado de pegada negativa de CO2, com potencial para obter sobrepreço por este atributo a mais de sustentabilidade.
Foi o que destacou na terça-feira (5), Mohammed Gad, CEO e fundador da consultoria saudita Technical Development Solutions (TDS), sediada em Riade, capital da Arábia Saudita, durante o Carbonless Summit, na Capital paulista. A TDS é especializada mundialmente na tecnologia de captura e armazenamento de carbono (sigla em inglês para Carbon Capture and Storage).
Com a participação de especialistas do Brasil, Canadá, Estados Unidos, Europa e Arábia Saudita, o evento, apresentou entre os principais temas o debate acerca de tecnologias, até então, amplamente utilizadas no segmento petrolífero para ajudar na extração de petróleo sendo empregadas agora para aprimorar ainda mais a sustentabilidade do etanol, viabilizando a produção inédita do biocombustível com pegada negativa de carbono.
Os mesmos equipamentos que injetam carbono para auxiliar o bombeamento do petróleo agora estão prontos para aprimorar a sustentabilidade do etanol que, cada vez mais, substitui a energia de origem fóssil. A biomassa utilizada para fabricação de biocombustíveis é proveniente de plantas, ou seja, durante seu crescimento já há a captura de carbono, sendo que este é novamente lançado na atmosfera quando convertido em energia.
Crédito de carbono
Com base nesta lógica, a atividade de CCS no setor de etanol pode resultar em ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo. “Isso permite que o etanol seja monetizado com ágio em mercados internacionais que valorizam este atributo, como, por exemplo, o da Califórnia”, ressaltou Mohammed Gad.
O CCS, por exemplo, está previsto na lei da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e pode significar oportunidade para a geração de um maior volume de Créditos de Descarbonização (CBios) e consequentemente de renda para as usinas de etanol.
Potencial do CCS no Brasil
O Brasil tem potencial de captura de carbono em torno de 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, considerando o nível atual de atividade econômica do país. Neste sentido, o mercado brasileiro de captura e armazenamento de carbono no solo tem perspectiva de movimentar entre R$ 14 e R$ 20 bilhões anuais, com participação significativa do setor de etanol, indicam estimativas da CCS Brasil. Já o mercado mundial de CCS deve movimentar US$ 3,54 bilhões em 2024, com previsão de atingir US$ 14,51 bilhões em 2032.
O etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil já reduz em até 90% as emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. A captura e o armazenamento do CO2 gerado durante o processo de produção do biocombustível faz com que essa pegada de carbono seja ainda menor, chegando a ser negativa.
Segundo a diretora da CCS Brasil, Nathália Weber, a lei do Combustível do Futuro chegou para estabelecer o marco-regulatório de CCS no país, determinando as diretrizes gerais para a atividade. “A legislação vai dar o arranque definitivo do assunto no Brasil, destravando projetos já engatilhados, que avançam agora para a fase de real implantação. Temos conhecimento técnico, condições geológicas e regramento.”