Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que cerca de 70% de toda a água disponível no mundo é consumida na agricultura. É um recurso natural indispensável para a manutenção das lavouras.
Com a crescente alteração no ciclo hidrológico por conta do aproveitamento inadequado da captação da água da chuva, com a consequente distribuição irregular no meio agrícola, pode causar déficit hídrico no solo e comprometer a produção de alimentos.
No Brasil, a despeito do grande volume de produção de alimentos, a atividade agrícola faz uso de pouco mais de 10% da área cultivada com irrigação.
Para o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café Antônio Guerra, é preciso saber interpretar esses números com cautela.
“Não é correto dizer que 70% da água está sendo consumida pela agricultura. A irrigação demanda quantidades significativas de água, porém, quase toda ela é devolvida ao meio ambiente por meio da evaporação da água da superfície e, principalmente, da transpiração das plantas”, diz ele, em publicação da Revista A Lavoura – Edição nº 704/2014, nas páginas 48 a 51.
O Brasil possui grandes quantidades de água concentradas tanto nos rios quanto em lençóis freáticos. “O País precisa de políticas públicas voltadas à reservação da água para aumentar a disponibilidade desse recurso para o setor agrícola e manter as vazões dos cursos d’água ao longo do ano”, completa.
Já o pesquisador da Embrapa Café Anísio José Diniz salienta que o uso excessivo e desordenado da água na agricultura pode culminar também com impactos nocivos ao meio ambiente.
“Para reverter esse quadro, é preciso que os agricultores recebam a devida orientação quanto à utilização racional da água para cada tipo de cultura. No caso específico da cafeicultura, que ocupa em torno de 2,3 milhões hectares, o uso racional da água também se faz imprescindível”, comenta Diniz.
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS
Instituições integrantes do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, desenvolveram, pelo menos, duas tecnologias que, além de racionalizar o uso da água, permitem otimizar a produtividade e a qualidade do produto.
Ainda possibilitam reduzir custos de produção, contribuindo para o aumento da renda dos cafeicultores e a manutenção da sustentabilidade da cultura de café no País.
Uma dessas tecnologias é o SLAR-Sistema para Limpeza de Águas Residuárias, cujo assunto foi publicado na Revista A Lavoura – Edição nº 690/2012, especial sobre Sustentabilidade. Clique aqui para ler!
A TECNOLOGIA
A tecnologia contribui para a produção de café cereja descascado na região do Cerrado, onde a distribuição irregular de chuvas impõe a necessidade de irrigação para viabilizar o cultivo de café.
O estresse hídrico controlado, que dispensa investimento inicial, revolucionou a prática tradicional da irrigação frequente e continuada, garantindo economia de água, aumento da produtividade (em torno de 15%), mais qualidade e menor custo para o produtor.
A técnica consiste em suspender a irrigação na estação seca do ano durante um período de 72 dias (sendo o período ideal entre 24 de junho e 4 de setembro) para sincronizar, uniformizar o desenvolvimento dos botões florais e, consequentemente, dos frutos, o que garante café de melhor qualidade.
Esse processo tecnológico permite a obtenção de 85% a 95% de frutos cerejas no momento da colheita, maximizando a produção de cafés especiais, de maior valor agregado no mercado.
Em decorrência dessa uniformização, o número de passadas de colheitadeiras diminui, reduzindo a operação de máquinas (em torno de 40%). Além disso, a tecnologia garante a redução de grãos mal formados (em torno de 20%) e dos custos de produção com água e energia (em média de 35%).
“Os cafeeiros submetidos ao estresse controlado não só crescem mais como também se apresentam em melhores condições para a safra seguinte. É o chamado crescimento compensatório, um estímulo ao crescimento após o reinício das irrigações”, explica Guerra.
O manejo adequado das aplicações da água de irrigação associado ao estresse hídrico controlado representa a melhor opção para evitar perdas de nutrientes por lixiviação e fornece condições propícias de umidade do solo, para que as raízes possam respirar adequadamente e atender à demanda hídrica e nutricional da planta.
TECNOLOGIA ADAPTADA ÀS REGIÕES PRODUTORAS
Cafeicultores da Bahia, Goiás e Minas Gerais que produzem em região de Cerrado utilizam a tecnologia de estresse hídrico controlado já com excelentes resultados na produção. Para potencializar os bons resultados, os cafeicultores adotam também a adubação fosfatada. Leia a reportagem sobre esse assunto na edição 702/2014 d’A Lavoura, clicando aqui!.
Estima-se que aproximadamente 36 mil hectares de café desses Estados sejam cultivados com essas tecnologias.
A tecnologia do estresse hídrico controlado já se consolidou como grande alternativa para a sustentabilidade da cafeicultura no Cerrado.
OUTROS DESTAQUES
Veja o que mais foi destaque na edição nº 704/2014 da Revista A Lavoura, clicando aqui.
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Fonte: Revista A Lavoura nº 704/2014