“Nosso foco é a sustentabilidade. Há muitas tecnologias, mas se não sobrar dinheiro para o produtor, o sistema não é sustentável do ponto de vista econômico, social nem ambiental”, apontou o pesquisador Sebastião Pedro, responsável pelo programa de melhoramento genético de soja na Embrapa Cerrados e chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Unidade. Ele apresentou as características da cultivar BRS 7380RR.
O material foi desenvolvido para atender aos produtores de Goiás, Distrito Federal, Oeste da Bahia, Noroeste de Minas Gerais e Mato Grosso que desejam fazer safrinha de milho, sorgo ou de boi. “É uma cultivar de crescimento indeterminado, que cresce bem e engalha nas condições agroclimáticas do bioma Cerrado. Isso é importante porque no Cerrado o clima é instável, e às vezes o estande fica com poucas plantas. Essa cultivar tem a capacidade de engalhar e ocupar os espaços, compensando o estande baixo com produtividade”, explicou, acrescentando que o produtor não vai precisar gastar excessiva quantidade de sementes por hectare para formar a lavoura.
Ao falar da múltipla resistência a nematoides conferida pela cultivar, Sebastião Pedro explicou que os nematoides causadores de galhas (M. javanica e M. incognita) são um dos piores problemas para a cultura de soja. “No solo de Cerrado nativo, já existem naturalmente esses nematoides. Com o passar dos anos de cultivo intensivo, pode-se chegar ao nível de dano econômico”, apontou. Já o baixo fator de reprodução ao Pratylenchus spp. apresentado pela cultivar também é importante diante da gravidade do problema, que afeta não apenas a soja, mas também o milho e as pastagens.
Outros pontos fortes da BRS 7380RR são a estabilidade e a elevada produtividade. “Na hora de escolher a variedade, o que mais chama a atenção do produtor é o teto produtivo”, afirmou. O pesquisador informou que em áreas com problemas de nematoides na Serra da Petrovina (Mato Grosso) foram colhidos acima de 70 sacas por hectare na safra 2014/2015, sendo a cultivar campeã de produtividade na região. “É um material que confere grandes vantagens ao produtor, e é mais uma tecnologia que traz sustentabilidade econômica, social e ambiental ao sistema”, completou.
O diretor técnico da Fundação Cerrado, Ilson Alves, disse que a nova cultivar está se destacando em uma grande área do Cerrado. “Temos observado que ela mantém o potencial e se desenvolve bem até mais ao Norte, o que é uma condição importante”, disse. “Fiquei todos os dias na AgroBrasília e notei a vinda de agricultores especialmente para conhecer o material, pois ouviram falar dele. Eles procuram principalmente a resistência a nematoides”, destacou.
A cultivar foi testada por produtores na safra 2014/2015. Moisés Rapachi, de Luziânia (GO), que comprovou o potencial do material. “Comparado aos concorrentes, não perde em nada. Ele se comportou muito bem, e a produtividade foi das melhores na região. Por causa da resistência aos nematoides, é um material que dá para apostar”, destacou.
O pesquisador André Pereira, da Embrapa Cerrados, ressaltou que a questão da defensividade das cultivares é algo que o produtor tem buscado atualmente, e que essa é uma característica diferencial dos materiais da Embrapa. “Certamente, ele passará a adotá-las com a expectativa de baixar custos de produção, manejar a área e pensar a atividade no longo prazo. Não é só um ciclo de cultivo, o produtor está levando em conta a sustentabilidade do negócio”, afirmou.
Adaptação ao Cerrado
A cultivar BRS 7380RR foi selecionada na Embrapa Cerrados, localizada no coração Cerrado, e se destacou em outros pontos do Bioma. “Temos condições de simular diferentes situações climáticas que ocorrem nas várias regiões do Cerrado”, lembrou Sebastião Pedro. Os ensaios foram monitorados pela equipe da Agroclimatologia da Unidade, que realizou estudos de clima.
“Não basta apenas selecionar os materiais, é preciso testá-los nos diversos ambientes climáticos do Cerrado. A Embrapa entrega à sociedade um produto de alta qualidade e mostra onde ele pode se destacar melhor do ponto de vista climático”, explicou o pesquisador Fernando Macena, coordenador da equipe.
A partir de estudos de fenologia das plantas, foram simuladas as melhores datas de plantio da BRS 7380RR em solo argiloso e em solo de textura média conforme a região. “Temos um estudo mostrando que, se o produtor seguir essas recomendações, terá um risco menor do ponto de vista climático”, afirmou Macena.
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Além do lançamento da BRS 7380RR, outras seis cultivares de soja foram apresentadas na vitrine de tecnologias da Embrapa na AgroBrasília 2015. O pesquisador destacou três materiais transgênicos que serão lançados em 2016. “Todos trazem um componente que ajuda na sustentabilidade do sistema”, observou.
O primeiro é uma variedade superprecoce (100 a 105 dias) resistente à ferrugem asiática, um dos principais problemas da sojicultora e responsável por pelo menos três aplicações de fungicidas. O segundo é um material de crescimento indeterminado, que se adapta a variações climáticas e com resistência aos dois nematoides causadores de galhas. Já o terceiro é um material IPRO, reunindo as tecnologias RR e Bt, sendo uma solução para ervas daninhas e lagartas, além de ser resistente ao nematoide M. incognita, principal problema fitossanitário em sistemas intensivos com lavoura de algodão em rotação ou sucessão com a de soja.
Os demais materiais são convencionais. A BRS 8381 foi campeã do Programa Soja Livre em todos os eventos na safra passada, sendo que na Bahia alcançou produtividade de 83 sacas por hectare, mesmo com as dificuldades climáticas impostas pelo veranico. A cultivar BRS 8581 apresentou produtividade de 75 sacas por hectare no Soja Livre deste ano, alcançando o primeiro lugar. O outro material, a BRS 7980, lançada em 2014, se destaca pela estabilidade, produtividade e pela resistência múltipla a nematoides.
“A Embrapa não se restringe a uma só tecnologia. Os materiais convencionais selecionados em parceria com a fundações Cerrados e Bahia são destaques em soja convencional no Brasil”, disse Sebastião Pedro.
Participante do Soja Livre, o produtor Luiz Fiorese, de Água Fria de Goiás (GO), salientou que a produtividade é determinante para a decisão de compra de sementes de um material, assim como a precocidade, característica desejável para quem pretende fazer safrinha, e a resistência a nematoides: “A Embrapa sempre foi preocupada com isso. Agradeço à equipe por estar sempre atenta ao que o produtor precisa e ter desenvolvido variedades e tecnologias para agregar resistência e produtividade para que nós consigamos manter o negócio”.
A AgroBrasília 2015 foi realizada de 12 a 16 de maio no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF, Distrito Federal.
Fonte: Embrapa