Embrapa apresenta tecnologias para promover saneamento básico rural

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Fossa Séptica Biodigestora é instalada na região de Aimorés (MG). A tecnologia integra o Programa Olhos D’ Água, desenvolvido pelo Instituto Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado.

 

A Embrapa Instrumentação desenvolveu tecnologias e campanhas para conscientizar, principalmente, os governantes, lideranças do campo e a própria população sobre a importância do saneamento básico rural. Um dos pontos principais é o alerta sobre os riscos que as pessoas correm de contrair doenças infecciosas ou parasitárias, adquiridas principalmente pelo contato com esgoto mal tratado ou por meio de água do lençol freático contaminado pelo uso de fossas rudimentares.

De acordo com o IBGE, dados de 2011, no Brasil mais de 23 milhões de pessoas vivem na zona rural sem coleta ou tratamento de esgoto, o que corresponde a 75% da população total do campo.  Segundo a Embrapa, na área urbana, 51,6% da população possuem rede coletora de esgoto e há políticas de incentivos e planos para tentar zerar os índices, já na área rural apenas 24% tem algum tipo de coleta. Outro problema apontado é vencer as barreiras, como ausência de políticas públicas e a própria questão cultural – que são impostas para a adoção de sistemas de saneamento básico.

Na América Latina e Caribe, afirma órgão de pesquisa,  118 milhões de pessoas não têm acesso a serviços de saneamento; 36 milhões defecam ao ar livre. No Brasil, até um pacto foi elaborado em 2008 na tentativa de universalizar esses serviços.

Tecnologia Social

A Embrapa Instrumentação começou a desenvolver, em 2001, uma tecnologia social que está contribuindo para mudar a qualidade de vida dessas milhares de famílias que vivem no campo. A tecnologia surgiu na mesma época em que a ONU analisou os maiores problemas mundiais e estabeleceu os 8 Objetivos do Milênio, que no Brasil foram transformados em 8 Jeitos de Mudar o Mundo e que deverão ser atingidos por todos os países até 2015.

Tendo à frente o médico veterinário Antonio Pereira de Novaes, falecido em 2011, a pesquisa se inspirou em experiências criadas há mais de dois séculos na Ásia e no processo de funcionamento do aparelho digestivo de ruminantes. O sistema de saneamento básico para a área rural, composto inicialmente pela Fossa Séptica Biodigestora e Clorador Embrapa, ganhou mais tarde o complemento do Jardim Filtrante. A ciência, afirma a Embrapa, conseguiu recriar um ambiente simples, funcional, estético e sustentável, de custo relativamente acessível, presente atualmente em mais de seis mil propriedades rurais do país.

Somente no Estado de São Paulo, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) já instalou 2.765 unidades por meio de subvenções. A Fundação Banco do Brasil, que premiou a Fossa Séptica Biodigestora como Tecnologia Social em 2003, também apoiou a instalação de 2873 unidades em oito estados e no Distrito Federal.

A Fossa Séptica Biodigestora segue os princípios dos biodigestores asiáticos e das câmaras de fermentação de ruminantes, como os bovinos. Assim como no estômago multicavitário do animal, a tecnologia também é composta de várias câmaras ou caixas de fibrocimento, onde o esgoto doméstico – fezes e urina – passa pelo tratamento anaeróbio. A conclusão do estudo foi de que o esterco bovino, rico em microrganismos, era capaz de digerir os materiais fecais presentes no esgoto doméstico e, pelo processo de biodigestão anaeróbia , descontaminá-lo e transformá-lo em adubo orgânico. O esterco bovino como inoculante é um diferencial inovador do sistema.

Dupla Função

Para o químico Wilson Tadeu Lopes da Silva, que deu continuidade ao trabalho do pesquisador Antonio Pereira de Novaes e agregou a ele o Jardim Filtrante, a filosofia empregada no desenvolvimento da Fossa Séptica Biodigestora a torna única e com dupla função, a de preservar o meio ambiente e gerar efluente, de excelente qualidade, com micro e macronutrientes para as plantas, além de matéria orgânica para o solo. “O adubo orgânico melhora o estado de agregação das partículas do solo, diminui a densidade, aumenta a aeração, a capacidade de retenção de água e aumenta o poder tampão do solo”, avalia.

 

O químico da Embrapa Wilson Tadeu Lopes da Silva mostra os benefícios da Fossa Séptica Biodigestora
O químico da Embrapa Wilson Tadeu Lopes da Silva apresenta os benefícios da Fossa Séptica Biodigestora

 

As análises microbiológicas do efluente da Fossa Séptica Biodigestora, realizadas por meio da técnica de fermentação em tubos múltiplos, também chamada técnica do Número Mais Provável (NMP/100 mL), revelaram que o número de coliformes fecais pode chegar a até zero em alguns casos, mas que geralmente ficam abaixo de 1000 NMP/100 mL. Os resultados obtidos atendem à resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 1986, que estabelece que, para águas destinadas à irrigação de plantas frutíferas, a concentração de coliformes fecais não deve exceder o limite de 1000/100 mL.

O pesquisador acredita que o modelo da Fossa Séptica Biodigestora proposto pela Embrapa é o ideal para substituir a tradicional “fossa negra”, muito comum na área rural, mas responsável pela contaminação das águas subterrâneas. “Esse sistema biológico necessita de poucos insumos externos para que se obtenham resultados adequados, é simples, de baixo custo para sua confecção e de eficiência comprovada na biodigestão dos excrementos humanos, com eliminação dos agentes patogênicos”, afirma.

Por Equipe SNA/SP

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