Estudo busca unir qualidade de água e Boas Práticas de Manejo para a aquicultura

Roda d´água em viveiro split-ponds/Foto: Julio Queiroz
Roda d´água em viveiro split-ponds/Foto: Julio Queiroz

O pesquisador Julio Ferraz de Queiroz, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), tem experiência na área de aquicultura com ênfase em avaliação e monitoramento de impacto ambiental, com pesquisas em indicadores físico-químicos e biológicos de qualidade de água e de sedimentos, identificação e proposição de Boas Práticas de Manejo (BPM) e gestão ambiental da aquicultura.

Em outubro de 2012 iniciou seu segundo pós-doutorado na School of Fisheries, Aquaculture and Aquatic Sciences, Auburn University, EUA. Voltou ao Brasil em fevereiro de 2014 e pretende aplicar seus estudos na elaboração de um plano de monitoramento para aumentar a competitividade e a sustentabilidade da aquicultura no Brasil.

O pesquisador buscou avaliar a efetividade de um conjunto de BPM para a produção de peixes e adaptar às condições brasileiras às principais diretrizes do projeto americano Pond to Plate, minuciosamente avaliado quanto a sua estratégia e métodos de abordagem dos pontos fortes e fracos da cadeia produtiva do catfish. O projeto Pond to Plate objetiva melhorar a produtividade e a qualidade dos peixes baseado no processo LEAN Manufacturing que consiste na eliminação de desperdícios para redução dos custos de produção, melhoria da qualidade e na entrega dos produtos a preços competitivos e com efetiva mitigação de impactos ambientais.

Durante os 15 meses de treinamento foi possível avaliar no âmbito do projeto Pond to Plate os sistemas de produção intensiva de peixes em viveiros interligados split-ponds (viveiros separados) e raceways (tanques de cultivo intensivo), além de acompanhar os trabalhos desenvolvidos nos sistemas integrados de produção e hidroponia na estação de piscicultura E.W.Shell Fisheries Center, Auburn University.

Conforme o pesquisador, “tem-se observado um crescimento significativo na utilização de sistemas intensivos de produção devido à elevação dos custos e das crescentes preocupações relacionadas ao uso racional dos recursos hídricos. A maioria desses sistemas intensivos é constituído de raceways, split-ponds e de pequenas unidades de produção instaladas no interior de estufas onde os peixes são mantidos em altas densidades. A ideia é obter o máximo de produção com o menor custo. Algumas variáveis têm sido implantadas, como por exemplo, a integração da produção intensiva em sistemas fechados unidos a hidroponia, denominados aquaponia. Excelentes resultados têm sido obtidos com esses sistemas e a tendência é que esse tipo de integração entre a piscicultura e a produção de vegetais se intensifique”.

Nesse sentido, o crescimento da aquicultura nacional associado à política do Ministério da Pesca e Aquicultua (MPA) para a demarcação das águas públicas para produção de peixes em tanques rede vai exigir um monitoramento e acompanhamento contínuo das práticas utilizadas. As perspectivas são muito auspiciosas, no entanto, será necessário combinar essa expansão com a exploração adequada dos reservatórios onde Parques Aquícolas estão sendo demarcados. O objetivo é garantir a competitividade e a sustentabilidade dos tanques rede, tendo em vista a urgência de promover um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e demográfico necessários ao uso responsável dos recursos hídricos.

Atividades semelhantes realizadas pelo projeto Pond to Plate estão sendo conduzidas pela equipe do Projeto Furnas, MG, como por exemplo, a aplicação de diversos questionários para caracterizar a produção de peixes em tanques rede, além da aplicação do módulo APOIA Aquicultura para avaliar o impacto ambiental e os índices sócio econômicos da produção. O Projeto Furnas prevê o uso de um sistema de monitoramento remoto por satélite para estudar as relações entre o clima, a produção de peixes em tanques rede e a qualidade da água no reservatório.

De acordo com o pesquisador, “a estratégia mais adequada e eficiente para manter o ritmo atual de crescimento da aquicultura no Brasil será por meio da adoção de sistemas de produção mais competitivos e sustentáveis, diretamente harmonizados com as diretrizes do MPA que tem por meta aumentar a produção de peixes em tanques rede em grandes reservatórios em escala nacional”.

Diante disso, as estratégias inerentes a esses sistemas de avaliação poderiam ser adotadas com sucesso para contribuir na complementação de um Mapa de Gerenciamento de Fluxo de Valor para a produção de peixes em tanques rede em diversos reservatórios.

“A inclusão de representantes de todos os setores da cadeia produtiva da produção de tilápia em tanques rede certamente irá trazer novas ideias e novas abordagens para melhorar a produção e a qualidade dos peixes”, acredita o pesquisador. A nutrição, sanidade e segurança, qualidade da água e gestão dos sistemas de produção, despesca e manuseio também devem ser consideradas.

“Em muitos aspectos, os principais desperdícios que foram identificados na produção de catfish nos EUA também podem ser considerados para a produção de peixes no Brasil. Por exemplo, off-flavor (sabor de terra) e tamanho inadequado são um problema comum em ambos os sistemas – viveiros e tanques rede – principalmente, porque os aquicultores não adotam BPM para a alimentação e estocam em demasiado os viveiros e tanques rede. A adoção de um manejo alimentar adequado evitará desperdícios com rações, deterioração da qualidade da água e off-flavor”.

Ainda sem versão em português, foi escrito o Manual for Evaluation of Soil and Water Quality and Proposition of Best Management Practices (BMPs) to Improve Fish Production – composto por duas partes: System of Best Management Practices to Improve Fish Pond Production Management – Part I; Major Pond Bottom Soil Characteristics and Water Quality Variables Affecting Fish Production and Selected BMPs to Improve Fish Production – Part II.

“A ideia é preparar uma versão traduzida especialmente voltada para as características dos sistemas utilizados no Brasil para a produção de peixes em tanques rede em grandes reservatórios, indicando qual seriam as BPM e os indicadores de qualidade de água mais adequados”, diz Queiroz.

O pesquisador conclui que a cooperação entre os diferentes centros de pesquisa da Embrapa com instituições no Brasil e no exterior é fundamental para o sucesso da implantação do plano de monitoramento para aumentar a competitividade e a sustentabilidade da aquicultura no Brasil.

Fonte> Embrapa

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