Especialistas estimam novo recorde de exportações do agro em 2021

A importância do agronegócio para o comércio internacional do Brasil e, em consequência, para as reservas nacionais e a valorização das ações das empresas do setor na bolsa, tem crescido ao longo dos anos.

A tendência é de manutenção deste cenário diante da perspectiva de novo recorde histórico a ser atingido em 2021, quando as exportações do setor devem superar US$ 105 bilhões, acima do resultado do ano passado, de US$ 101 bilhões, segundo estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A soja em grão permanece como carro-chefe do agronegócio, com estimativa de exportação entre 85 milhões e 87 milhões de toneladas, equivalentes a cerca de US$ 38 bilhões, valor mais elevado que os US$ 28.6 bilhões do ano passado e 82.9 milhões de toneladas. Apesar de positivo para o setor, o cenário acena para mudanças relevantes à vista.

Minério de ferro

Após seis anos na liderança da pauta de exportações totais do país, a soja deve ceder o posto para o minério de ferro neste ano. O comportamento dos preços das commodities ditará o desempenho do comércio internacional. “A soja será o segundo maior item exportado. Tudo indica que o minério voltará a ser o principal em 2021, por causa do aumento dos preços”, afirmou José Augusto de Castro, presidente da AEB.

Ainda assim, o Brasil permanece na posição de maior exportador mundial de soja em grão. A mudança de cenário ocorreu neste ano e surpreendeu a AEB. O aumento do preço do minério de ferro, que passou de US$ 65,00 (média do ano) para US$ 128,00 a tonelada, no primeiro semestre de 2021, foi decisivo para as estimativas. “A tendência é de alta”, disse Castro.

Preço

O preço da tonelada de soja em grão também subiu, mas em proporções inferiores. A alta foi de 22%. Já em relação ao volume, a perspectiva é de queda no segundo semestre em relação à quantidade exportada entre janeiro e junho deste ano, de 59 milhões de toneladas, o que equivale a 70% do total projetado para o ano.

“Hoje, o que está em questão é o preço. Na importação, vemos aumento de quantidade e pequeno aumento de preço. Nas exportações, há grande elevação de preços e pequena alteração nos volumes comercializados”, afirmou o presidente da AEB. As importações do agronegócio, segundo a associação, devem fechar o ano em US$ 17 bilhões, valor superior aos US$ 14 bilhões de 2020.

Aumento da demanda

A pressão sobre preços, que devem permanecer em patamares superiores aos de 2020, resulta do aumento da demanda por produtos agrícolas no mercado global, sobretudo por parte da China.

O mundo passa atualmente por um processo de recomposição de estoques e, paralelamente, o Brasil vem ampliando sua produção. “O cenário para a Balança Comercial do agronegócio é muito positivo”, disse Lígia Dutra, diretora de Relações Internacionais da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Além do complexo da soja, está previsto crescimento das vendas externas de açúcar, algodão e de carnes suína e bovina.

As exportações de algodão aumentaram 19,40% no ano-safra 2020/2021 em relação ao anterior, devido, em boa parte, à campanha bem-sucedida de promoção do produto na Ásia.

Milho

Segundo Lígia Dutra, apenas o milho deverá registrar queda de exportação em função do atraso na safra deste ano. A estimativa da CNA sobre o desempenho do comércio de milho está em linha com a da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

Sérgio Mendes, diretor da instituição, observa que a seca em 2021 resultará na redução de 20% da safra. “Devemos importar milho este ano. Além disso, as exportações serão menores, ficando em cerca de 20 milhões de toneladas, menos que os 33 milhões de 2020”. Já as importações deverão chegar a de 3.1 milhões de toneladas, provenientes, basicamente, da Argentina e do Paraguai.

Em 2020, o Brasil foi o segundo maior exportador internacional do grão, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2021, seguindo tendência das demais commodities, os preços do milho também subiram. “Estamos em novo ciclo de alta, que deve ser de médio prazo. Hoje, o preço médio do milho no Brasil já é o mais alto do mundo”, disse Mendes.

As exportações de milho entre janeiro e junho de 2021 totalizaram US$ 734.8 milhões e no mesmo período de 2020 foram de US$ 561.6 milhões. Nos cinco primeiros meses de 2021, o preço da tonelada de milho aumentou 20%; a do farelo de soja, 26%; e a de óleo, 62%.

Participação

Ainda assim, a pressão sobre preços do agronegócio não tem acompanhado o ritmo de alta nos demais produtos exportados, como minério e petróleo. Por conta disso, o setor agrícola respondeu, no primeiro semestre de 2021, por 45,30% do total das exportações brasileiras, participação inferior aos 50,50% do mesmo período do ano passado, segundo a CNA.

Nada que represente motivos de preocupação. Ao contrário. Trata-se do segmento mais representativo na Balança Comercial do País. “O Brasil tem vocação para contribuir com o abastecimento do mundo, é uma grande oportunidade de negócios”, disse Elisio Contini, autor, ao lado de Adalberto Aragão, ambos da Embrapa, do estudo “O Agro no Brasil e no mundo: uma síntese do período de 2000 a 2020”.

No ano passado, o País foi o maior exportador global de grãos, em valor. Foram US$ 37 bilhões, relativos a 123 milhões de toneladas, o que representou 19% das vendas internacionais. Nos últimos 20 anos, o agronegócio exportou mais de 1.1 bilhão de toneladas, US$ 419 bilhões, equivalentes a 12,60% do total comercializado no mundo.

Segurança alimentar

Neste ano, nos cinco primeiros meses, o volume de produtos exportados pelo agronegócio nacional aumentou cerca de 7% em relação ao mesmo período de 2020, segundo Andreia Adami, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

A pressão global por maior importação de produtos agropecuários, para a especialista, vem da preocupação com segurança alimentar, em decorrência da pandemia da Covid-19. “Muitos países estão interessados em aumentar a compra de alimentos também para estocagem de produtos. A tendência é de crescimento de 15% na importação de alimentos no comércio comércio mundial este ano”, disse.

Complexo soja

As exportações de soja em grão, entretanto, tiveram desempenho inferior, com pequena alta de apenas 1%, nos primeiros cinco meses de 2021. O atraso na colheita no início do ano afetou os embarques, contribuindo para elevação de preço. Houve problemas climáticos, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, outro grande produtor.

Ainda assim, a safra deste ano, segundo Daniel Amaral, economista-chefe da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), será cerca de 10 milhões de toneladas superior à de 2020. Isso ampliará a exportação de grãos em 4,50%, segundo estimativa da Abiove, embora reduza o esmagamento da soja no País, gerando menos farelo e menos óleo.

O complexo soja (grão, farelo e óleo) exportou US$ 35.2 bilhões em 2020. Para este ano, a Abiove estima um valor total de US$ 52.4 bilhões, o equivalente a cerca de 50% das exportações previstas para todo o agronegócio, refletindo, sobretudo, a alta de preços da commodity, mas também maior volume.

Mercado importador

A China permanece como principal mercado importador, concentrando 69% das vendas externas brasileiras de soja no primeiro semestre deste ano e com previsão de adquirir, até dezembro, 103 milhões de toneladas de soja em grão do Brasil, superior as 100 milhões de toneladas de 2020.

A segunda posição, da União Europeia, de 15%, demonstra o elevado nível de concentração das vendas brasileiras para o mercado chinês.

“A China representa quase 60% das importações mundiais”, disse Amaral, lembrando que o crescimento das exportações brasileiras de soja ocorreu de forma mais acelerada em 2018, com a guerra comercial entre China e Estados Unidos, segundo maior produtor global.

Com a normalização das relações, a tendência é de aumento das vendas dos Estados Unidos para o mercado chinês. Até porque a diversificação faz parte da estratégia chinesa. O Brasil, por sua vez, atua para abrir e ampliar mercados, como o do sudeste asiático e o africano, que tendem a demandar mais grãos com o maior acesso da população à segurança alimentar.

Ainda assim, Lígia Dutra, da CNA, afirmou que há espaço para exportações de novos itens para a China. “É um mercado importante e o Brasil explora pouco as oportunidades. Quando se pensa no agronegócio como um todo, há espaço para mais parcerias na Ásia”, disse ela , citando a exportação de mel, frutas frescas, fruta processada, café e castanhas.

Com esse objetivo, a CNA abriu escritório em Xangai. “É a região do mundo com maior crescimento da população e de renda. Nossa presença na Ásia é menor do que deveria ser. O que o Brasil tiver para vender, terá gente para comprar”, concluiu Lígia.

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

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