Entenda a febre amarela, seus riscos, os tratamentos e a vacina

Febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por vetores artrópodes, que possui dois ciclos epidemiológicos distintos de transmissão: silvestre e urbano. A vacina é a principal ferramenta de prevenção e controle da doença. Foto: Shutterstock

Pelo menos três casos de febre amarela foram registrados nos últimos dias na região metropolitana de São Paulo. Dois pacientes morreram e um está internado no Hospital das Clínicas, na capital. Os dois mortos seriam visitantes que foram passar as festas de fim de ano em Mairiporã.

No fim de semana, a Secretaria do Governo Geraldo Alckmin anunciou a ampliação da vacinação contra a doença para todo o Estado.

Para que a imunização seja estendida, a vacina será fracionada –no Brasil, ela é aplicada em dose única, seguindo recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Durante entrevista no fim de semana, o secretário de Estado de Saúde, David Uip, afirmou que as vítimas não eram vacinadas.

O surto de febre amarela que atingiu o Brasil em 2017 foi o maior com número de casos em humanos desde 1980. De dezembro a junho do ano passado, foram confirmados 777 casos e 261 mortes pela doença no País.

Em setembro, o governo federal deu o surto como encerrado. O último caso tinha sido registrado em junho, no Espírito Santo.

A DOENÇA

A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por vetores artrópodes, que possui dois ciclos epidemiológicos distintos de transmissão: silvestre e urbano. A vacina é a principal ferramenta de prevenção e controle da doença.

É importante, no entanto, entender a diferença entre a febre amarela urbana e a silvestre. Do ponto de vista etiológico, clínico, imunológico e fisiopatológico, a doença é a mesma nos dois ciclos.

No ciclo silvestre da febre amarela, os primatas não humanos (macacos) são os principais hospedeiros e amplificadores do vírus, e os vetores são mosquitos com hábitos estritamente silvestres, sendo os gêneros de mosquitos transmissores Haemagogus e Sabethes os mais importantes na América Latina.

Nesse ciclo, o homem participa como um hospedeiro acidental ao adentrar áreas de mata. No ciclo urbano, o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica e a transmissão ocorre a partir de vetores urbanos (Aedes aegypti) infectados. Por isso, a população não deve descuidar dos criadouros dos mosquitos.

A dica é sempre adotar hábitos como armazenar lixo em sacos plásticos fechados, manter a caixa d’água vedada e não deixar água acumulada em calhas. Também é importante encher com areia os pratinhos dos vasos de plantas e tratar a água de piscinas e espelhos d’água com cloro.

FATORES DE RISCO

Pessoas que nunca entraram em contato com a febre amarela ou nunca se vacinaram correm o risco de contrair a doença ao viajarem a locais em que a doença é ativa, mesmo que não haja casos recentes reportados.

Muitas pessoas não apresentam sintomas e quando os apresentam, os mais comuns são:

– febre;
– dores musculares no corpo, principalmente nas costas;
– dor de cabeça;
– perda de apetite;
– náuseas e vômito;
– olhos, face ou língua avermelhada;
– fotofobia;
– fadiga e fraqueza.

Os sintomas nesta fase da doença costumam durar entre três e quatro dias e passam sozinhos.

No entanto, algumas pessoas podem desenvolver sintomas mais graves cerca de 24 horas após a recuperação dos sintomas mais simples. Nesta fase, chamada de tóxica, o vírus pode atingir diversos órgãos e sistemas, mas principalmente o fígado e rins.

Os sintomas dessa fase são:

– retorno da febre alta;
– icterícia, devido ao dano que o vírus causa no fígado;
– urina escura
– dores abdominais;
– sangramentos na boca, nariz, olhos ou estômago.

Em casos ainda mais graves, o paciente pode apresentar delírios, convulsões e até entrar em coma.

TRATAMENTO

O tratamento é apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indicado.

Nas formas graves, o paciente deve ser atendido em Unidade de Terapia Intensiva. Salicilatos devem ser evitados (AAS e Aspirina), já que seu uso pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas.

O Ministério da Saúde recomenda que todas as pessoas que moram ou têm viagem planejada para áreas silvestres, rurais ou de mata verifiquem se estão vacinadas contra a febre amarela. Em geral, a vacina passa a fazer efeito após um período de dez dias.

VACINA E SUAS CONTRAINDICAÇÕES

A vacina contra febre amarela é feita com vírus vivos, enfraquecidos a ponto de não provocar uma infecção, apenas fazer com que o organismo reconheça e comece a produzir anticorpos.

No entanto, em idosos ou crianças abaixo de seis meses de idade, o sistema imunológico está debilitado e é possível que, em vez de ter proteção, a pessoa desenvolva a doença como um efeito colateral, explica a coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Ana Karolina Marinho.

“É uma reação importante, como se fosse a infecção pela febre amarela, porém causada pela vacina. Só se pode vacinar acima de 60 anos se for um idoso saudável e não tiver nenhuma doença importante que provoque a queda na imunidade”, alerta.

No caso dos bebês, Leandro Giro, pediatra coordenador do CTI Pediátrico do Centro Pediátrico da Lagoa, do Grupo Prontobaby, explica que eles apresentam um risco maior a efeitos colaterais.

“Em situações de emergência epidemiológica, vigência de surtos, epidemias ou viagem para área de risco, o médico deverá avaliar o benefício e o risco da vacinação para estes grupos”, explica.

Já os alérgicos a ovo também podem ter problemas com a vacina, pois o imunizante é desenvolvido no ovo de galinha. “A contraindicação é para quem tem choque anafilático a ovo. No caso de reações leves, pesamos o custo benefício da aplicação da vacina”, explica Ana Karolina.

Confira abaixo algumas dúvidas sobre a doença!

Qual é a diferença entre a febre amarela silvestre (FAS) e a febre amarela urbana (FAU)?

A diferença entre elas é o vetor: na cidade a doença é transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito que transmite a dengue. Na mata, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus. Apesar disso, o vírus transmitido é o mesmo, assim como a doença resultante da infecção.

O que é a febre amarela silvestre (FAS)?

É uma doença infecciosa febril aguda, causada por um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes), que pode levar à morte em cerca de uma semana, se não for tratada rapidamente. A doença é comum em macacos, que são os principais hospedeiros do vírus.

Como a doença é transmitida?

A febre amarela silvestre é transmitida pela picada de mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem em matas e vegetações à beira dos rios. Quando o mosquito pica um macaco doente, torna-se capaz de transmitir o vírus a outros macacos e ao homem.

Como a doença pode ser evitada?

A única forma de evitar FAS é através da vacinação. A vacina está disponível durante todo o ano nas unidades de cuidados de saúde de forma gratuita e deve ser administrada pelo menos 10 dias antes do deslocamento para áreas de risco.

Quem não pode se vacinar?

Por causar reações, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda a vacina para pessoas com doenças como lúpus, câncer e HIV, devido à baixa imunidade, nem para quem tem mais de 60 anos, grávidas e alérgicos a gelatina e ovo.

Que lugares constituem áreas de risco?

Locais que têm matas e rios onde o vírus e seus hospedeiros e vetores ocorrem naturalmente são identificadas como áreas de risco.

Que época do ano a doença é mais comumente registrada?

Estudos têm demonstrado que a doença ocorre com maior frequência nos meses de dezembro a maio. Esta é a estação das chuvas, quando há um aumento das populações de mosquitos, favorecendo a circulação do vírus.

Qualquer pessoa está em risco de contrair febre amarela silvestre?

Sim. Qualquer pessoa, independentemente da idade ou sexo, que vive nas áreas endêmicas ou que visitam áreas endêmicas sem ter sido vacinada, pode ter a doença.

Quanto tempo leva para que a doença se tornar aparente?

De três a seis dias após ter sido infectada, a pessoa apresenta os sintomas iniciais.

Quais os sintomas da doença?

Os sintomas iniciais da febre amarela incluem o início súbito de febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza.

A maioria das pessoas melhora após estes sintomas iniciais. No entanto, cerca de 15% apresentam um breve período de horas a um dia sem sintomas e, então, desenvolvem uma forma mais grave da doença.

Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia (especialmente a partir do trato gastrointestinal) e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem a doença grave podem morrer.

O que você deve fazer se apresentar os sintomas?

Depois de identificar alguns desses sintomas, procure um médico na unidade de saúde mais próxima e informe sobre qualquer viagem para áreas de risco nos 15 dias anteriores ao início dos sintomas, e se você observou a morte de macacos próxima aos lugares que você visitou. Informe, ainda, se você tomou a vacina contra a febre amarela, e a data.

Como a febre amarela silvestre é tratada?

Não há nenhum tratamento específico contra a doença. O médico deve tratar os sintomas, como dores no corpo e cabeça, com analgésicos e antitérmicos. Salicilatos devem ser evitados (AAS e Aspirina), já que seu uso pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas.

A febre amarela silvestre é contagiosa?

A doença não é contagiosa, ou seja, não há transmissão de pessoa a pessoa. É transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus da febre amarela.

* Com informações do UOL, da Folha e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Revisão técnica
Professor Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFM/USP
Autor do blog Bioamigo

Fonte: Site Coração e Vida, produzido com a curadoria do cardiologista Dr. Roberto Kalil Filho

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