Estudo prevê investimentos no setor sucroenergético até 2030

Mesmo com a decisão dos Estados Unidos de não participar do Acordo de Paris, o COP 21, que pretende reduzir a temperatura do planeta por meio de estímulos do uso de recursos renováveis de energia, muitos países já estão agindo para adotar medidas concretas de contenção do aquecimento global. O Brasil é um deles e se mantém firme na decisão que foi ratificada pelo governo federal no final de 2016.

Na COP 21, em 2015, o país assumiu o compromisso de aumentar a participação da bioenergia na matriz energética para aproximadamente 18% até o ano de 2030, expandir o consumo de biocombustíveis, ampliar a oferta de etanol, inclusive por meio do aumento da parcela de biocombustíveis avançados e aumentar a parcela de biodiesel na mistura do diesel. Além disso, foi anunciada a meta de alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030.

O caminho encontrado pelo Brasil é o fortalecimento do setor sucroenergético. Apesar dos problemas enfrentados pelas usinas, o país possui um dos mais bem-sucedidos e maiores programas de biocombustíveis do mundo, com a cogeração de energia elétrica a partir da biomassa. Também é um dos países mais expressivos na redução de desmatamento, com uma queda de 79% no desmatamento na Amazônia, entre 2004 e 2015 e com uma matriz energética composta por 40% de energias renováveis.

Um importante aliado para ajudar a alcançar essa meta é o estudo “O setor sucroenergético em 2030: dimensões, investimentos e uma agenda estratégica”, desenvolvido pelo professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Marcos Fava Neves, com Rafael Bordonai Kalaki e outros pesquisadores. O objetivo principal da pesquisa foi, por meio de um pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), posicionar e demonstrar o que o setor precisa fazer até 2030 para conseguir cumprir o acordo assinado em Paris.

Ciclo de desenvolvimento

Segundo o professor Marcos Fava Neves, o Brasil vive atualmente um período que favorece o setor, o da sustentabilidade global. “Está é a terceira grande onda de investimentos nesta área, estimulada pela preservação dos recursos e da temperatura do planeta”, disse o professor em vídeo desenvolvido para apresentar a pesquisa.

O primeiro ciclo foi entre os anos de 1974 e 1975, com o Proálcool e o segundo, entre 2003 e 2004, com a tecnologia flex. O estudo foi desenvolvido em seis meses por meio de entrevistas com produtores, com entidades, especialistas, usinas, workshops e uso de bibliografia.

Para atingir as metas da iNDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) da COP 21, o estudo prevê que até 2030 a produção de etanol brasileiro deva ser de 54 bilhões de litros. Assim, em 2030 será produzido 46,37 milhões de toneladas de açúcar e 76 TWh de bioenergia advinda da biomassa da cana. Na dimensão agrícola, será produzida 942,75 milhões de toneladas de cana por ciclo – 41% maior que a produção atual, de 666 milhões de toneladas, em área cultivada de 11.78 milhões de hectares, com 3.12 milhões de hectares a mais que em 2016.

Neves considera atingir os números se a produção apresentar um Açúcar Total Recuperável (ATR) médio de 148,08 quilos por tonelada, com renovação anual em torno de 20%. “Não é um crescimento impossível de taxa de ATR, pois se considera o uso de tecnologia e a inovação”, disse Neves.

Investimentos

Para conseguir atender aos compromissos assumidos pelo Brasil são necessários investimentos para ampliar a capacidade do setor. O governo brasileiro criou o Renovabio, que busca ampliar a participação dos combustíveis renováveis de forma compatível com o crescimento do mercado e em harmonia com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil no âmbito da Conferência de Paris.

O investimento do setor, no período de 2016 a 2030, em formação de canavial e novas unidades industriais, será de aproximadamente US$ 31.4 bilhões ou R$ 139.4 bilhões. O estudo estima investimentos de US$ 21.4 bilhões, dos quais US$ 4.6 bilhões são destinados para a formação de canavial e US$ 26.8 bilhões nas agroindústrias. O Brasil possui hoje uma capacidade instalada de 750 milhões de toneladas de cana e precisará de um adicional de 298 milhões de toneladas de capacidade instalada.

Ainda é prevista a construção de 80 novas usinas, com capacidade de 3.7 milhões cada. Para a construção destas unidades será necessário o investimento de US$ 26.80 bilhões , ou seja, US$ 90 por tonelada de cana. Para isso é importante uma agenda estratégica. O método utilizado no estudo foi o de Planejamento e Gestão Estratégica de Sistemas Agroindustriais (GESis), desenvolvido pelo professor Marcos Fava Neves em 2008.

Cadeia produtiva e os pilares

A pesquisa também mostra a necessidade e a ampliação de toda a cadeia produtiva, incluindo herbicidas, agentes facilitadores, como fertilizantes, corretivos, defensivos, tratores, implementos, colhedoras, manutenção, combustível e outros. Com o crescimento da cadeia, a arrecadação de impostos aumentará em 126%, saindo de US$ 8.5 bilhões em 2013 para US$ 19.2 bilhões em 2030 de valores destinados ao governo federal, estaduais e municipais.

Além do maior valor no recolhimento de impostos, o setor também irá gerar mais empregos. Em 2030, serão 80 mil novos postos de trabalho diretos e cerca de 240 mil indiretos. A remuneração média mensal de um trabalhador será em torno de US$ 424,00, levando a uma massa salarial total de US$ 1.33 bilhões.

Ainda na área social, o crescimento e o desenvolvimento do setor sucroenergético permitirão a “revolução” em municípios que receberam usinas, como é o caso de Quirinópolis (GO), que antes da instalação de duas usinas tinha 700 empresas, e logo depois passou a ter 3.300 empresas. O desenvolvimento do setor permitirá ainda o uso dos impostos adicionais em políticas de inserção social e distribuição de renda e o fortalecimento do empreendedorismo.

Mais benefícios

Já na área ambiental, o apoio ao Renovabio coloca o Brasil como um Low Carbon Capture, melhorando a qualidade do ar das grandes concentrações urbanas, reduzindo o número de mortes e internações por problemas ligados à poluição do ar. Também permite uma melhoria da conservação de áreas agrícolas, reservas e outros recursos naturais. Além disso, favorece a redução de desperdícios em relação ao transporte, já que a energia será consumida no mesmo local onde será produzida.

Na área econômica, o estudo prevê um aceleramento Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e a melhoria da balança comercial, com a agregação de cerca de US$ 8 bilhões por ano em açúcar e a redução de importação da gasolina. “Representa mais empoderamento para o Brasil”, afirmou Fava Neves.

Conforme já citado, também é esperado crescimento na arrecadação de impostos, não por aumento da alíquota, mas por aumento das transações. “Com a nova dimensão do setor, seriam arrecadados US$ 19.2 bilhões de impostos por ano”, revela a pesquisa, além de promover a interiorização do desenvolvimento do Brasil, movimentando outras cadeias produtivas fornecedoras de serviços para este contingente de investimentos.

 

Fonte: Canal Bioenergia

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