Estagnação nos preços de frete desagrada caminhoneiros e favorece agricultores na safra 2016/17

Caminhoneiros independentes se aglomeram à frente aos escritórios de agenciamento de frete, nos fundos de um posto de combustíveis em Rondonópolis e com semblantes preocupados, se preparam para mais uma temporada de margens apertadas no transporte da nova safra de soja do País.

O excesso de oferta de caminhões deverá manter os valores do transporte de grãos relativamente estável nos próximos meses, na comparação com a temporada passada, apesar de uma alta do preço do óleo diesel desde o ano passado, representando maior aperto financeiro para quem trabalha com transporte de cargas, mas uma boa notícia para os agricultores.

“Os valores que estão oferecendo mal pagam os custos… O atual nível de preços é o mesmo de 10 anos atrás, mas naquela época não havia tantos pedágios. Isso desestimula o motorista”, disse o caminhoneiro Mauri Jorge Dalbello, com 36 anos de estrada e dono do próprio caminhão, enquanto olhava os valores afixados nas portas das agências.

O frete entre Rondonópolis, importante polo logístico do setor agrícola de Mato Grosso, e o porto de Paranaguá está estimado em cerca de R$ 230,00 a tonelada para fevereiro. Em fevereiro de 2016, o valor recebido pelos caminhoneiros girava em torno de R$ 240,00, segundo agenciadores consultados pela reportagem.

Por outro lado, o diesel, que compõe cerca de metade dos custos de cada viagem, acumula uma alta de 3,1% em Mato Grosso nos últimos 12 meses, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Neste período, pedágios sofreram reajustes nos diversos Estados percorridos pelos veículos de carga e demais insumos, como pneus e manutenção subiram de acordo com a inflação do País.

“A situação não poderia estar pior… A safra já iniciou e os (preços dos) fretes estão desanimadores”, disse o diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso, Miguel Mendes, que representa empresas que operam frotas de caminhões.

Com a ajuda de um clima favorável, Mato Grosso saiu na frente na colheita da safra 2016/17, que deverá ser recorde no Estado e no País, totalizando 29 milhões e 103.8 milhões de toneladas, respectivamente, segundo a Conab.

Apesar destes volumes elevados, segundo Mendes, o frete segue pressionado. A origem da questão está em programas de incentivo à compra de caminhões com financiamento subsidiado, criados pelo governo federal no início da década. A situação se agravou ainda mais nos últimos dois anos com a recessão econômica do País, que diminuiu o volume de cargas transportadas pela indústria e pelo comércio.

Muitos dos caminhões que operavam com outros produtos migraram para o agronegócio, cujo volume de grãos é insuficiente para absorver toda a capacidade ociosa existente.

Protestos

Caminhoneiros têm fechado diariamente, desde a sexta-feira, alguns pontos de rodovias federais de Mato Grosso em protesto contra os baixos preços do frete, elevando as tensões em um momento de aceleração da colheita e do escoamento da produção agrícola.

Uma das reivindicações é a aprovação de um projeto de lei que tramita desde 2015 na Câmara dos Deputados para estabelecer uma tabela de preços mínimos para o transporte de cargas.

Apesar de menores do que os bloqueios realizados em 2015 em todo o País, os atos de caminhoneiros nos últimos dias já causam problemas. Além de interrupções parciais na região de Rondonópolis, o principal polo logístico de Mato Grosso, também há fechamento da BR-163 em Nova Mutum, prejudicando o fluxo de grãos naquela que é a principal rodovia de escoamento da safra de Mato Grosso.

Logística

A estagnação nos valores de fretes deverá beneficiar, por outro lado, os agricultores.

Apesar de o transporte de longo curso ser contratado pelas empresas que adquirem e exportam a soja e o milho, trata-se de um custo que é descontado do valor pago ao produtor.

A previsão é que os valores subam um pouco nas próximas semanas na comparação com o período de entressafra, em que há demanda bem mais baixa por frete. Contudo, será um repique mais rápido e menos intenso que em outros anos.

“Vai subir agora, mas vai ser por um período curto. O mês de janeiro, por exemplo, já começou bem abaixo de janeiro do ano passado”, disse o gerente regional da Lontano Transportes, Gelso Lauer.

O setor agrícola sofreu com grandes atrasos e filas de caminhões nos portos três anos atrás, em meio à implantação de uma legislação que limitou a jornada de trabalho dos caminhoneiros e reduziu momentaneamente a capacidade de transporte da frota.

A projeção do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) é de que a safra 2016/17, por seu volume recorde, será um novo desafio para a logística do Centro-Oeste.

Alguns fatores, contudo, devem evitar grandes gargalos nesta temporada, incluindo a grande disponibilidade de caminhões na região. A chegada recente de um ramal ferroviário a Rondonópolis, que passou a ter ligação com o porto de Santos, além do crescente volume de grãos que é canalizado para os novos terminais na região amazônica, desafogando as vias de acesso ao litoral do Sul/Sudeste do país, são boas notícias para os produtores, segundo o superintendente do IMEA, Daniel Latorraca.

“Isso tudo foram mudanças que ocorreram desde o último grande gargalo de escoamento de safra”, disse o executivo.

Ainda assim, a logística permanece no radar dos agricultores, que temem repiques de preço, especialmente em meados do ano, quando a safra de soja já estiver colhida e entrar a nova colheita de milho em Mato Grosso.

“Eu me preocupo com o frete. Teremos um grande volume de grãos, o diesel tem subido e as empresas estão buscando recuperação de valores”, disse o diretor do Sindicato Rural de Rondonópolis e produtor de soja Eduardo Tomczyk.

 

Fonte: Reuters

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