Embrapa desenvolve plantas de alface com maior teor de ácido fólico

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) está desenvolvendo uma pesquisa para aumentar o teor de ácido fólico, ou vitamina B9, nas plantas de alface.

A pesquisa, coordenada pelo pesquisador Francisco Aragão, começou em 2006 com o objetivo de desenvolver plantas de alface geneticamente modificadas com maior teor de ácido fólico. Segundo ele, a alface já produz essa vitamina, mas em pequenas quantidades. O que ele e sua equipe fizeram foi aumentar a produção das moléculas que dão origem ao ácido fólico através da introdução de genes de Arabidopsis thaliana, que é uma planta-modelo, muito utilizada na biotecnologia vegetal.

Os estudos foram realizados de duas maneiras: no primeiro caso, o gene foi inserido no genoma nuclear da planta e no segundo, no cloroplasto (parte da planta responsável pela fotossíntese). A primeira vertente resultou em linhagens de plantas com até 15 vezes mais ácido fólico e a segunda, com duas vezes mais. Aragão pretende iniciar o cruzamento entre as duas variedades para tentar alcançar índices ainda maiores da vitamina nas plantas. “Manipulando as duas rotas, pode ser que essa quantidade chegue a até 30 vezes mais, como indicam alguns estudos semelhantes realizados nos Estados Unidos”, afirma.

Mas, mesmo antes dos cruzamentos, os resultados da pesquisa são muito satisfatórios, como explica Aragão. A dose diária de ácido fólico recomendada para um adulto a partir de 15 anos é de 0.4 mg (=400µg), o que significa que a ingestão de apenas duas folinhas das alfaces GM desenvolvidas pela Embrapa representa 70% da vitamina que precisamos diariamente.

“É uma perspectiva muito promissora, especialmente se levarmos em consideração que os programas de biofortificação de alimentos, geralmente, consideram 30% uma quantidade suficiente. Conseguimos mais do que o dobro”, comemora o pesquisador.

As plantas estão prontas nas casas de vegetação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e começarão a ser submetidas ainda este ano a testes de avaliação agronômica. Os testes já foram autorizados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio.

Vantagens

A vantagem da alface é que, além de ser uma hortaliça que faz parte da dieta da população brasileira, ela pode ser ingerida crua, o que é muito melhor para a absorção das vitaminas. As plantas modificadas pela Embrapa são de um tipo de alface crespa, que é a preferida da população do Distrito Federal. “Mas, a pesquisa pode ser estendida a outras variedades”, diz Aragão.

As plantas foram testadas com ratos para avaliar a capacidade da absorção do ácido fólico por mamíferos e os resultados foram muito bons. Na primeira semana em que receberam as folhas de alface geneticamente modificadas, os animais tiveram um crescimento significativo do teor da vitamina no sangue.

Preocupação mundial

A preocupação com o aumento do teor de ácido fólico na nutrição humana já é preocupação do Brasil e de outros países que, por isso, optaram pela suplementação dessa vitamina em farinhas. Nos Estados Unidos e Chile, por exemplo, que começaram a adotar essa medida há mais tempo, a má formação fetal diminuiu em 20 a 30%. No Brasil, a iniciativa começou no ano de 2002.

As mulheres grávidas, normalmente, passam a ingerir mais quantidade de ácido fólico por recomendações médicas, já que a dose diária recomendada nesses casos é de 0.8 mg (=800µg), segundo a FDA – Food and Drug Administration dos EUA. O problema é que as más formações fetais, como a anencefalia, ocorrem bem no início da vida intrauterina, por volta da terceira e quarta semana de gestação quando, muitas vezes, as mulheres sequer sabem que estão grávidas.

Por isso, o ideal é que as mulheres em idade reprodutiva consumam regularmente essa vitamina. Aquelas que querem engravidar devem iniciar a suplementação três meses antes da concepção.

Além da anencefalia, a deficiência de ácido fólico pode resultar em outras deformações congênitas, como a espinha bífida, lábio leporino e fenda palatina. Algumas ações de conscientização vêm sendo realizadas pelos órgãos de saúde no Brasil, como a Semana da Conscientização Sobre a Importância do Ácido Fólico, por exemplo.

Fonte: Embrapa

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