Com informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), especialistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, avaliaram o desempenho da população ocupada na agropecuária no trimestre móvel encerrado em abril de 2020.
Segundo o estudo, neste período (fevereiro-março-abril), 8.166 milhões de pessoas estavam ocupadas no setor. Houve quedas de 1,2% (o equivalente a 100 mil pessoas) frente ao trimestre móvel anterior (janeiro-fevereiro-março) e de 2,8% (233 mil pessoas) em relação ao mesmo período de 2019.
Os pesquisadores do Cepea ponderam que, para avaliar o potencial efeito da Covid-19 sobre o nível de ocupações, é preciso saber qual seria o comportamento esperado para esse trimestre móvel avaliado (encerrado em abril).
Nesse sentido, o modelo do Cepea indicou que a população ocupada na agropecuária no trimestre móvel encerrado em abril ficou 2,4% ou 201 mil pessoas abaixo do que era esperado.
Para os analistas, isso evidencia que o número de ocupados no setor ficou aquém do limite inferior considerado normal para esse período, sugerindo um choque significativo e, ao menos em parte, decorrente da Covid-19.
A equipe do Cepea ressaltou, contudo, que é usual observar variações de até 100 mil pessoas entre os trimestres, e que choques de magnitude próxima a 200 mil pessoas já foram observados.
Logo, embora haja evidências de um impacto significativo e provavelmente decorrente da Covid-19, a gravidade da situação do mercado de trabalho da agropecuária, ao menos em termos de nível de ocupações (e por enquanto), pode ser considerada baixa frente a outros setores.
Resiliência
Estudos sobre ciclos econômicos apontam que a agropecuária, em diversos países e no Brasil, costuma apresentar grande resiliência frente a crises econômicas. Diversos fatores explicam esse aspecto, sendo que um deles se refere ao trabalho rural.
De forma simples, os estabelecimentos que utilizam mão de obra familiar (que são muito representativos em termos de número de ocupados na agropecuária) tendem a reter sua força de trabalho, mesmo em períodos de baixa produção ou produção menos rentável.
Por ter uma oferta bem inelástica – ou seja, baixo custo de oportunidade – a mão de obra familiar não tem (ou tem) poucas alternativas de trabalho fora de seu estabelecimento, e recebe a renda residual das atividades, que pode oscilar substancialmente.
Em contrapartida, essa mão de obra tem sua ocupação praticamente assegurada exatamente pela flexibilidade de sua remuneração. Isso não acontece com o trabalhador contratado a determinado salário inflexível, que é demitido em época de baixa rentabilidade.
Nesse sentido, os pesquisadores do Cepea indicaram que é provável que grande parte do choque negativo de 201 mil pessoas ocupadas na agropecuária, no trimestre móvel encerrado em abril, esteja atrelada a trabalhadores assalariados do setor, sobretudo aqueles sem carteira assinada, cujo custo de demissão é baixo ou nulo.
Acompanhamento
À medida que dados oficiais se tornem disponíveis, o Cepea realizará o acompanhamento dessa situação. Nesse sentido, os pesquisadores destacam que as preocupações com o mercado de trabalho do agronegócio diante da Covid-19 vão além da agropecuária.
Isso porque, segundo eles, diversos setores agroindustriais podem ser penalizados pela retração da demanda doméstica, com potencial impacto negativo sobre o nível de empregos, a ser possivelmente registrado nos próximos meses.
Fonte: Cepea
Equipe SNA