Segundo técnicos de campo, o lento consumo do frango, típico de todo final de mês, vem retardando os abates programados, fato que – combinado com as temperaturas amenas do Outono – tem redundado em frangos com mais de 3 kg.
Neste caso, não é exatamente a temperatura que contribui para ganhos de peso “abusivos” – se consideradas as condições de consumo atuais. Pois o que determina tais resultados é o melhoramento genético contínuo das modernas linhagens de frango.
Considere-se, para o momento, um ganho de peso diário (GPD) da ordem de 58 gramas, rendimento que – de acordo com vários técnicos consultados – corresponde “a uma boa média”, pois há GPDs ainda maiores, superiores a 60 gramas.
Pois bem: com esse GPD “médio”, um frango chega às 7 semanas pesando 2,842 kg, volume quase 17% maior que o de um frango abatido uma semana antes, aos 42 dias. E se, em vez de ser abatido aos 49 dias, esse frango permanecer na granja por mais três dias, irá passar dos 3 kg, apresentando ganho de peso quase um quarto maior que o do frango com 6 semanas de idade.
Embora perseguidos, esses ganhos têm, também, o seu lado perverso, sobretudo para o produtor independente. Mas recai de forma generalizada sobre todo o setor produtivo. Porque, em essência, exceto no alojamento inicial (pintos de um dia), o mercado opera em função do volume produzido, não com o número de cabeças criadas.
Um exemplo, dando sequência ao raciocínio anterior: o abate às seis semanas de idade (supondo-se perdas de 15% no abate) requer 483 cabeças para a obtenção de 1 (uma) tonelada de carne. Mas se esse abate ocorrer 10 dias depois, aos 52 dias de idade, o número de cabeças necessárias para chegar-se à mesma tonelada será quase 20% menor.
Não é por menos que está sobrando produto. Uma situação que se agrava neste ano com a queda nas exportações de “grillers”. Pois o que seria exportado com duas a três libras (900 gramas a 1,3 kg, aproximadamente), transforma-se em inesperado produto interno com peso cerca de 70%-80% superior.
Teoricamente, problemas do gênero são de fácil solução: basta que os abates sejam realizados o mais cedo possível. Mas, na prática, as coisas não funcionam de forma tão simples. Sobretudo porque um grama a mais ou a menos faz brutal diferença em uma produção da ordem de 1 bilhão de quilos de carne de frango – volume médio mensal atualmente produzido pela avicultura brasileira.
E já que é difícil adequar o volume inicial (a filosofia reinante é a de utilização melhor possível da estrutura instalada), resta aguardar que o mercado final retome o ritmo anterior e absorva com maior velocidade o que vem sendo produzido atualmente. Que não é muito maior que a produção de momentos semelhantes anteriores, mas cresce quase exponencialmente na medida em que o consumo se torna mais lento.
Fonte: AviSite