Diversas propostas para incentivar o desenvolvimento e a modernização do agro no Rio foram apresentadas no dia 20 de fevereiro, durante o seminário “Possibilidades do Agronegócio no Estado do Rio de Janeiro”. Participaram do encontro na Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) especialistas do setor, representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), membros da Academia Brasileira de Medicina Veterinária (Abramvet), entre outros.
Na abertura do evento, Luiz Octavio Pires Leal, editor da revista Animal Business Brasil e coordenador do seminário, disse que “o agro no Rio depende hoje de técnicas modernas de produção, comercialização e industrialização” e que as sugestões divulgadas no seminário “serão de utilidade para os empreendedores do agronegócio e administradores públicos”.
DESAFIOS PARA A SECRETARIA DE AGRICULTURA
O primeiro palestrante, Alberto Figueiredo, ex-secretário de Agricultura do Estado do Rio e diretor da SNA falou sobre a realidade e os desafios do setor e apresentou sugestões que, segundo ele, poderão beneficiar, de forma estrutural, a atual Secretaria de Agricultura.
Para Figueiredo, um dos maiores desafios para o estado é liberar 850 mil hectares de terra, hoje ocupadas com pastagens, para outras atividades. “Além de aumentar a produtividade das áreas, precisamos liberar espaço para outras culturas e ampliar a participação da produção interna no consumo do estado”
Segundo o ex-secretário, para que esses objetivos sejam alcançados, é fundamental o conhecimento do uso do solo. Os técnicos, principalmente os envolvidos com pesquisas, precisam ter acesso aos dados do setor. “Isso será importante para identificar onde há potencial para determinadas culturas e indicar a diversificação de atividades”, disse.
Figueiredo sugeriu também a criação de coordenações técnicos e câmaras setoriais para adaptar os resultados das pesquisas no estado e capacitar os técnicos para assistência. Para a agricultura familiar, destacou a importância do fomento ao associativismo e o incentivo à agroecologia com agregação de valor a produtos no interior do estado, assim como a integração do varejo com o consumidor final e o fomento ao turismo no campo como forma de unir a atividade urbana e rural.
Figueiredo disse ainda que são necessários investimentos na comunicação via internet e telefonia rural; em projetos alternativos de energia, como a solar, por exemplo; na destinação correta dos dejetos de propriedades que, segundo o especialista, poderiam melhorar as condições do solo, e no plantio de essências exóticas, atividade que, para Figueiredo, pode gerar receita adicional.
QUADRO ATUAL
Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) da SNA, chamou a atenção para a questão dos recursos e para o esgotamento do montante de US$ 160 milhões destinado pelo Banco Mundial, nos últimos anos, para o agronegócio e outros setores do estado. Segundo Sylvia, atualmente o Rio enfrenta um quadro de pouca industrialização, escassez de financiamento, diminuição de lavouras permanentes, produção de leite insuficiente, importação de produtos, entre outros aspectos.
Diante disso, a coordenadora da SNA propôs a elaboração de um programa para criar mão de obra e indústrias, ressaltando que os especialistas que se formam no Rio geralmente encontram campo de trabalho fora do estado. Sylvia falou sobre a necessidade de se criar produtos com valor agregado e de transformar produtos provenientes de outros estados para venda no Rio; defendeu a criação de parcerias entre os setores público, privado e terceiro setor, e entre produtores e agroindústrias, e destacou a necessidade de se criar um estado diferenciado e de incentivar negócios sustentáveis nas esferas econômica, social e ambiental.
PRODUTIVIDADE E CRÉDITO RURAL
Questões como escala de produção, produtividade, crédito rural, tecnologia e assistência técnica também foram debatidas durante o seminário “Possibilidades do Agronegócio no Estado do Rio de Janeiro”.
No painel “Tamanho não é documento”, Fábio Ramos, diretor da Agrosuisse, afirmou que é muito comum ouvir no meio agrícola que ‘se não há escala de produção, não há viabilidade econômica’. “Não acredito nisso, e isso nem sempre foi comprovado”, observou, acrescentando que “de 80% a 90% das fazendas no Rio não ganham dinheiro ao tentar alcançar uma escala de produção grande”.
O especialista destacou que a rastreabilidade e o monitoramento da produção facilitam a análise de resultados e a tomada de decisões. “É uma exigência do consumidor e do estado para a garantia da qualidade do alimento”. Além disso, Ramos disse que os municípios precisam criar circuitos onde o setor agropecuário esteja aliado ao turismo como forma de incentivar a cultura em torno de determinado tipo de produção. No caso do Rio de Janeiro, Ramos destacou a força da produção orgânica. O palestrante também disse que é necessário “apostar em pessoas capacitadas para fazer a gestão da propriedade, uma vez que o Rio possui centros de excelência de formação em ciências agrárias”.
ORGANIZAÇÃO
Em outro painel, o médico veterinário e auditor fiscal agropecuário Carlos Alberto Magioli, abordou a questão da segurança dos alimentos de origem animal. “Como conciliar a proteção à saúde do consumidor, o atendimento às peculiaridades do mercado consumidor e o desenvolvimento econômico, com a segurança alimentar?”, questionou.
No âmbito da fiscalização, o especialista chamou a atenção para o problema da inspeção nominal, ou seja, quando o produto leva em seu rótulo a chancela do órgão fiscalizador, mas na verdade não é fiscalizado. “Isso acontece porque o órgão não tem estrutura para isso. Já o consumidor, quando vê esse selo de inspeção, compra o produto”, explica Magioli, que falou também sobre o problema de inspeção nos abatedouros.
VALORES DE CONSUMO
Pesquisa e ensino foram os temas da palestra do economista e chefe geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins. No início de sua apresentação, Martins declarou que “o Rio é um estado com muito futuro em termos de agro, e que tem a vantagem de abrigar consumidores com potencial que merecem ser melhor trabalhados”.
Martins afirmou que hoje em dia os consumidores são questionadores e procuram valores baseados em qualidade e sustentabilidade. “Quem não produzir vinculado a isso, não tem mercado. O consumidor é o que comanda”, ressaltou.
Ao falar sobre estratégias para o desenvolvimento do agro no estado, o chefe geral da Embrapa Gado de Leite mencionou a valorização da produção local e de cadeias curtas; a priorização de produtos diferenciados com valor agregado e investimentos em bioeconomia, compartilhamento e economia circular que, segundo Martins, “são conceitos que hoje garantem retorno financeiro”.
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
No último painel, Ricardo Mansur, médico veterinário e ex-diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), falou sobre a carência de profissionais que prestam assistência aos agricultores. No caso da Emater, citou que existem apenas 298 técnicos para atuar nos 72 escritórios locais da empresa.
Em relação ao sistema de crédito rural, Mansur anunciou que a Emater tornou-se correspondente do Banco do Brasil e, com isso, o produtor rural não precisará mais operar seu crédito junto à instituição financeira, podendo fazer esse procedimento junto à empresa de assistência técnica.
O especialista também chamou a atenção para a falta de recursos no setor, disse que é preciso manter convênios municipais “para oxigenar a estrutura a fim de que ela funcione”, e destacou o êxito do programa Rio Rural que, segundo ele, “apesar de não contar mais com recursos do Banco Mundial, continuará a ser implementado no estado”.
O Seminário “Possibilidades do Agronegócio no Estado do Rio de Janeiro” foi realizado pela SNA, com o apoio da Abramvet e do Conselho de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ), sob a coordenação de Luiz Octavio Pires Leal.
Equipe SNA/Rio