A troca de informações por sementes é uma estratégia inovadora que começou a ser implementada no setor orgânico para alavancar a cadeia produtiva de grãos, diante da falta de insumos apropriados.
A ideia, que está sendo desenvolvida pela startup Folio, prevê a construção de um banco de sementes em uma plataforma tecnológica para apoiar a produção orgânica com adubos verdes. Além de garantir a oferta de insumos, o banco vai permitir que os produtores troquem informações e experiências sobre suas práticas agrícolas.
“Isso vai gerar um grande banco de dados. Esse modelo de acumulação de informações e sementes vai criar uma base de conhecimento que será de utilidade para todos. O produtor receberá de volta essa informação de forma mais aprimorada, e com assistência técnica, permitindo o crescimento de toda a cadeia”, explicou Thomas Feitoza, gerente de produto da Folio e mestre em sustentabilidade agrícola pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
O projeto, que inclui parcerias com cientistas, terá início com cinco produtores e foi apresentado durante o webinar “Estruturação da Cadeia Produtiva de Grãos Orgânicos”, realizado nesta quarta-feira pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) e Faculdade de Ciências Agroambientais (Fagram), com a mediação da diretora da SNA, Sylvia Wachsner.
A meta é que a nova plataforma esteja consolidada até a próxima safra de inverno. “É um modelo de software livre com código aberto, que permite uma série de construções, e que caminha no sentido contrário do que é praticado hoje pelas multinacionais que controlam o mercado mundial de sementes”, disse Sylvia. “Essas empresas cobram royalties de propriedade intelectual pelo uso dos insumos. Por outro lado, há empresas que coletam e vendem seus dados.”
Conhecimento e cooperação
Em matéria de geração e troca de informações, “todo agricultor é um cientista”, avaliou Feitoza. “A tecnologia e a cooperação em redes é o caminho para o crescimento. As soluções simples são as inovadoras.”
Para Luiz Barbieri, cofundador da Raiar Orgânicos e parceiro da Folio, a agregação de conhecimento e de pessoas é fundamental para a estruturação da cadeia de grãos no Brasil, assim como a combinação de serviços a serem prestados ao produtor.
Nesse contexto, o empresário ressaltou a importância de apoio ao agricultor em aspectos como financiamento junto a investidores, parcerias, elaboração de planos de manejo, análise de viabilidade de área de cultivo, assistência técnica, formação de capital de giro e garantia de compra da safra.
Recentemente, a Raiar emitiu uma Cédula de Produto Rural (CPR) dividida em tokens (ativos digitais) para permitir o acesso de um número maior de investidores. “O token é um blockchain que simplifica a execução do fluxo financeiro, permitindo a participação de investidores de menor porte. E não há riscos, pois todo o processo é monitorado pela empresa”, explicou Barbieri.
Planejamento e desafios
De modo geral, destacou o empresário, “a cadeia orgânica requer uma grande necessidade de coordenação antecipada e planejada, ao contrário das cadeias tradicionais. Os problemas precisam ser detectados ainda na fase inicial de produção.”
Barbieri afirmou ainda que o atual gargalo na oferta de milho orgânico está impedindo o crescimento do mercado de ovos, que é uma das especialidades da Raiar.
A solução para o problema, segundo o empresário, está na superação de dois desafios: a captação de nitrogênio para o desenvolvimento do milho, e o controle de invasoras com plantio direto. Neste caso, disse ele, as plantas de cobertura são uma grande aliada nesse processo.
Apesar dos entraves no setor, e considerando sua possível evolução com a ajuda da tecnologia, Barbieri acredita que “o Brasil poderá ser um grande exportador de proteínas e grãos orgânicos.”
Fonte: CI Orgânicos
Equipe SNA