A dificuldade em precificar a soja no mercado futuro está prejudicando ainda mais o ritmo das vendas antecipadas da nova safra brasileira, a 2018/19, que vinham numa toada mais acelerada até maio. Segundo analistas, incertezas em relação aos fretes de transporte e o descasamento entre os preços internacionais e domésticos têm feito as tradings segurarem as compras do grão que começará a ser semeado em meados de setembro no país.
“Já vimos um ritmo mais lento de compra pelas tradings na primeira quinzena de julho. Elas estão com o pé atrás”, disse Luiz Fernando Roque, analista da Safras & Mercado.
Segundo dados da Safras & Mercado atualizados até 6 de julho, as vendas da nova safra brasileira de soja somam 18 milhões de toneladas ou 15,1% de uma produção estimada em 119.8 milhões de toneladas. Mesmo com a perda de fôlego se trata de um ritmo ainda bem superior ao do mesmo período do ano passado, quando estava em 5,1%, e acima da média dos últimos cinco anos (11%).
Na bolsa de Chicago, as cotações estão em queda em decorrência do bom desenvolvimento das lavouras americanas e da perspectiva de recuo nas exportações americanas à China por causa da guerra comercial entre Washington e Pequim. Essa mesma disputa mantém valorizados os prêmios pagos pela soja brasileira nos portos. Enquanto em Chicago os contratos com vencimento em agosto/18 caíram de US$ 10,58 por bushel, no início de abril, para US$ 8,42 ¼ ontem; em Paranaguá (PR) o prêmio pela soja para entrega em agosto subiu de US$ 0,50 por bushel para US$ 2,35 na mesma comparação.
“A guerra comercial fez com que a correlação entre os preços locais e os preços internacionais se perdesse. Assim, as negociações futuras estão sendo impactadas”, disse Guilherme Bellotti, analista do Itaú BBA. Ele observou que nesta época do ano as tradings fecham negócios antecipados com os produtores brasileiros, mas fazem hedge em Chicago para evitar perdas com grandes oscilações de preços.
Apesar de o descasamento de preços prejudicar a comercialização antecipada, para Enilson Nogueira, analista da consultoria Céleres, a nova tabela de fretes mínimos rodoviários para o transporte de cargas no Brasil continua a ser o principal entrave para os negócios.
Corretoras que comercializam soja têm a mesma avaliação. Segundo Vitor Minella, da Meneghetti Corretora de Cereais, de Campo Verde (MT), desde a paralisação dos caminhoneiros são poucos os negócios para a safra 2018/19. “Nas últimas semanas, nada da safra futura foi vendido por aqui. Não saiu nenhum negócio”, disse. Segundo ele, as multinacionais não estão pagando o que o produtor quer receber.
“Sei que até há alguns negócios saindo em Primavera do Leste (MT), por outras corretoras, mas coisa pequena e nada para multinacionais”, disse.
Os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), atualizados até o dia 6, evidenciam isso. As vendas antecipadas de soja da safra 2018/19 no Estado, que lidera a produção no país, avançaram somente 0,18% em relação ao mês anterior, ou 58.200 toneladas. Desde abril, as vendas vinham crescendo ao redor de 2 milhões de toneladas mensalmente. No total, foram vendidas 6.8 milhões de toneladas da safra 2018/19 de Mato Grosso.
Para Nogueira, da Céleres, o produtor conseguiria vender antecipadamente boa parte da safra de soja a ser semeada se houvesse uma definição melhor do custo com o frete. “Isso com boa rentabilidade”, disse. Estimativa de junho da consultoria projetou margem de 33,8% para o produtor de soja em Rondonópolis (MT) em 2018/19, acima dos 31,6% do ciclo passado.
“As tradings não estão conseguindo saber qual vai ser a precificação do frete lá na frente, ou se essa tabela realmente será aplicada”, disse Nogueira. A soja entregue agora está sendo retirada pelas tradings por um frete maior que o orçado quando foram efetivadas as compras. Nesse cenário, as margens das grandes tradings de grãos devem cair.
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