Um dos grandes entraves para que os produtos gaúchos sejam competitivos no mercado internacional está na logística. A opção de priorizar rodovias em detrimento dos demais modais acaba por limitar nossa capacidade de escoamento, gerando onerosos gargalos por todo o Rio Grande do Sul. Por exemplo, utilizamos menos de 700 km de nossas águas navegáveis. Esse cenário de estagnação, que impede o desenvolvimento estadual, motivou entidades representativas do setor produtivo a se unirem e criarem a Associação Hidrovias RS, lançada nesta quarta-feira (16/5), na sede da Farsul. O objetivo é fomentar o aproveitamento efetivo das hidrovias, não apenas para o transporte por água, mas também como fator estratégico de atração de novos empreendimentos.
A nova entidade é formada por representantes da Farsul, Fiergs, Fecomércio, ABTP, Federarroz e empresas que operam os terminais do Porto de Rio Grande e pretende liderar a mobilização para ampliar o volume de cargas escoadas pelas hidrovias dos atuais 7 milhões de toneladas/ano para 12 milhões. O que significa uma redução do frete em cerca de 40%, garantindo competitividade para a produção gaúcha nos mercados nacional, por cabotagem, e internacional, pela rota marítima do sul da África. Formada por entidades empresariais, cooperativas, investidores e empresas de transporte de passageiros e de cargas, a Associação Hidrovias RS busca unificar as propostas do setor empresarial, hoje diluídas entre os vários segmentos da atividade econômica.
Eleito à presidência nessa primeira gestão, Wilen Manteli, que acumula a função com a presidência da Regional Sul da ABTP, afirma que “Temos uma das logísticas mais caras do mundo. Precisamos mudar isso, apresentar propostas, tomar a dianteira. Essas questões têm de ser lideradas pelo setor empresarial”, defende ele. Manteli também afirmou que “setor dividido é o que o governo mais quer” e que “estamos sendo permanentemente enrolados”.
O presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, falou sobre a urgência de resolver as questões: “É uma situação que já está nos custando muito”. Em abril, o Porto de Rio Grande ficou paralisado por cinco dias justamente por conta da falta de dragagem. Ele também falou sobre medidas para buscar um melhor cenário para os produtores de arroz. “Precisamos exportar R$ 1.5 milhão no terminal que está deficitário lá, da extinta Cesa, e que precisa de investimento para operar”.
A meta é construir, juntamente com o governo, um modelo permanente e auto-sustentável de gestão para a realização de serviços de dragagem e de segurança para as embarcações nas hidrovias do Estado. Para isso, a proposta é de uma concessão em um sistema similar ao das rodovias. Além da sugestão para que governos e prefeituras criem parques hidroviários para a atração de empreendedores.
O estado conta com as lagoas Mirim e dos Patos, além dos rios Jacuí, Caí, Taquari, Gravataí e dos Sinos, todos navegáveis em grande parte dos seus cursos, formando uma rede de 1.200 km de extensão. Se há cinco décadas ela era utilizada em sua plenitude, ao longo dos anos foi encolhida em 500 km. O resultado é um transporte mais caro, com alto consumo de combustível e mais poluente. Uma única chata de 5.000 toneladas seria responsável por retirar 110 carretas das estradas. O resultado é que o custo de logística corresponde a 12,7% do PIB brasileiro e 19,46% do PIB gaúcho, bem acima de nossos concorrentes, como os EUA, onde esse custo equivale a 7,8%.
Ao considerar somente o setor agrícola, o produtor rural, além do excessivo custo do frete, pode perder em média R$ 1,00 por saco por diminuição de prêmio de exportação da soja em decorrência da deficiência logística e da crônica falta de dragagem do Porto de Rio Grande. Abrimos mão de nosso diferencial competitivo. O Rio Grande do Sul é o único estado do país que tem ligação ao seu porto marítimo por terra e por água. Essa característica deveria ser aproveitada dentro do conceito de intermodalidade de transporte como alavanca de competitividade dos produtos gaúchos para exportação e redução no preço dos importados.
Os países desenvolvidos utilizam as hidrovias para transportes de grandes volumes a longas distâncias, deixando o modal rodoviário para menores trechos, onde sua eficiência é comprovada. Outra grande vantagem de um rio ou lago navegável, além do custo mais barato do transporte, é a possibilidade de atração de empreendimentos produtivos de pesca, passageiros e de turismo ao longo de suas margens. Colaborando na geração de riquezas, empregos, tributos e no aumento de carga a ser transportada por todos os modais. São mais de 50 municípios que poderiam explorar essas áreas, formando verdadeiros polos produtivos. Estudos estimam que cada emprego no porto gera outros cinco na cidade.
Segundo o Banco Mundial, o cone sul da América possui uma grande oportunidade para incrementar as relações comerciais com a África e a Ásia. Em ambas existem portos com sessenta pés de profundidade, permitindo a ancoragem de navios com grande capacidade de carga. Em nosso continente, entre a Argentina e o porto de São Sebastião, apenas Rio Grande tem condições de ter essa profundidade, o que não ocorreu pela inércia e burocracia brasileira.
Fonte: Farsul