O Brasil pode ter no ano comercial 2013/14, que começa em maio, a menor exportação de algodão desde 2006/07. A redução da área plantada no país deve fazer com que os embarques se limitem a 350 mil a 400 mil toneladas, ante as 1 milhão de toneladas previstas para este ciclo comercial em finalização (2012/13). Essa queda de volume, aliada ao recuo dos preços médios do algodão, vai provocar um tombo de mais de US$ 1 bilhão na receita com exportação do produto nos próximos 12 meses. Os embarques devem gerar uma receita de US$ 750 milhões, segundo estimativas do mercado. Em 2012/13, esse valor superou US$ 1,9 bilhão, de acordo com dados da Secex/MDIC.
Há pelo menos duas safras o Brasil disputa com a tradicional Austrália o terceiro lugar no ranking dos maiores exportadores globais da pluma, atrás de Estados Unidos e Índia. No entanto, se essa queda abrupta no volume se confirmar, o país sairá, inclusive, da lista dos cinco maiores exportadores, diz o especialista da Safras & Mercado, Élcio Bento.
A consultoria prevê neste momento o embarque de 500 mil toneladas entre maio deste ano e abril de 2014. O número é compartilhado pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), no entanto, com viés de baixa. O presidente da entidade, Marcelo Escorel, afirma que a estimativa certamente será revisada para algo entre 350 mil e 400 mil toneladas.
Isso porque o cobertor será curto para os compradores nacionais, que devem tentar reter o algodão internamente pressionando as cotações para além da paridade de exportação. A produção na safra 2012/13, que começa a ser colhida agora, deve cair 33%, para 1,26 milhão de toneladas, segundo a Conab. O consumo interno deve ficar em 880 mil toneladas, segundo a Anea. O problema é que 500 mil toneladas já estão vendidas antecipadamente, das quais apenas 120 mil toneladas para o mercado interno, estima Escorel.
O restante, 380 mil toneladas, está dividido para exportação (200 mil) e contratos “flex” (180 mil), que podem ser direcionados tanto para o exterior como para o mercado interno, conforme a atratividade dos preços.
Essa percepção de aperto na oferta no Brasil já vem sendo “precificada”. As cotações no país estão subindo mais do que em Nova York. Neste ano, o preço da pluma na bolsa americana subiu 15%, do patamar de 75 para 87 centavos de dólar por libra-peso.
No Brasil, os preços avançaram muito mais, na casa dos 30% no mesmo período, para patamares de R$ 2,10 a libra-peso, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Ontem, na bolsa de Nova York, notícias de que a Índia deve importar algodão este ano valorizou em 123 pontos os papéis para julho que fecharam a 86,65 centavos de dólar por libra-peso.
A área plantada com algodão no país recuou 34%, segundo a Conab, reflexo da queda das cotações internacionais da pluma, que coincidiu com um ambiente em que soja e milho estavam com preços mais atrativos. Por isso, o produtor de algodão deixou de plantar a pluma, para ganhar mais com o cultivo de grãos, cujas exportações devem crescer.
O tamanho da produção brasileira de algodão pode ser ainda menor do que o previsto pelas estimativas oficiais, dada a infestação pela Helicoverpa, uma lagarta comum em lavouras de milho mas que passou a causar danos significativos em plantações de soja e algodão.
O fato é que nos últimos dois anos comerciais (incluindo o que termina neste mês), o Brasil bateu recordes de exportação da pluma, sobretudo pela produção nos dois principais Estados algodoeiros, Mato Grosso e Bahia. Entre maio de 2012 e março de 2013, foram exportadas 971 mil toneladas, volume que deve alcançar 1,02 bilhão até abril. Nos doze meses anteriores, esse volume foi de 869 mil toneladas, segundo dados compilados pela Safras.
O presidente da Anea avalia que se a perda de mercado internacional este ano se concretizar, a recuperação não se dará de forma automática. “Para retomar participação, o Brasil terá que voltar mais agressivo em preço”, diz Escorel.
No ano comercial 2013/14, o Brasil deve também aumentar suas importações da pluma. A Safra estima volume de 200 mil toneladas, ante ínfimas 8 mil toneladas realizadas entre maio de 2012 e março de 2013. O aperto de oferta, já evidente neste momento de entressafra, fez o governo federal autorizar a importação de 80 mil toneladas sem cobrança de 10% de Tarifa Externa Comum (TEC). O volume pode ser importado entre maio e julho de 2013.
Fonte: Valor Econômico