A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresenta à sociedade brasileira o Inventário de Recursos Genéticos Animais. A publicação, editada pelas pesquisadoras da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Maria do Socorro Maués e Patrícia Ianella, traz informações sobre os animais que fazem parte do programa de conservação da Empresa de norte a sul do Brasil. É uma oportunidade de conhecer a fundo a Arca de Noé da Embrapa.
O livro é resultado do trabalho que a Embrapa desenvolve em prol da conservação de recursos genéticos animais desde a década de 1980 e reúne, pela primeira vez numa obra impressa, dados sobre os animais que fazem parte desse programa, com a participação de 26 autores e dois colaboradores, representando 12 unidades de pesquisa da Embrapa – Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF); Meio Norte (Teresina. PI); Gado de Corte (Campo Grande, MS); Pesca e Aquicultura (Palmas, TO); Suínos e Aves (Concórdia, SC); Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE); Pecuária Sul (Bagé, RS); Amazônia Oriental (Belém, PA); Caprinos e Ovinos (Sobral, CE); Pantanal (Corumbá, MS); Roraima (Boa Vista, RR) e Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO).
Ao longo de mais de cem páginas, há informações detalhadas sobre animais de interesse zootécnico, incluindo os mais utilizados na agropecuária, como bovinos, caprinos, suínos, bubalinos, equinos e ovinos, além de peixes, abelhas, muçuãs (pequena espécie sul-americana de tartaruga de água doce) e caititus, conhecidos popularmente como porcos do mato. Os dados permitem mapear a ocorrência no Brasil, a partir de referências à quantidade, comportamento e características específicas de cada uma das raças.
Raças naturalizadas: base dos rebanhos comerciais brasileiros
Para Maria do Socorro Maués, que é uma das editoras da obra, “muito mais do que compilar dados, o inventário apresenta ao leitor um universo, que poderia ter desaparecido, se não fosse o esforço e dedicação de pesquisadores da Embrapa que, em parceria com criadores e outras instituições de pesquisa e ensino no Brasil, dedicam-se diariamente à conservação das raças localmente adaptadas no Brasil. Trata-se de um universo de diversidade genética, desconhecido por muitos, mas que representa a base da formação dos rebanhos comerciais brasileiros”.
O objetivo principal do livro é aumentar o conhecimento de pecuaristas, professores, pesquisadores e estudantes, entre outros segmentos da sociedade, sobre as raças localmente adaptadas, ressaltando a sua importância para a história da pecuária brasileira. “Esperamos que seja mais um passo para consolidar a reinserção desses animais no mercado produtivo”, constata a pesquisadora.
Arca de Noé moderna e diversificada
A Embrapa investe na conservação de recursos genéticos animais desde 1983. O objetivo é preservar raças de animais domésticos de interesse para a pecuária, conhecidas como localmente adaptadas, pois se desenvolveram no Brasil a partir de animais trazidos pelos colonizadores logo após o descobrimento. São, portanto, verdadeiros tesouros genéticos, pois possuem características de rusticidade e adaptabilidade adquiridas ao longo dos séculos, com grande potencial de uso em programas de melhoramento genético, a partir de cruzamentos com raças comerciais.
Conservação de recursos genéticos é prioridade das Nações Unidas
A conservação de raças localmente adaptadas é uma das prioridades da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), que mantém uma comissão permanente para fortalecer a conservação e uso sustentável de recursos genéticos de plantas, animais e microrganismos em nível mundial.
O pesquisador da Embrapa Arthur Mariante é o ponto focal da região que compreende os países da América Latina e Caribe nessa comissão desde 2007. Ao longo desses anos, ele vem trabalhando para estreitar a parceria entre os países dessa região, com base nas quatro grandes linhas de atuação propostas pelo FAO em relação a recursos genéticos animais: conservação, utilização sustentável, caracterização e capacitação.
Para evitar a perda desse material genético importante e insubstituível, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia coordena ações de conservação in situ (no local de origem dos animais) e ex situ in vivo (quando os animais são criados fora do habitat no qual a raça se desenvolveu), em parceria com outras unidades da Embrapa em todas as regiões brasileiras, além de universidades, empresas estaduais de pesquisa, associações de criadores e produtores particulares.
A conservação in situ nos núcleos de conservação é feita nos habitats nos quais os animais vêm sendo submetidos à seleção natural. Nesses núcleos, são selecionados também os animais doadores de sêmen, embriões e DNA, que são conservados ex situ no Banco Genético da Embrapa, mantido na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília.
Mais recentemente, novos animais vêm sendo incorporados à Arca de Noé da Embrapa, que está cada vez mais diversificada e tecnológica. Sêmen, embriões e DNA são conservados em criobancos, congelados em nitrogênio líquido a temperaturas abaixo de zero, que mantêm a integridade biológica do material genético conservado a longo prazo. O Banco Genético da Embrapa é um espaço moderno e tecnológico, inaugurado em 2014, e apresenta as condições ideais de segurança para a salvaguarda de todo esse material genético.
O inventário é um dos resultados desse trabalho e traz informações detalhadas sobre os recursos genéticos animais mantidos nos núcleos de conservação da Embrapa, distribuídos pelo território nacional, e também no Banco Genético na capital federal. “Vale lembrar que os dados apresentados foram elaborados pelos pesquisadores que atuam como guardiões desses recursos genéticos”, finaliza Socorro Maués.
Fonte: Agrolink