Dando continuidade à pauta dos bioinsumos e sua importância para as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, o Portal SNA conversou com Marcelo Godoy, presidente da ABINBIO (Associação Brasileira de Indústrias de Bioinsumos). Com mais de 30 anos de experiência no setor agropecuário, Marcelo é um profissional versátil que começou como técnico em agropecuária e passou por diversas funções, incluindo vendas, gerenciamento e empreendedorismo. Sua expertise em práticas agrícolas sustentáveis o destaca como uma voz influente na promoção da inovação em biotecnologia para o desenvolvimento agrícola no Brasil. Atualmente é também o CEO da Simbiose, empresa brasileira líder do setor de insumos biológicos.
Ele responde, a seguir, sobre aspectos complementares a respeito do projeto de lei recém aprovado que regulamenta o setor, além de explicar a origem dos conceitos equivocados sobre o uso desses produtos na agricultura. Além disso, reafirma a contribuição dos bioinsumos para manter a qualidade dos alimentos produzidos no Brasil, bem como analisa os próximos passos para aproximar produtores das mais avançadas tecnologias, com pesquisa científica, diálogo e segurança jurídica. Confira!
SNA: Após alguns anos de tramitação, o Projeto de Lei 658/2021, que regulamenta e incentiva a produção de bioinsumos no país, foi aprovado na Câmara dos Deputados e tem chances de ser promulgado ainda em 2024. Qual a importância desse marco regulatório, pelo qual produtores, empresas e entidades como a ABINBIO lutaram tanto?
Godoy: A aprovação da PL 658 é um grande marco para o setor dos bioinsumos. Além disso, o trabalho realizado junto aos órgãos legislativo e executivo na capital federal permitiu uma aproximação entre a indústria de bioinsumos e os produtores rurais, o que, sem dúvida, fortalece o agronegócio e a indústria brasileira. Como associação, temos total clareza de que o segmento precisava de uma regulação que garantisse segurança tanto para a indústria quanto para o produtor, e, sem dúvida, entendemos que a aprovação do PL 658 oferece, em grande parte, essa segurança. Agora, nossa missão é continuar o trabalho em Brasília, erguendo sempre as bandeiras do agro, da indústria e da nossa amada pátria, pois somos referência na produção de alimentos e em tecnologias microbiológicas para todo o planeta.
SNA: No caso específico dos defensivos, a sociedade ainda sofre com a desconfiança propagada por ideólogos que ignoram dados científicos e documentos oficiais, os quais atestam a qualidade e segurança dos produtos utilizados, bem como a higidez dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. Como enfrentar melhor esse problema, já que as informações estão disponíveis?
Godoy: Entendemos que a informação deve chegar não somente às mesas dos escritórios das associações ou órgãos reguladores, mas também à mesa do consumidor, para que este saiba que o nosso agro é referência não apenas em produtividade, mas também em segurança para os consumidores. A indústria busca sempre desenvolver tecnologias seguras, para que o produtor tenha ferramentas cada vez mais eficientes, que não causem danos ao meio ambiente e à saúde humana. A Abinbio, junto a outras associações, Embrapa e órgãos regulatórios brasileiros, vêm buscando cada vez mais levar as informações corretas para que todos saibam que o alimento produzido em nosso país é ambientalmente correto e seguro para o consumo.
SNA: A cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, bem como suas diversas ramificações, vive um paradoxo: possuem bancadas parlamentares fortes, entidades de representação atuantes e é um pilar econômico do país. Mas, simultaneamente, sofre com estigmas e antagonismos propagados por falsos especialistas e até autoridades públicas. Por que tantos ainda se ressentem do que deveria ser um orgulho nacional?
Godoy: Algumas pessoas levam as ideologias políticas a níveis nos quais o discernimento humano é colocado em cheque e, com isso, setores como o agronegócio se tornam alvo de injúrias que acabam contaminando, muitas vezes, não apenas as pessoas desinformadas, mas também os países que adquirem parte da nossa produção. Nossa missão como Associação e atuantes do agro é levar a informação correta e, além disso, combater aqueles que agridem o nosso setor produtivo, pois, quando o tema é preservação e segurança alimentar, o nosso produtor, sem dúvida, é uma referência para o mundo.
SNA: A crescente produção e uso de bioinsumos se insere no debate sobre a segurança sanitária da agricultura brasileira, fator que esteve no centro de polêmicas recentes como os casos da Danone e do Carrefour. Como o setor pode ajudar na defesa dos interesses brasileiros diante de ímpetos protecionistas de outros países, disfarçados de preocupação ambiental?
Godoy: Como disse, o nosso agro leva todos os dias para as mesas do mundo todo, alimentos seguros e que respeitam o meio ambiente. Nós, do setor da indústria de bioinsumos, queremos contribuir cada vez mais com o desenvolvimento de tecnologias seguras e, além disso, com campanhas que levem a bandeira da segurança do nosso agronegócio para todo o planeta. Nossos associados estão sempre comprometidos em trazer inovações seguras, que tenham passado pelos mais rigorosos testes junto aos órgãos reguladores (ANVISA, IBAMA e Amapa), e isso garante que os produtos da nossa indústria são eficazes e inertes aos consumidores e ao meio ambiente. Além disso, nossos associados vêm cada vez mais ganhando espaço fora do Brasil e, assim, levando a verdadeira informação de que o nosso agro é, sim, seguro e ambientalmente correto
SNA: Qual o futuro dos bioinsumos num cenário de maior sustentabilidade produtiva, contexto em que o Brasil se destaca e planeja liderar?
Godoy: As tecnologias microbiológicas desenvolvidas no Brasil já são referência para o mundo há alguns anos, e o nosso agricultor vem aumentando a utilização de produtos biológicos a cada ano que passa. Essa receita, com certeza, nos leva a patamares cada vez mais sustentáveis, tanto na visão econômica quanto ambiental, pois os bioinsumos elevam a produtividade nas lavouras, além de serem seguros. Assim, a missão da indústria é manter os níveis de qualidade dos produtos, preços acessíveis e trazer inovações disruptivas que venham a facilitar o dia a dia do produtor quando o assunto for produzir mais e com mais sustentabilidade.