Lutar, lutar, lutar. Afinal, os embargos (parciais, ressalte-se) impostos à carne de frango brasileira pela União Europeia não passam de mero boicote comercial, nada têm de preocupação sanitária.
Mesmo assim é importante alertar que, pelo menos no momento, os obstáculos levantados deverão ter influência mínima na oferta interna de carne. Assim, não há motivo para que os especuladores pressionem o setor, como não há razão para um eventual desespero do setor produtivo. Aos fatos:
Primeiro: o deslistamento imposto pela UE, mesmo atingindo (inesperadamente) empresas que nada tinham a ver com os problemas levantados, não foi amplo: atinge produtos específicos dos frigoríficos relacionados – por exemplo, carne salgada ou carne mecanicamente, mas não, necessariamente, a totalidade dos produtos exportados por elas.
Segundo: até agora o único dos quatro itens exportados colocado efetivamente na mira da Comissão Europeia é a carne salgada. E, neste caso, a quantidade é proporcionalmente pequena, insuficiente para desequilibrar o mercado interno, como certos segmentos estão tentando demonstrar (aparentemente com o intuito de afetar ainda mais o já afetado mercado do frango).
O quadro abaixo, elaborado a partir de dados levantados pela ABPA junto à SECEX/MDIC deixa isso bem claro. A partir dele se constata que:
1º) as importações de carne salgada da UE já vinham recuando antes mesmo dos recentes episódios. Em 2017 foram quase um quarto menores que as de 2016;
2º) apesar de ter como destino quase exclusivamente o mercado europeu, a carne salgada representou apenas 3,27% do volume total exportado pelo Brasil em 2017. Como ela tem melhor preço que o produto in natura representa, sim, grande perda financeira. Mas em termos de volume apresenta efeitos pontuais.
Mas o reforço à tese da baixa influência no mercado interno é encontrado na evolução das exportações de carne salgada para a União Europeia entre janeiro de 2011 e março de 2018 (87 meses).
Nos primeiros 66 meses desse período (até junho de 2016) exportaram-se para a UE, em média, 15.200 toneladas mensais de carne de frango salgada. As primeiras quedas começam a ocorrer a partir de julho de 2016, ou seja, bem antes que viesse à tona a Operação Carne Fraca. Desde então e até novembro de 2017 a média mensal caiu para 13.400 toneladas/mês.
Já nos últimos quatro meses, isto é, de dezembro de 2017 até março passado, os embarques de carne salgada para a UE não passaram, na média, das 7.700 toneladas/mensais, ou seja, quase 50% menos que o registrado na primeira fase do período analisado.
A carne salgada exportada nesses quatro meses para a UE (30.900 toneladas) correspondeu a 2,36% do volume total exportado pelo Brasil no período (1.309 milhão de toneladas) e a 0,67% da produção brasileira de carne de frango estimada para o quadrimestre (4.6 milhões de toneladas). É um volume capaz de derrubar mercados?
Naturalmente, o episódio não pode ser minimizado ou ignorado, sobretudo porque outros importadores podem segui-lo. Mas também não pode ser transformado em motivo de manipulação do mercado interno. Aliás, além do frango, também o suíno e o boi gordo estão sujeitos a uma redução de preço. Mas isso nada tem a ver com o embargo europeu, é ocorrência típica do período que antecede a entressafra (chegada do inverno). Há tempos ela não era observada, mas parece inevitável em 2018.
Fonte: AviSite