Ebola preocupa mercado de cacau e Brasil pode se beneficiar com preços

Brasil produz em torno de 130 mil toneladas de cacau e importa outras 180 mil toneladas de países africanos. Foto: Divulgação
Brasil produz em torno de 130 mil toneladas de cacau e importa outras 180 mil toneladas de países africanos. Foto: Divulgação

Em outubro, a alta superou 13% no comparativo anual e os produtores brasileiros podem se beneficiar ainda mais da tendência otimista, apesar de o País não ter oferta suficiente para suprir toda a demanda, caso o produto africano seja rejeitado.

Nos dois maiores produtores globais de cacau, Costa do Marfim e Gana, ainda não foi oficializado nenhum caso da doença. De acordo com a Organização Internacional do Cacau em Londres, ambos respondem por 61% do mercado cacaueiro. A Costa do Marfim, sozinha, é responsável por cerca de 40% da oferta mundial.

“O movimento de mercado está acontecendo muito mais pelo medo do que por ocorrências concretas. O cacau é uma cultura de muito manuseio, sem grandes processos mecanizados. Toda a colheita e a retirada das amêndoas que formam o chocolate são feitas manualmente. Daí a margem para tanto temor de que a doença se espalhe através do produto”, explica o analista da consultoria Mercado do Cacau, Adilson Reis.

O ebola está concentrado em três países – Guiné, Libéria e Serra Leoa – que já contam mais de quatro mil mortes e mais de oito mil casos confirmados e suspeitos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Na Nigéria já foram contabilizadas oito mortes por contaminação, país que colabora para que a África detenha mais de 70% do mercado de cacau no mundo.

Segundo o analista, o Brasil produz em torno de 130 mil toneladas da commodity e importa outras 180 mil toneladas de países africanos.

“Caso se confirme algum caso da doença nos grandes países produtores, neste primeiro momento, não haveria problema de desabastecimento no País neste ano, pois as compras internacionais já foram feitas e ainda temos a produção nacional. Por aqui, o único reflexo sentido foi o aumento de preços”, diz Reis.

 

IMPACTOS NO MERCADO

Na possibilidade da ocorrência de casos oficiais de ebola na Costa do Marfim e Gana, o impacto no mercado externo seria enorme. Para o especialista, se o cacau africano começar a ser rejeitado no mundo, não há outro país que possa suprir uma demanda extra. Grandes compradores como Estados Unidos e União Europeia, por exemplo, se abastecem da produção africana.

“O Brasil produz 2,5 milhões de sacas de 60 quilos, enquanto a Costa do Marfim produz 22 milhões. Cerca de 98% do cacau vendido para Europa e Estados Unidos vêm da África”, enfatiza o analista.

Neste cenário, o banco dinamarquês Saxo Bank estima que a commodity deve seguir com preços elevados e prevê que a tonelada deve oscilar entre US$ 3 mil e US$ 3,4 mil.

 

GOURMET

O produtor de cacau fino da região de Itabuna, no sul da Bahia, João Tavares, conta que o produto gourmet ainda não sofreu grandes alterações de preço em decorrência das especulações mercadológicas.

Neste segmento, o cacau chega a ser comercializado por valores até 70% superiores ao do produto convencional, mas a base de preços também é avaliada através das cotações da Bolsa de Nova York.

“Se houver uma escassez de oferta no mercado convencional, certamente será aberta uma lacuna e uma demanda excedente para o segmento gourmet. Atualmente, vendemos o produto em torno de US$ 5,5 mil, é difícil mensurar o que aconteceria com o mercado caso o ebola se confirme nos países produtores, seria algo estrondoso, mas espero que não aconteça porque já temos boas margens de comercialização”, diz Tavares.

Em 340 hectares, o produtor cultiva 65% da área com cacau de alta qualidade, com manejo diferenciado e custos de produção que chegam a atingir 50% do valor de venda.

Para o mercado convencional, no qual também atual, Tavares estima, apesar das especulações, a tendência otimista deve se estender até meados de 2020, com variações de alta em torno de US$ 3 mil.

 

INDÚSTRIA

Na ponta da cadeia produtiva, também já se espera um aumento do produto final, o chocolate. Durante divulgação de resultados financeiros, o executivo-chefe da Nestlé, Paul Bulcke, destacou que a companhia está em alerta com o surte de vírus nas regiões produtoras de cacau. A Nestlé não possui fábricas em Serra Leoa, Guiné ou Libéria, mas tem ajudado a Cruz Vermelha com doação recente de 100 mil francos suíços (US$ 106 mil), para evitar que a doença atinja Costa do Marfim e Gana.

 

Fonte: DCI 

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