Maurício Lopes: Brasil, da dependência a um dos maiores provedores de alimentos do mundo

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Presidente da Embrapa, Maurício Lopes, sobre a produção de cereais: “Dizer não à biotecnologia é dizer não à racionalidade”. Foto: Cristina Baran

 

Uma das palestras mais aguardadas pelos participantes do 14º Congresso de Agribusiness, promovido pela Sociedade Nacional de Agricultura, no Rio de Janeiro, foi a do presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes. O palestrante participou da abertura do evento na quinta-feira, 7 de novembro, e debateu sobre o tema “Cenários e desafios para as próximas décadas – Oportunidades para o agronegócio brasileiro na produção de alimentos”.

De acordo com o presidente, “estamos entrando em uma era para, talvez, uma consolidação da chamada inteligência coletiva (IC) nos modelos formais de organização e governança. E os desafios transfronteiriços, de grande complexidade, por sinal, estão relacionados às mudanças climáticas, à segurança biológica e aos cybercrimes. O mundo está em mudança e este é o grande desafio para o futuro”.

O que Lopes chamou de “o novo jogo” vem apresentando mercados dinâmicos, com necessidade de mais transparência, formados por instituições mais globais, mais flexíveis. “É o que denominamos de ‘People Power’, que surge diante da necessidade de reagir em relação à inoperância e à perplexidade, sob a forma de pressão para fora dos modelos formais”, ressaltou.

O presidente da Embrapa ainda reforçou que os “estresses térmicos, hídricos e nutricionais tenderão a se intensificar nos trópicos, em paralelo com o crescimento das pressões para descarbonização das economias”. Estes problemas, continua ele, também fazem parte do cenário do agronegócio para as próximas décadas. “A aceleração do processo de urbanização vai continuar e a mão-de-obra vai se tornar cada vez mais escassa. Desta forma, o agronegócio vai depender mais das máquinas, dos equipamentos e da automação, que, inclusive, ajuda a reduzir a penosidade no campo, podendo atrair os jovens para o meio rural”, afirmou. Em sua opinião, é necessário começar a construir rapidamente uma nova geração de profissionais no campo.

Ainda dentro do cenário de desafios para as próximas décadas, Lopes salientou que a taxa de crescimento da produtividade de cereais, por exemplo, está em declínio e “dizer não à biotecnologia é dizer não à racionalidade”.

 

REVOLUÇÃO

O presidente da Embrapa citou que o país passou pela primeira revolução do agro, ocorrida nos últimos 40 anos. “Superamos problemas de dependência e agora aparecemos para o mundo como um dos maiores provedores de alimentos. Dentro deste processo, ressaltamos que o progresso da economia e a sustentabilidade são perfeitamente compatíveis.”

Lopes defende que crescimento e sustentabilidade não são conceitos antagonistas, mas complementares. “É possível ter prosperidade econômica com melhoria ambiental e social”. Para ele, existe uma sinergia entre os dois campos. “É o meio ambiente gerando novas oportunidades econômicas, de crescimento e inclusão.”

Na segunda revolução, a agricultura será cada vez mais pressionada na direção da multifuncionalidade não só na produção de alimentos, fibras e energia, mas de alimentação, nutrição, saúde, serviços ambientais e ecossistêmicos, entre outros. A segunda revolução do agro brasileiro, diz ele, “vai depender de sermos capazes de responder às exigências do mercado e de ir além de produzir só alimentos, fibra e energia”. E os dificuldades a serem enfrentados nas próximas décadas estão relacionados à energia, água, alimento, ambiente e pobreza.

 

Por equipe SNA/RJ

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